20 maio 2015

O Terceiro Ato: O Ataque

Chega.

Seu protagonista já sofreu o suficiente. Chegou no seu limite. Se passar desse ponto e não houver uma nesga sequer de esperança, ele vai quebrar. Vai enlouquecer. Vai desistir. E com ele, sua história. Algo deve acontecer no Ponto Intermediário, que encerra o Segundo Ato, que promoverá uma mudança em sua atitude. Pode ser uma nova informação importante, o descobrimento de uma arma especial, ou até mesmo uma epifania. Mas é preciso dar algo para que ele consiga se reerguer. Que possa voltar a lutar. Sair da defensiva e partir para o ataque.

Isso significa o fim de seu sofrimento? Claro que não. Ainda haverá dor, sacrifício e desespero pela frente. A diferença é que agora o protagonista não está apenas respondendo aos dramas que são atirados em sua direção. Agora ele está agindo, lutando pela resolução da trama, para encerrar a jornada de uma vez por todas, para o bem ou para o mal. Não será um caminho fácil. O antagonista irá sempre tentar reverter a situação, e na maioria das vezes será bem sucedido em seu intento. Mas o protagonista já saiu das cordas e há uma esperança, por menor que seja, de virar o jogo.
A diferença clara entre o segundo e o terceiro ato é postural. No segundo ato seu protagonista é apenas humano, reagindo e respondendo aos problemas e tragédias que são atirados em seu caminho. No terceiro ato ele deixa de ser um mero espectador e se torna um agente modificador da trama. Suas escolhas e atitudes devem refletir isso. Ele pode até morrer no processo, mas não será uma vítima. Ele será um herói.
Quando digo um "herói", não é no sentido cartunesco do arquétipo. Pode até ser, mas não se limita a essa definição. Ele não precisa ser um super-herói. Nem mesmo um herói para a humanidade. Talvez não seja um herói para ninguém além de si mesmo. Mas ele precisa ser um herói para a sua trama, para a jornada que está inserido, seja ela qual for. Um protagonista não pode ser uma mera testemunha. Ele deve ser o responsável direto pela resolução da trama, que ocorrerá no próximo ato. E para isso deverá superar seus próprios medos, traumas, demônios interiores, além de todas as dificuldades que são atiradas contra ele.

E haverá dificuldades. Aproximadamente no meio do terceiro ato deverá acontecer o Segundo Ponto de Pressão. Da mesma maneira que o primeiro, no ato anterior, algum evento acontecerá que irá relembrá-lo da presença do antagonista, e o que está em jogo no caso de uma derrota definitiva. Mas, diferente do primeiro ponto, que é uma fonte de desespero, desta vez essa pressão deverá motivá-lo. A água está batendo na sua bunda. Não há mais tempo para dúvidas. É hora de agir.

E perder novamente.
Neste momento pode acontecer o que eu chamo de uma cena "Tudo está perdido" (ou, em bom latim: "Fodeu, galera!"). Os planos deverão ser frustrados pelo antagonista, aparentemente eliminando toda e qualquer esperança de resolução.  Nada mais resta além do desespero. Todas as tentativas anteriores deram com os burros n'água. A derrota final é inevitável. Vamos todos morrer. Me abraça.
MAS (e sempre tem um "mas"), caso você tenha feito direitinho sua lição de casa, terá espalhado pistas por todo os atos anteriores. Pistas de uma resolução para aquele problema aparentemente insolúvel. Pistas que, combinadas, criam um fiapo mínimo de esperança. Um último torpedo, disparado por um fazendeiro que costumava caçar ratos Womp na juventude em Tatooine, e treinado por um velho cavaleiro Jedi, que deverá acertar uma saída de exaustão de apenas dois metros de diâmetro e detonar a Estrela da Morte. Um plano insano, improvável, contra todas as probabilidades de sucesso. Mas também a última esperança. É em torno deste plano que ele deverá juntar suas últimas forças, jogar suas últimas fichas. Deverá juntar toda informação relevante que puder, cada artefato ou aliado que tiver disponível. É tudo ou nada.
Esse plano desesperado deverá se tornar claro no Segundo Ponto de Virada, onde algum evento ocorrerá e dará ao protagonista os subsídios para sua execução. É a última chance de inserir algum fator importante à trama, uma informação relevante ou mesmo algum elemento novo. O ideal é que este novo elemento surja em consequência dos outros apresentados anteriormente, ou que seja uma soma deles.

Este ponto irá encerrar o terceiro ato e pavimentar o caminho para o quarto e último ato: a Resolução.

Mas isso é assunto pro próximo artigo.

Até lá.


Este artigo é o nono de uma série sobre a aplicação de metodologias no processo de escrita. O primeiro pode ser lido aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui, o quarto aqui, o quinto aqui, o sexto aqui, o sétimo aqui e o oitavo aqui. Continuem ligados para ler os próximos. 

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