29 maio 2007

Prêmio de Consolação à Fidelidade

Para compensar minha ausência para meus poucos (mas queridos) leitores, segue abaixo uma maneira simples de descontar as frustrações, principalmente quando o alvo é assim tão específico:


10 maio 2007

After After Darwin

Ontem fui junto com a Cristina Lasaitis assistir à leitura da peça After Darwin, que estreará em breve, junto com a exposição de mesmo tema que será inaugurada no MASP.

A peça realmente promete. Didática e divertida, usando e abusando de metalinguagens e de atuações por vezes um pouco over, mas nada que estrague. O mais interessante é que o texto instiga discussões acaloradas e diversas, tais como os limites da ética, da intervenção teológica em contraponto com a visão científica, do fatores socio-culturais e além. Quando estrear, não percam.

O chato aconteceu depois. Fui idiota e muquirana o suficiente para deixar meu carro na rua. Todos que moram nesta cidade desgraçada sabem que deixar o carro na região da Paulista é no mínimo certeza de dor de cabeça. Claro, eu não fugi do clichê. Assim que entrei no carro notei que algo estava muito errado. Porta-luvas escancarado, todo seu conteúdo espalhado pelo carro, os bancos bi-partidos deitados, as tranqueiras do porta-malas espalhadas, coisa e tal. Estranhei que o rádio ainda estava lá (eu tinha levado a frente comigo). Liguei o carro e saí dali. Só fui fazer um inventário preciso mais tarde. E, para minha total e completa surpresa, descobri que as únicas coisas que estavam faltando no carro eram os dois exemplares da Coleção Necrópole que eu sempre carrego comigo para casos de necessidade (tipo alguém não acreditar que sou escritor).

Então você, ladrãozinho mequetrefe desta cidade maldita, caso um dia chegue até este meu blogue, saiba que tenho esperanças que você ao menos tenha roubado estes livros pois se interessou pelo conteúdo, e não com o intuito de trocar por pedras numa boca do lixo qualquer. Não tenho ilusões que minha obra irá despertar uma reação catártica ou uma epifania qualquer em sua cabeça limítrofe, mas torço veementemente que estes sejam apenas os primeiros de muitos livros que você lerá, e que este hábito se entranhará em sua rotina diária e transformará sua vida de tal maneira que você nunca mais necessitará arrombar e invadir a propriedade alheia atrás de alguma coisa qualquer que, espero, servirá apenas para aplacar algum tipo de desespero primal.

E já considere-se convidado para o lançamento de meus próximos livros. Pode ir. Faço questão de te dar um livro autografado DE PRESENTE. Não é armadilha, não. É sério.

Te espero lá.

09 maio 2007

Papa-gaiadas

Em homenagem à chegada do Nazi-Papa em terras tupiniquins, republico aqui um texto que escrevi na ocasião de sua eleição.

Ah, caso ninguém se lembre (faz tempo...) o nome de batismo de Palpati... quero dizer, Bento XVI é Joseph Ratzinger.

Dito isso, o texto:

O Conclave

© Alexandre Heredia

O velho cardeal recebeu o último voto. Sentia as juntas doloridas, mas sabia que precisava terminar o serviço. O mundo, afinal de contas, estava aguardando por um novo Papa. Leu a cédula, e finalizou a votação.

- Que Sua Eminência, o Cardeal da Inglaterra, se apresente.

Um surpreso cardeal inglês se ergueu. Chegou a ser empurrado em direção ao púlpito. Claramente aquela não era uma posição desejada, mas infelizmente era necessária, principalmente naquele período negro para a fé cristã que era esse início de milênio. Além disso, o próximo Papa teria como concorrente forte a imagem carismática do antecessor. Era como ser o último a se apresentar em um Concurso de Talentos, logo depois de um mágico. Nunca iria agradar.

O inglês sentou-se na cadeira em frente ao púlpito. Um bispo cansado aproximou-se. Em suas mãos, sobre uma almofada de veludo, o Chapéu. Se assemelhava a um chapéu de Papa, mas era velho e gasto. Também era a última prova.

O chapéu foi colocado com reverência sobre a cabeça do candidato. Um silêncio sepulcral se abateu por toda Capela Sistina, quebrado apenas pela tosse discreta de algum cardeal. Passaram-se um, dois minutos e nada. Até que finalmente ouviu-se um murmúrio. O chapéu tremeu de leve ao ser finalmente possuído pelo Espírito Santo. Faltava apenas uma coisa para que o novo Papa fosse escolhido. Todos, indiscriminadamente, aguçaram seus ouvidos.

- Sonserina! - gritou o chapéu. Vários se assustaram com o tom imperativo, mas logo em seguida alguns chegaram a rir.

O velho cardeal que presidia a votação desabou na cadeira. Com um gesto ordenou que o capelão entrasse e pediu-lhe que acendesse a fumaça preta. Em seguida, pediu aos presentes que iniciassem uma nova votação.

Os procedimentos se repetiram. Os votos foram escritos, recolhidos e contados. Novamente, o velho cardeal se dirigiu aos presentes.

- Que Sua Eminência, o Cardeal do Brasil, se apresente.

Desta vez o cardeal eleito levantou-se rapidamente. Um sorriso estúpido estampava seu rosto, mas era algo que indubitavelmente trazia simpatia. E simpatia, pensou o velho cardeal, era algo que a Santa Sé precisava nestes tempos conflituosos.

O cardeal brasileiro sentou-se, e novamente o chapéu foi colocado. Novo silêncio, nova expectativa, até que, de repente, o chapéu começo a murmurar:

- Paaaaaaa...

O velho cardeal suspirou. Só mais uma sílaba igual a essa, pensou, e o trabalho estava feito. Era visível na expressão de todos a mesma esperança. Ninguém lá era mais jovem, precisavam descansar, voltar a sua rotina, e aquele conclave estava demorando mais que o necessário. Mas precisavam ter certeza.

- Paaaaaaa... - continuou o chapéu, até que, finalmente – Paaaaaaamonha! Paaaaamonha! Pamonha de Piracicaba! É o puro creme do milho...

Desta vez ninguém entendeu nada. Que versos estranhos eram aqueles? Só compreenderam que não era um sinal de divindade quando o próprio cardeal brasileiro retirou o chapéu e voltou ao seu lugar, um pouco encabulado.

- Isso não está funcionando – declarou o velho cardeal, já irritado. - Este chapéu está com problemas. Sugiro que não o usemos mais. Ao invés disso, oremos para que o Espírito Santo nos ilumine e nos dê um sinal.

Todos aprovaram a sugestão. Aquilo estava realmente cansando. Simultaneamente eles fecharam os olhos, baixaram a cabeça e juntaram as mãos. Oraram em silêncio, os ouvidos atentos a qualquer distúrbio que pudesse indicar um sinal de Deus.

Subitamente, o salão da capela foi inundado por notas musicais. A prece parou, todos olhando em volta, meio embasbacados, pois não viram ninguém sentado na banqueta do imenso órgão. Mesmo assim o ar era expelido por seus tubos em notas claras. Em seguida, uma voz doce e profunda tomou o ambiente.

“And now, the end is near;
And so I face the final curtain.
My friend, I’ll say it clear,
I’ll state my case, of which I’m certain.“¹

Alvoroço. Estaria o conclave sendo visitado por anjos? Seria esse o sinal que todos esperavam?

“Regrets, I’ve had a few;
But then again, too few to mention.
I did what I had to do
And saw it through without exeption.“²

Não havia mais como manter a ordem. A voz, antes um murmúrio distante, agora utilizava a concha acústica da capela em sua plenitude. Todos, sem exceção, procuravam a fonte daquela voz misteriosa.

“Yes, there were times, I’m sure you knew
When I bit off more than I could chew.
But through it all, when there was doubt,
I ate it up and spit it out.
I faced it all and I stood tall;
And did it my way.”³

Sem ser convidado, um rato enorme escalou a mesa, parando sobre as patas traseira na frente do velho cardeal. A voz saía potente por entre seus dentes protuberantes, mais forte do que seus pequenos pulmões poderiam suportar, mas sem dúvida era ele o cantor daqueles versos.

Foi o cardeal americano que finalmente elucidou o mistério. Não que fosse uma explicação muito convincente, mas sem dúvida respondia a mais de uma dúvida:

- Look! It's a rat singer! - e repetiu - A Rat Singer!

Os versos terminaram imediatamente, assim como os sons do órgão. Antes que os últimos ecos se dissipassem o rato fugiu, desaparecendo por uma fenda no mármore. O silêncio voltou à capela.

- Habemos Papam – declarou o velho cardeal, chamando com um gesto impaciente o cardeal alemão. Iniciou uma prece, mas no fundo ficou o gosto amargo da impressão que, por mais que a questão tivesse sido resolvida, uma coisa era bastante clara:

A infâmia estava de volta à Igreja.


¹ “E agora, o fim está próximo; E então eu encaro a cortina final. Meu amigo, eu direi isso claramente, Apresentarei meu caso, do qual estou certo.“

² “Arrependimentos, eu tenho alguns; Mas de novo, muito poucos a mencionar. Eu fiz o que tinha de fazer, E perseverei sem exceção.”

³“Sim, houve um tempo, Tenho certeza que você sabe; Quando eu mordi muito mais do que poderia mastigar. Mas mesmo assim, quando havia dúvida, eu engoli e cuspi. Eu encarei, e permaneci de pé. E fiz isso da minha maneira.”
(Trechos de “My Way”, de Frank Sinatra)

02 maio 2007

Antes um Tremendão do que um Tremedo Bundão

Engraçado como às vezes um fato aparentemente banal pode gerar impressões tão diferentes.

Ontem assisti a um trecho da entrevista do Erasmo Carlos (sim, ele tem um site oficial que é uma brasa, mora?) no desgastadíssimo Programa do Jô e, vendo aquela aparência abatida, meio demodê, meio desgastada, perdida num paradoxo de si próprio, pensei cá com meus zíperes e botões: "Quero ser um velho assim!".

Sei lá, achei aquela imagem carregada, pesada do ídolo de outrora algo a ser venerado. Claro, ele tem seus problemas, carrega o fardo de ser uma auto-paródia pelo resto da vida, essas coisas. Mas a gente sabe que cada ruga, cada olheira, cada fio branco teimoso daquela cabeleira ainda rebelde conta uma história. Muitas. Com certeza está aí um cara que viveu, que não deve se arrepender de nada do que fez, mesmo quando cagou, quando errou, quando se estrepou. E eu respeito isso. Muito mais do que sua contraparte perneta e perseguidora de biógrafos, sem sombra de dúvida.

Eu nem ia escrever nada a respeito, confesso. Mas daí vi esse pôste lá no Jesus Me Chicoteia e senti um impulso de defender o Velho Tremendão, mesmo nunca sendo grande fã de sua música e nem mesmo de sua pessoa. Sei lá, achei a argumentação do Marco Aurélio meio fraca, meio superficial, completamente coxinha. Claro, são opiniões diversas vindas de pessoas (imagino) também bastante diferentes.

Mas eu não seria eu se não me expressasse.