13 setembro 2013

Jurandir


Nunca chamei Mãe de “maínha”. Nem de “mãezinha” nem de “mamãe”. É só Mãe mesmo, substantivo próprio, com inicial maiúscula e tudo o mais. Construiu sua força com muita bordoada que levou da vida. Mas nunca caiu de cabeça baixa. Engoliu orgulho e lágrimas junto com farinha de rosca, por muitas vezes a única coisa que sobrava pra comer. Chicão, o marido dela, fazia uns bicos na padaria. Trazia pão velho todo dia. De vez em quando alguma mistura. Lascas de queijo, mortadela e presunto que ele juntava dos lados da fatiadora. O dono da padaria não gostava que ele fizesse aquilo. Dizia que não era higiênico, essas coisas. Agora a gente tem que morrer de fome pra não correr o risco de ficar doente? Tinha dia que ele trazia um requeijão que tinha vencido fazia pouco tempo e que iam jogar fora. Dia de Requeijão era uma alegria. A Maninha adorava. Tão bonitinha era a Maninha. Mesmo magrinha e frágil que nem um pardal, ainda mantinha as bochechas do tempo de nenê. E aquele sorriso cheio de esperança inocente. Saudades daquele sorriso.

A Mãe e o Chicão viviam brigando. Lembro-me de quase todo santo dia ver Chicão berrando e esperneando, enquanto a Mãe só ficava parada, os braços cruzados, falando pouco, mas com a firmeza de um pilão. A briga sempre terminava com Chicão saindo pra gastar o resto dos trocados com cachaça. Tinha que implorar, se desculpar, se humilhar pra voltar. A Mãe nem sempre perdoava. Chicão já teve que dormir no relento mais de um par de vezes. De manhã ela o acordava com um copo de café e muito silêncio. No final faziam as pazes antes mesmo dele sair pro trabalho. De noite começava tudo de novo.

Um dia a briga foi feia e ele não voltou. Na primeira noite ela não disse nada. Só mandou a Maninha calar a boca quando começou a reclamar de fome. Comemos um resto de pão seco e fomos dormir. Na segunda noite não tinha nem resto de pão, nem nada pra comer. Fomos dormir bem cedo pra tentar esquecer a fome. No meio da noite a Maninha começou a ter uma tremedeira na cama. A Mãe olhou pra ela, botou a mão na testa e falou pra eu cuidar dela que ela ia arrumar leite com alguém, que a Maninha estava muito fraca e que eu não devia deixar ela dormir de jeito nenhum. Foi difícil. Tive que dar uns tapinhas e uns beliscões nela pra conseguir. Ela não tinha força nem pra chorar. A Mãe apareceu com meio copo de leite e deu pra ela. A tremedeira diminuiu, mas ela continuava pálida. Velamos por ela a noite toda. Logo de manhã a Mãe me pediu pra ir até a venda e trazer alguma coisa pra ela comer. Qualquer coisa. Faz fiado, mendiga. Mas traz comida pra essa menina. E eu fui. Entrei na venda, peguei pão, queijo, presunto e leite. Coloquei no balcão e pedi pro Portuga fazer fiado, que o Chicão depois pagava. Ele disse que a conta do Chicão estava grande demais e que não ia fazer fiado coisa nenhuma enquanto ele não pagasse pelo menos uma parte. Pedi por favor, contei que minha irmã estava morrendo de fome, mas ele não cedeu. Até me enxotou pra fora da venda. 

Fiquei desesperado. Não tinha mais ninguém pra recorrer. Comecei a implorar por uns trocados pra quem passava na rua, mas a maioria ou me ignorava ou pedia desculpas com uma cara de piedade falsa. Você sabe como, não sabe? É, a gente também sabe. Aquilo foi subindo meu sangue, me dando uma raiva. Eu não estava pedindo muito. Só queria uns trocados pra comprar comida pra minha irmã não morrer de fome. Mais nada. Mas ninguém tinha nada. Estavam todos atrasados. Não era irmã deles. Um menino forte como você não devia estar mendigando. Devia estar na escola ou trabalhando. Eu estava na escola. A Mãe nunca me deixava faltar. Não estava lá naquele dia porque era uma emergência. Não quero sua piedade. Não quero lição de moral. Quero sua ajuda, pelo amor de Deus!

Daí eu vi entrar na venda uma menininha de uns nove ou dez anos. Um pouco mais velha que minha irmã. Entrou sozinha e saiu logo depois com um saco de compras. Fui atrás dela, na esperança de que uma criança ainda tivesse um coração caridoso. Ou que fosse mais fácil de roubar. Esperei ela chegar numa rua mais vazia e parei na sua frente. Ela se assustou e nem me ouviu. Agarrou o saco de compras e começou a gritar. Tentei arrancar o saco de compras e sair correndo, mas ela estava tão agarrada que não consegui de primeira. Ela continuou gritando. Dei um tapa na cara dela e mandei calar a boca. Só piorou. Ela começou a chorar e a espernear. Tentei tapar a boca dela com a mão, mas ela me mordeu. Tive que bater forte na cara dela pra ela soltar. Ela soltou e caiu no chão, toda torta. Bateu a cabeça e apagou. Lembro que começou a sangrar na calçada. Fiquei um segundo indeciso se a ajudava ou se pegava as compras que tinham se espalhado no chão, quando ouvi alguém gritar. Saí correndo. Fugi mesmo. O que mais eu podia fazer? Quando eu vi tinha dois guardinhas me perseguindo. Levei um tempo pra despistá-los, e tive que ficar escondido enquanto me procuravam. Só consegui voltar pra casa era mais de meio dia. 

Cheguei e a Mãe não estava lá. Fui até o quarto e encontrei minha irmã esparramada de cara no chão. Corri até ela e deitei-a no meu colo. Ela mal respirava, mas quando conseguiu foi só pra sussurrar uma palavra: “Fome”. Foi a última palavra que ela disse. Tentei não deixá-la dormir, sacudi, bati em suas bochechas, berrei. Não adiantou. Quando a Mãe chegou, eu ainda estava chorando com ela no colo. Ela esfregou minha cabeça e pegou o corpinho de mim. Ajeitou seu cabelo e ninou a filha como se ela estivesse dormindo. Cantou pra ela. Por um instante acreditei que aquela canção iria trazer minha irmã de volta à vida. Juro que acreditei. Mas não funcionou. Não funcionou.

Maninha morreu.


A Mãe aguentou firme a provação de enterrar a caçula. No final perdoou Chicão, afinal ele também tinha perdido a filha. Ao invés de afastar, a dor os uniu mais ainda. Passado o luto, Chicão parou de beber e se endireitou. Entrou para uma igreja e renasceu em Cristo. Arrumou um emprego melhor. Botava dinheiro em casa e sempre trazia comida. Pouca coisa, mas já dava pra sobreviver. Ele e a Mãe quase não brigavam mais. Entre eles, porque comigo brigavam o tempo todo. Por causa de minhas notas na maioria das vezes, mas muitas vezes por qualquer motivo besta. Chicão vivia me chamando de “desocupado”, “inútil”, dizia que já que eu não ia me esforçar nos estudos, então eu tinha que sair da escola, arrumar um emprego, botar comida em casa. Mas a Mãe não ia permitir isso. Queria um futuro melhor para o filho. Pra que eu não passasse pelo que ela passou. Ela me dizia isso pra cada nota vermelha que eu tirava. E eu a amava por isso. Mas ao mesmo tempo eu concordava com o Chicão. É legal pensar no futuro, mas e se a fome chegasse antes do futuro? Ela já tinha feito uma vítima na família. Eu precisava ajudar. Já tinha idade. Depois eu voltava para a escola. Quando eu pudesse parar de pensar só no presente.

Eu tinha recém completado dezesseis anos quando veio a bomba: a Mãe estava grávida. Chicão comemorou como se fosse final de campeonato. Gritou aleluias pro céu e agradeceu sua bíblia surrada às lágrimas. A Mãe parecia feliz, mas era aquela felicidade culpada, como se fosse uma ofensa a Deus não ficar feliz com o nascimento de uma criança. Eu sabia o que ela estava pensando. Era mais uma boca. Mais uma despesa que teriam que arcar. Chicão estava melhor, mas não o suficiente pra sustentar de novo três pessoas. Ela já tinha perdido uma filha. Pela primeira vez vi a Mãe fraquejar. Foi só um instante, mas havia uma rachadura. Uma falha que poderia ruir toda sua fortaleza meticulosamente construída. Eu vi, e sei que ela viu que eu vi. Tanto que a primeira coisa que ela me disse quando fui cumprimenta-la foi para que eu não saísse da escola. Me fez prometer. E eu prometi.

Naquela noite o Chicão veio falar comigo. Falou um monte de abobrinha sobre Jesus e Deus, e umas coisas de desígnios divinos e de redenção. Disse que até já tinha conseguido arrumar um emprego pra mim junto com o pessoal da igreja, mas que a Mãe não tinha permitido. E nunca iria permitir. Não enquanto eu não me formasse. Ouvi sem retrucar, pois eu sabia que ali vinha bomba. E não deu outra. O desgraçado encontrou um jeito de botar em mim a culpa pela morte de minha irmã, e que ele não ia permitir que acontecesse a mesma coisa com seu próximo filho. Disse que naquela casa a partir de agora só teria comida para eles e para o bebê. Que o melhor pra todo mundo seria que eu fosse embora e me arrumasse sozinho. Disse que até pagava a passagem, desde que eu não dissesse nada pra Mãe.

Eu sabia que ele tinha razão. Não dava mais pra adiar. Depois que todo mundo foi dormir eu juntei minhas coisas, peguei o dinheiro que o Chicão me deixou e parti pra capital. Deixei uma carta pra Mãe, mesmo sabendo que aquilo não me redimiria. Prometi que um dia eu voltaria com um canudo debaixo do braço e dinheiro no bolso. Que ia ajudar ela a sair daquela situação. 

Mas eu sabia que era tudo mentira. 

Porque eu descobri da pior maneira que na cidade a vida pode ser muito pior. Muito mais perversa. Não interessa o quanto você queira, o quanto você reze, o quanto se esforce. Cada degrau que você sobe, escorrega outros dois. Aqui não dá pra subir sem ajuda. Sem uma mão amiga que, mesmo não conseguindo me puxar pra fora do poço, me ajude a evitar que eu caia no fundo dele. Pra escuridão da fome. Para um túmulo de promessas vazias e orgulhos dilacerados. 

Eu só queria poder voltar pra casa. 

Tem um trocado?

--
O texto acima é um estudo para um personagem que precisei construir como parte do Curso de Teatro que estou fazendo no Espaço Recriarte.

28 agosto 2013

Egolatria vs. Conteúdo



Este texto é uma resposta à malfadada matéria no caderno de Cultura do Globo com o autor e editor Raphael Draccon, onde ele professa o fim dos autores "reclusos" (ou seja, sem presença online) e solta pérolas como:

"É preciso que sua história de vida e sua personalidade sejam tão impactantes quanto a fantasia que você criou."
"Esse autor introspectivo, que passa o dia dentro de casa escrevendo, não existe mais. Rubem Fonseca, hoje, não seria publicado. Ele é de outra escola, outra época."
"Se o cara ainda não chegou até mim, é porque ele não está pronto para o mercado."
"Fazemos uma varredura da vida online da pessoa. Se houver um post sequer dela falando mal de outro autor ou comprando briga na internet, ela é cortada na hora."

Traduzindo, autor que "perde tempo" se especializando, escrevendo, revisando, TRABALHANDO, não será um sucesso. Quiçá publicado. E mesmo que ele saia de seu casulo hermético e se arrisque nas trincheiras do mercado editorial, não pode falar mal, não pode arrumar briga com outros escritores. Tem que ser "bom moço", mesmo que isso deponha contra a sua credibilidade ou com a sua ética.

Ou seja, autores como o citado Rubem Fonseca, ou Ernest Hemingway, ou F. Scott Fitzgerald ou Dalton Trevisan não teriam chance hoje em dia, pois são "de outra escola", ou reclusos demais. Ou Bukowski, Fante, Céline, Burroughs, entre outros, por serem "brigões" demais, especialmente com os outros autores.

Outra escola, outro tempo. Qualidade de um autor hoje em dia se mede pela quantidade de seguidores no Twitter ou amigos no Facebook. Que trata qualquer excrecência verborrágica como obra de respeito, apenas para não arrumar briga. Que não se preocupa com a qualidade do texto, mas em publicar, o mais rápido possível, e angariar fãs. Sim, fãs, pois autor moderno não precisa de leitores, mas de uma legião de fanáticos descerebrados defendendo seu objeto de adoração com ferro e fogo. Aliás, nem sei porque me preocupei em citar os autores lá em acima. Autor hoje em dia não lê. No máximo Harry Potter. Várias vezes. Até decorar.

Mas quer saber? O Raphael tem razão. Ele foi infeliz na maneira que disse (e com certeza irá usar a carta do "fui incompreendido" para se explicar), mas no fundo ele está certo. O mercado literário dá cada vez menos atenção à qualidade do material e mais em quem está escrevendo. Ou não veríamos abominações como a "saga" Crepúsculo e "50 Tons de Marrom" (EU SEI!) vendendo que nem pão quente. Ou biografias do Edir Macedo e bobagens proselitistas do Pe. Marcelo Rossi sempre no topo dos mais vendidos das livrarias.

O leitor-consumidor compra os autores, não os livros. O conteúdo, a literatura, a qualidade da obra, é o que menos pesa na hora de escolher um livro. As editoras sabem disso. O Raphael Draccon sabe disso. Você sabe disso. O mercado editorial não é o mercado literário. É o mercado do ego, o mercado da celebridade do momento, da polêmica vazia, do bafafá, do papo de cafezinho. É isso que vende. É isso que dá dinheiro. Questionamentos? História densa? Personagens ambíguos? SEM FINAL FELIZ? Muito obrigado mas não, obrigado.

E de quem é a culpa? Não, não é do Raphael Draccon (Aliás, quem é Raphael Draccon?), que com seu ataque de egolatria imatura apenas escancarou o que já acontece por aí. É das editoras? Também não. Editoras precisam lucrar. São um negócio como qualquer outro.

Sabe de quem é a culpa? É sua. É minha. É nossa. Nós que damos asa a esse pensamento torto, comprando essas bobagens que eles empurram, buscando as famigeradas "nãotícias" dos portais de celebridades, transformando pessoas obtusas e superficiais em ideais de sucesso. Nós que deixamos de ler uma obra de qualidade apenas para comprar no lugar a bobagem que está "na moda", que está "na mídia".

É preciso largar um pouco essa postura de "consumidor de enlatados" e essa mania desesperada de "estar na onda do momento" e criar um pouco de espírito crítico. Não precisa de muito. Comprar um livro pois ele te interessou, seja no tema, seja na trama, seja porque já leu algo do autor antes e gostou. Não porque apareceu matéria elogiosa na Veja ou porque o autor é uma "celebridade". E, caso o livro não corresponda às suas expectativas, ser sincero a esse respeito. Nem é tão difícil fazer isso, garanto.

Quebrar esse ciclo é responsabilidade nossa. Se não mudarmos nossa postura e nossa atitude, no futuro  veremos muitos outros editores como o tal Raphael Draccon surgindo por aí. E nem vamos poder reclamar, ou eles irão nos tirar de suas famigeradas listinhas.

Guia para tornar o Discovery Kids um pouco mais tolerável (para os pais)

Se você é como eu, pai de uma criança de 0 a 4 anos, sabe o valor da famigerada "babá eletrônica", personificada pelo canal Discovery Kids e seus desenhos direcionados para crianças nesta faixa etária. Não interessa o quanto você evite, você vai assistir muitos dos desenhos e programas que passam 24hs por dia naquele canal. Resistir é inútil. De uma hora para outra você vai ter que trocar o episódio eletrizante de sua série favorita por um desenho coloridinho e cheio de músicas alegrinhas, que além de acalmar os ânimos do seu pimpolho, evitará que ele tenha pesadelos com monstros e assassinatos e conspirações (e nem façam perguntas do tipo "Papai, por que essa moça tá pelada?").

Não, não vou aqui dar uma fórmula mágica que o irá livrar definitivamente de ficar cantarolando o dia inteiro a música do porquinho do Hi-5 (não clique!), mas eu criei uma estratégia que, se usada corretamente, torna a experiência de assistir esses programas um pouco mais tolerável. Quem assiste esses programas sabe que, por serem direcionados para crianças pequenas (e sem um senso crítico muito apurado), a maioria das tramas é estapafúrdia e cheia de clichês, com intenção pedagógica e moral óbvia, o que torna a experiência quase excruciante para o espectador um pouco mais maduro. Mas não entre em desespero. Há uma saída.

Qual? Simples: criar subtextos para os personagens.

As histórias já são cheias de brechas para um espectador criativo. Tudo o que você precisa é prestar atenção e preencher as lacunas. Use sua imaginação e tente elaborar uma história de fundo que possa ter criado aquele universo, aqueles personagens. Crie situações que justifiquem suas personalidades e até mesmo suas aparências. E depois passe a assistir os programas com essa história não contada na cabeça.

Achou complicado? Seguem então alguns exemplos que utilizo:

Backyardigans


Os Backyardigans são cinco criaturas, antropomorfizadas em crianças, brincando em um quintal comum entre suas casas ("back yard" é quintal dos fundos, daí o nome). Lá eles se juntam em aventuras cheias de imaginação, explorando mundos e situações em aventuras imaginárias. Quem já assistiu sabe que ele até pode ser divertido, mas chega uma hora que não dá mais pra aguentar as musiquinhas. É tudo muito fofinho, muito certinho, muito pasteurizado.

E o que fazer?

Bom, eu passei a imaginar esse "mundo" criado pelos Backyardigans como uma versão do Limbo das religiões cristãs. Aquele lugar para onde vão as crianças que morreram antes de ser batizadas (já que mandar eles para o Inferno seria muita crueldade). Lá eles seriam crianças por toda a eternidade, num eterno quintal, onde com suas imaginações combinadas podem superar o tédio criando aventuras em mundos diversos, sem limitações físicas, como um Holodeck Divino, tudo sob a supervisão estrita do Todo Poderoso em pessoa.

Quem é o todo poderoso? A Uniqua, é claro. Veja: Pablo é um pinguim. Tyrone é um alce. Tasha é um hipopótamo. Austin é (eu acho) um canguru. E que diabos é a Uniqua?



De todos os personagens ela é a única (RÁ!) que não tem uma contraparte animal. E, pelo nome, remete a algo único, uno. Pronto: a Uniqua é um avatar de Deus, supervisionando o pós-vida das pobres crianças amaldiçoadas pela ausência do batismo.

Obs.: Essa teoria também ajuda a explicar por que Pablo canta o verso "Odiamos o lugar" na música de abertura.

Icônicos


Cara, esse é osso! Conta a história de Nat, um rapaz meio bobo que "inventou" uma máquina que consegue ver o "mundo dos icônicos", animais falantes minimalistas que vivem aventuras tolas. Além disso, o aparelho ainda dá a oportunidade dele trazer uma criatura de sua escolha para o "mundo real", onde resolverão juntos algum problema trivial.

E se Nat na verdade fosse um esquizofrênico visual, internado em uma cela acolchoada em um sanatório qualquer, e os "Icônicos" não passassem de suas alucinações? Perceba: Nat nunca sai da mesma sala (está preso!), não conversa com ninguém além dos icônicos que "sequestra" de seus mundos, tem problemas imaginários, que seus amigos imaginários ajudam a resolver. Assista o programa com essa ideia na cabeça e você verá que tudo faz mais sentido.

O Gatola da Cartola


Baseado no livro "The Cat in the Hat", do Dr. Seuss, o Gatola é um gato de chapéu que leva um casal de crianças em aventuras pelo mundo. Quem leu o livro sabe que o desenho é bem menos anárquico, mas mesmo assim dá pra melhorar: O Gatola na verdade é o Diabo, tentando as crianças (Nick e Sally mas imagine-os como Adão e Eva) a sair de seu mundo "seguro" (a casa dos pais, ou o Jardim do Éden) e conhecer o mundo, sempre colocando-os em diversas confusões.

Hora do Justin


Justin é um garoto que tem um amigo imaginário (Fofuxo) e uma imaginação fértil, que o leva a diversas aventuras em histórias que o fazem compreender seus problemas infantis. Ele conta com a ajuda de uma garota (Olívia), que sempre aparece quando ele entra em seu mundo imaginário.

Agora imagine o seguinte: Fofuxo na verdade era o peixe dourado de Justin, que morreu e sua mãe disse que ele tinha ido "para um lugar melhor". A mesma coisa que dizem quando falam a respeito de Olívia, primeira filha do casal que faleceu antes de Justin nascer. A mente fértil de Justin então cria seu amigo imaginário e somatiza sua irmã, de modo a fazer companhia para ele em suas aventuras fantasiosas. Tente assistir o programa de novo pensando nisso.

O Pequeno Príncipe


Esse não tem jeito. É chato demais. Desligue a TV e vá brincar de outra coisa com seu filho.


Estes são apenas alguns exemplos. Há diversos programas, e a maioria deles dão abertura para uma mente fértil e doentia como a sua para transformá-los em algo divertido. Não tenha medo de usar temas tabu ou adultos demais. Aliás, quanto mais pesado for o subtexto, mais interessante é o exercício.

Só não divida essas ideias com seus filhos! Não ainda. Deixe-os curtir sua inocência em paz. Depois, quando eles migrarem para o Cartoon Network ou Nickelodeon, pode contar. Se bobear você voltarão de vez em quando ao Discovery Kids só para brincar de "adivinhe o subtexto".

25 julho 2013

Ser Escritor

Ser escritor é...

...abrir mão de horas de sono e de lazer por conta de uma história que provavelmente ninguém irá ler ou compreender, mas que precisa escrever.

...contar os segundos através das piscadas do cursor no topo de uma página em branco do editor de textos.

...ter uma ideia para um texto genial poucos segundos antes de dormir, apenas para esquecer a ideia na manhã seguinte.

...ouvir constantemente pessoas perguntando “De onde você tira suas histórias?” e inventar uma mentira para não assumir que não sabe a resposta.

...ficar com uma ideia assombrando por dias, semanas, meses, e depois descobrir que escreveu uma coisa completamente diferente do que havia imaginado.

...perder a confiança no meio da história, se achar um idiota limitado, uma fraude, mas continuar mesmo assim.

...ser uma esponja de referências visuais, sensoriais, sinestésicas e o escambau, mas não conseguir escapar de lugares comuns e estereótipos quando necessário.

...se sentir um gênio quando termina um texto, e um asno após a primeira revisão.

...ficar com raiva e inveja pelo sucesso de "escritores medíocres", enquanto não consegue pagar nem a conta de luz do mês com os direitos autorais acumulados de um ano.

...ficar com vontade de ler enquanto está escrevendo e de escrever quando está lendo. E não fazer direito nenhum dos dois.

...cortar adjetivos e advérbios, pleonasmos e repetições, metáforas batidas, eufemismos obscuros, clichês e outras aberrações que não consegue evitar de escrever na primeira versão.

...reler um trecho que escreveu há anos e se perguntar se realmente escreveu aquilo.

...ouvir o dia inteiro que "essa história daria um livro" e refrear a vontade de responder que não, não daria.

...virar o revisor gramatical oficial da família e amigos, que subitamente têm medo de escrever até uma lista de compras perto de você.

...sofrer como um condenado por horas até encontrar a maneira correta de escrever uma ínfima frase, que provavelmente será descartada na primeira revisão.

...ver aquele texto que pesquisou por dias e demorou meses pra produzir ser completamente ignorado, enquanto aquela piada despretensiosa que escreveu no verso do saco de pão em cinco minutos ser enaltecida como uma obra de arte.

...ver essa mesma obra de arte não dar retorno financeiro nem pra comprar o pãozinho que veio no saco.

...passar o dia inteiro colecionando ideias de contos, apenas para vê-las desaparecer no momento que consegue separar um tempinho para escrever.

...perceber que escrever é um parto. E que todo parto é dolorido.

...escrever bêbado e revisar sóbrio.

...ganhar pouco, trabalhar muito e não ter o reconhecimento que (acredita que) merece.

...viver frustrado, desesperado, angustiado e endividado, mas não desistir nem por causa disso.

...escrever porque sim. Porque não consegue não escrever.


Parabéns a todos nós, escritores.

24 julho 2013

A História Até Aqui

Já se passaram 8 anos desde a primeira vez que publiquei um livro. E mais de dois anos desde que atualizei este blog a última vez. Desde então, muita água passou por baixo da ponte e muita coisa aconteceu, tanto pessoal quanto profissionalmente.

Tendo recém terminado a primeira versão de meu próximo romance (mais notícias em breve) achei que era hora de fazer um balanço. Uma de minhas primeiras atitudes foi ressuscitar este blog. Eu podia começar outro, podia inventar outra coisa, mas a verdade é que eu gosto daqui. Tem bastante coisa legal que já publiquei neste espaço (e bastante bobagem também), e eu gosto do nome. Então ao invés de reinventar a roda eu dei uma pimpada no template, um tranco na bateria e botei o bichinho pra rodar de novo.

Pretendo usar este espaço, ainda que esporadicamente, para falar sobre literatura em geral, sobre a minha produção pessoal e notícias referentes a lançamentos e outras coisas relacionadas, publicar exercícios e artigos e, principalmente, fazer algo que faz tempo tenho ensaiado: resenhas.

Sim, farei resenhas! Tentarei resenhar criticamente tudo o que lerei a partir de agora, desde lançamentos de amigos a livros aleatórios. Serão resenhas curtas, mas sinceras (e acreditem, isso não se traduz em elogios). Tentarei ler a pilha de livros que juntei nos últimos anos, tanto de amigos quanto de inimigos e desconhecidos, e farei ao menos um parágrafo avaliando a obra criticamente, com a minha cordialidade habitual (e, acredite, isso NÃO SE TRADUZ EM ELOGIOS). Cabeças vão rolar, nem que seja de rir.

Passei 5 anos escrevendo um livro que me tomou toda capacidade criativa e me exauriu em diversos sentidos. Aos poucos vou retomando. Ainda estou sacudindo as cracas e borrifando WD-40 nas juntas. Desculpe o barulho.

Se você já é meu(minha) leitor(a), você já conhece as regras. 

Pra quem não me conhece, saiba apenas de uma coisa: Não há regras.

Caso goste do que leu aqui e quiser saber um pouco mais, segue abaixo uma lista de tudo o que já publiquei até agora.

Bem vindos de volta. Apreciem sem moderação.

Beijos,
Alexandre Heredia

Romances

Legado de Bathory

Lançamento: 2010

Sinopse:
Hungria, 1938. A Europa se vê sob a ameaça de uma nova Grande Guerra e acompanha atenta os primeiros avanços de Hitler. É neste cenário conturbado que Yara Ladányi mergulha ao vir do Brasil para o funeral de seu pai, que foi assassinado brutalmente em sua casa em Budapeste. Suspeitando que a morte envolva fatos misteriosos e não explicados pelas autoridades, ela inicia uma investigação independente, tendo por base um documento antigo enviado a ela por seu pai pouco antes de seu assassinato. Contando com a ajuda de Laszlo Raduczi, professor de História e genealogista, Yara embarca em uma conspiração regada a sangue e morte, na qual a dupla é perseguida continuamente por uma figura assustadora. Enquanto encaram esses acontecimentos, os dois precisam ainda desvendar o estranho documento que os leva a uma exploração da história da infame Condessa Elisabeth Bathory.

Onde Comprar:

     

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Predadores

Lançamento: 2010

Sinopse:
Dante é um repórter da noite em busca de realização profissional e pessoal. Eva é uma promotora de casa noturna atrás de exposição.
Ian é um executivo recém-divorciado em crise de meia-idade tentando recuperar a juventude perdida.
Pessoas comuns com histórias diversas que se entrecruzam no Vrykolakas, uma casa noturna no centro de São Paulo, repleta de perigos ocultos sob as luzes e a badalação, enquanto Radu, o enigmático proprietário da casa, testa os limites morais e éticos de cada um para descobrir até que ponto eles estão dispostos a chegar para concretizar seus objetivos. Um jogo maquiavélico e macabro em que até os vencedores terão que abrir mão da própria alma. Uma história atual que mistura vida, ambição e morte, com altas doses de sensualidade, em uma trama com a qual muitos irão se identificar. Para o bem ou para o mal. Afinal, quem poupa esforços para realizar seus maiores desejos?

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Emboscada

Lançamento: 2010

Sinopse:
Um ano se passou desde os acontecimentos narrados em Predadores quando novas mortes começam a acontecer em São Paulo. Jovens de classe baixa são brutalmente assassinadas, deixando em seus corpos a única assinatura do carrasco: gargantas destroçadas a dentadas. O repórter policial Nicolau Masieski é incumbido da investigação dos crimes desse novo assassino em série. Suas pistas o levam a Dante,talvez a única pessoa a saber a verdade sobre os crimes. Mas será que o ex-repórter, agora traumatizado e paranóico, realmente sabe alguma coisa ou está apenas delirando com teorias da conspiração? Contando com a ajuda de Aline, uma pouco ortodoxa promotora do Vrykolakas, uma casa noturna no centro de São Paulo, repleta de perigos ocultos sob as luzes e a badalação, eles irão chegar ao limite de sua sanidade para tentar desenlaçar essa teia macabra, cuja figura central é Radu, o misterioso proprietário do Vrykolakas.
O que espreita em nossas esquinas? Nada além do mal que sempre esteve lá. Ou dentro de cada um de nós.

Onde Comprar:

     

E-Book:

Participação em Coletâneas:

Necrópole - Histórias de Vampiros
Autores: Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Gianpaolo Celli, Giorgio Cappelli, Richard Diegues

Lançamento: 2005

Conto: "O Edifício"



Onde Comprar:


 




Necrópole - Histórias de Fantasmas
Autores: Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Dóris Fleury, Gianpaolo Celli, Giorgio Cappelli, Marcelo Amado, Richard Diegues



Lançamento: 2006

Conto: "Catarse"

Onde Comprar:


   




Necrópole - Histórias de Bruxaria
Autores: Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Eric Novello, Gianpaolo Celli, Nazarethe Fonseca, Richard Diegues



Lançamento: 2007

Conto: "Cândido"

Onde Comprar:

    


   




Visões de São Paulo - Ensaios Urbanos
Autores: Alexandre Heredia, Andre Vianco, Andrei Puntel, Camila Fernandes, Carlos Orsi, Carolina Freitas. Claudinei Vieira, Cristina Lasaitis, Daniela Fernandes, David Polizelli Hoffmann, Denise Martins Guimarães, Dóris Fleury, Déia Batista, Eduardo Baszczyn, Fernando Alonso Moyses, Fernando David, Fernando de F. L. Torres, Fábio T. Torres, Gianpaolo Celli, Gilmar Silva "Lewd", Giorgio Cappelli, Heloisa Pait, Iuri Ribeiro, Jean Canesqui, Leonardo Pezzella Vieira, Liz Marins, Luis Vassallo, Marcelo Ferrari, Marcelo Del Debbio, Mauricio Zampieri Mikola, Mauro Caramigo, Melissa Mell, Nelson Botter, Nelson Magrini, Patricia Soares, Paulo Castro, Pedro M. S. Oliveira, Raul Tabajara, Richard Diegues, Roberta Nunes, Rodrigo Venkli, Rogério Augusto, Rosana Braga, Sandra Saruê, Sergio J. G. Silva, Tati Bernardi, Tatiana Carlotti, Valter Goulart, Verônica B, William Goldoni



Lançamento: 2007

Conto: "Vira-latas"

Onde Comprar:


       
 







Folhas de Espantos
Autores: Albert e Mariana, Alexandre Atayde, Alexandre Heredia, Ana Carolina Giorgion, Andréa F. Bertoldo, Celso Pereira, Eduardo Rodrigues, Fábio Oneas, Fábio Pietro, Fernanda Ferreira, Francis F. Pires, Georgette Silen, Georgette Silen, Geralda Aparecida, Igor Martins, Rafael Gomes, Walter Moreno, Willian Aparecido



Lançamento: 2008

Conto: "A Última Pena"

Onde Comprar:

 


   
Imaginários vol. 2
Autores: João Barreiros, Saint-Clair Stockler, Jorge Candeias, Alexandre Heredia, Eric Novello, Sacha Ramos, Luís Filipe Silva, Tibor Moricz, André Carneiro



Lançamento: 2009

Conto: "O Toque Invisível"

Onde Comprar:


    



   

Mecanismos Precários
Autores: Ábia da Silva Gomes, Alexandre Heredia, Claudio Brites, Edson Cruz, Eduardo Sigrist, Laura Fuentes, Marcelino Freire, Marcos Roma, Nelson de Oliveira, Nelson Lourenço, Patricia Cytrynowicz, Ricardo Delfin, Tiago Araújo, Valéria Piassa Polizzi, Deborah Panachão, Luís Marra e Marcelo Maluf



Lançamento: 2009

Conto: "Simpatia"

Onde Comprar:


     



 

Le Monde Bizarre - O Circo dos Horrores
Autores: A. Z. Cordenonsi, Alexandre Heredia (convidado), Celly Borges, Duda Falcão, G. Araújo, Iam Godoy (convidado), João M. S. Rogaciano, Kássia Neves, Lucas Lourenço, M. D. Amado, Pedro de Almada, Rafael Sales, Rochett Tavares, Valentina Silva Ferreira



Lançamento: 2012

Conto: "Freak"

Onde Comprar:


 


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Paradigmas Definitivos
Autores: Cristina Lasaitis, Richard Diegues, Alliah, Jacques Barcia, Saint-Clair Stockler, Camila Fernandes, Adriana Rodrigues, Ronaldo Luiz Souza, Ubiratan Peleteiro, Flávio Medeiros, M.D. Amado, Ludimila Hashimoto, Sandro Côdax, Gianpaolo Celli, Alexandre Heredia, Leonardo Pezzella Vieira, Rober Pinheiro, Carlos Abreu, Gabriel Boz, Bruno Cobbi, Hugo Vera, Viviane Yamabuchi, Osíris Reis



Lançamento: 2012

Conto: "O Cegonho"

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