29 maio 2008

Gente estranha

Sempre me considerei um cara esquisito.

Não acho isso nenhum demérito. Ser normal é chato. Maçante. É legal ter consciência que ninguém sabe como você reagirá a determinado estímulo. Essa imprevisibilidade das pessoas estranhas é o que nos dá nosso maior charme.

Claro que, sendo um auto-proclamado estranho, poucas coisas deveriam me surpreender. Nada mais distante da realidade. Sempre que penso ser um cara muito estranho aparecem umas figuras que jogam minhas expectativas por terra.

Por exemplo: o que leva uma criatura a perder tempo útil criando um BIFE DE PAPEL?


É isso mesmo, um bife, com prato, garfo e faca, feito inteiramente de papel, como naquelas dobraduras que vinham antigamente nas caixas de sucrilhos. Tanta coisa interessante e divertida pra fazer e os caras perdem tempo com um BIFE?!?

E o pior: ficou legal. Claro, você achava sinceramente que eu não ia fazer uma coisa destas? Ficou bom mesmo. Como diria Obelix: Esses japoneses são uns loucos.

Quem quiser fazer um desses também, é só baixar os esquemas daqui. Mas se te chamarem de estranho depois não reclame.

Mas a coisa ainda piora. Vejam esse video abaixo. É um guia para ter um gato feito por engennheiros! Genial. Absolutamente genial. Insano, é claro, e um tanto perturbador em alguns momentos, mas ainda assim genial. Assistam:



Preciso melhorar muito ainda pra chegar aos pés desses caras...

25 maio 2008

Maturidade


A garota que chora sangue de Mark Ryden cresceu:


E, pelo que dizem, hoje só chora sangue uma vez por mês.

(Foto encontrada no excelente blog Peladas do Mulambo, dica do genial Dahmer)

22 maio 2008

Telhado de Vidro

Uma ótima e honesta resenha de meu mais recente romance, O Legado de Bathory, foi publicada no portal Homem Nerd. Para lê-la na íntegra, é só clicar aqui.

Eles já haviam resenhado outro livro que participei, Necrópole - Histórias de Vampiros e mantiveram a coerência. Para ler esta também é só clicar aqui.

Valeu, galera do Homem Nerd! Que venham as próximas!

19 maio 2008

Sobre a criação dos personagens

Direto ao ponto: histórias são feitas por personagens.

Sendo assim o primeiro passo após definido o tema de um romance é a criação dos personagens. Considero essa uma etapa essencial. De nada adianta uma idéia excelente se ela for baseada em personagens ruins. E por "personagens ruins" entenda bidimensionais, estereotipados ou com motivações incoerentes. Personagens que surgem com o único propósito de ajudar o escritor a seguir sua idéia em frente, sem realmente acrescentar nada de útil à trama. Descartáveis. Forçados. Ruins.

Criar um personagem bom não é tarefa fácil. Seres humanos são complexos. Possuem idiossincrasias que os definem. Históricos complexos, traumas, motivações, qualidades e defeitos. Ninguém é completamente bom ou mal como numa galáxia muito, muito distante. Os tempos são outros. Os leitores não engolem mais personagens esquemáticos. Eles precisam crer que as atitudes de determinada pessoa em determinada situação são racionais, coerentes com o histórico, com as experiências e moral de cada um deles. E não apenas no que foi narrado pela história. A não ser que você esteja escrevendo um épico que atravessa gerações e gerações, suas tramas se centrarão em apenas um momento na vida de cada personagem. Mas e o que aconteceu antes disso? O que levou o protagonista a atirar a namorada pela janela ao invés de tentar salvá-la? Por que o antagonista jurou vingança à humanidade? Teria sido ele vítima de abuso infantil por um padre safado numa paróquia esquecida por deus? Ou ele sofre de uma patologia rara e incurável? São dados importantes. Ninguém toma uma atitude boa ou má simplesmente ao acaso. Todas as nossas decisões levam em conta nossa experiência, e seus personagens devem fazer o mesmo.

Mas como fazer isso? Como elaborar um personagem não apenas tridimensional, mas também crível e coerente? Em suma: como é que o escritor pode bricar de deus de uma maneira prática e sem ficar louco antes mesmo de escrever a primeira linha de seu romance?

Não é fácil, eu sei, mas é uma etapa importante e não deve de maneira alguma ser negligenciada. Sem personagens bons sua história, por mais genial e original que seja, vai afundar. Não tem jeito, então mãos à obra.

Aqui vou descrever brevemente o meu método de criação de personagens. Não é uma regra e nem foi escrito em pedra. É o MEU método. Você pode utilizar ou não. Pode aproveitar alguns aspectos e descartar outros. O método realmente não interessa. O importante é que ao final de seu trabalho você tenha material suficiente para escrever sua história de maneira fluida e, acima de tudo, sem forçar a trama ou criar situações inverossímeis que apenas irão afastar seus leitores.

Quem já jogou RPG sabe que uma das partes mais cansativas do jogo é a criação dos personagens. É a burocracia necessária para uma aventura mais divertida. Aqui o princípio é o mesmo, diferenciando-se apenas o fato de eu não utilizar dados, fichas ou estatísticas para a criação do personagem. Claro que nada impede que você faça o mesmo, mas eu sinceramente não recomendo pelo simples fato de que seu romance não é um jogo. Mas divago.

Comece pelo básico. Nome, gênero, raça. "João da Silva, masculino, hispânico". Só isso. Eu costumava escrever essas informações em fichas de papel ou mesmo Post-its. Hoje há programas que cumprem essas tarefas de maneira bastante satisfatória, como o Celtix e o yWriter. Eu uso o último, pois o primeiro é mais voltado a roteiros, mas é uma escolha pessoal. O importante é você se organizar. De novo, o método pouco importa, desde que haja um.

O próximo passo é estabelecer se há alguma ligação entre os personagens criados. Relações de amizade, inimizade, parentesco ou afetivas. Defina isso com frases simples. "Fulano é namorado de Beltrana". "Beltrana é senhoria de Cicrano". Se não houver relação alguma, não coloque. Se haverá alguma relação durante a trama coloque isso no tempo futuro: "Maria se apaixonará por José". Simples assim. Você já terá a base para a parte mais complicada: o histórico pessoal de cada um.

Este é o momento crítico. O histórico do personagem irá criar toda a personalidade do mesmo. Será essencial para que a trama flua de maneira coerente. Isole-se por um momento. reflita bastante. Visualize a pessoa, sua história. Baseie-se em sua própria experiência pessoal. Em experiências alheias. Inspire-se em pessoas reais. Observe. Analise. E então escreva. Não um trecho do livro, nada disso. Escreva uma mini-biografia do personagem. Descreva a história do personagem. Desde sua infância. Coloque pontos chave de sua vida, daqueles que moldam o caráter. Traumas, lições, experiências marcantes. Detalhe o máximo possível, sem se preocupar se determinada minúcia é exagerada. Pode ser que seja. Pode ser que seja essencial no decorrer da trama. Não importa agora. Apenas crie um pessoa. Não se preocupe com sua história ainda.

"Mas Alexandre, se eu não me preocupar com a história, como vou saber se o personagem se encaixará na trama?". Boa pergunta. Você não sabe ainda. Mas é isso o que torna o personagem interessante. É isso que irá fazer com que o leitor tenha empatia por ele. Guie a biografia para que seu fim seja o início da sua história, mas sem forçar ou exagerar. Cuidado com as interferências de seu ego. Se ao final da criação você perceber que o personagem não se encaixa à sua trama há duas possibilidades: modifique a premissa inicial ou reescreva o personagem. Você vai ver que esses casos são raros. Mas esta postura ajuda muito na criação de um personagem rico e uma história interessante.

Note que essas biografias nunca serão realmente lidas por alguém além de você. Não figurarão desta maneira em nenhuma parte de sua obra. Serão apenas material de consulta seu. Ao final da realização serão apenas arquivo morto. Sendo assim não se preocupe com a forma como você descreve, desde que seja claro o suficiente para você utilizar durante a realização da obra. Pode ser escrito na forma de mini-conto ou numa lista de fatos. Ou um misto dos dois. Tanto faz.

E por qual personagem começar? Obviamente o primeiro impulso é pelo protagonista. Refreie este impulso. Como já disse Hemingway: "O primeiro rascunho de qualquer texto é sempre uma merda". Não desperdice esse primeiro rascunho com o personagem mais importante de sua trama. Descreva os coadjuvantes antes. Há personagens basicamente de três graus de importância, em ordem decrescente: Protagonistas, Coadjuvantes e de Apoio. Há os figurantes também mas se você for descrever todo figurante que aparecer há uma grande chance de você morrer louco antes de escrever um parágrafo sequer. Eu descrevo apenas protagonistas e coadjuvantes. Personagens de apoio não precisam ser exatamente tridimensionais, visto que sua criação normalmente ocorre durante a realização da obra em si. Alguns merecem um tratamento mais detalhado, mas a maioria apenas estará lá para tornar o texto mais crível ou para guiar o protagonista de alguma maneira em alguma direção específica. Não se preocupe. Vamos em frente.

A vantagem de criar os coadjuvantes antes é simples: seu protagonista será, ao final das contas, uma soma dos coadjuvantes. Após criar os coadjuvantes a criação do protagoniasta será mais fácil e mais coerente. Tente e comprove o que estou falando.

Perca mais tempo nos protagonistas. Seja mais detalhado que com os coadjuvantes. Crie TUDO que for referente a ele, desde qualidades e defeitos até seu prato favorito, seus filmes e livros prediletos, características físicas marcantes, traumas, manias, derrotas e vitórias. Seja preciosista. Sua trama será carregada nos ombros deste personagem. Sua idéia genial só será assim considerada caso este personagem específico ganhar a simpatia do leitor, para o bem ou para o mal, então não economize agora. Essa é uma técnica excelente para evitar bloqueios futuros, pode acreditar.

Ufa! Que trabalhão, né? Pois é. A essa altura você já deve estar me chamando de maluco para baixo (isso se teve fôlego para chegar até aqui). Pode ser. Não nego a possibilidade. Mas este é o meu método de criação. Se é insanidade ou não só o tempo dirá. Não encare isso como uma bula nem nada semelhante. Crie seu próprio método, seja criativo. Não há regras, apenas conselhos. O importante é que ao final de todo este trabalho personagens ricos e tridimensionais sejam criados. O leitor agradecerá.

O próximo passo é delinear a trama essencial do livro, mas isso eu deixo para o próximo papo.

Fecho este texto então com um delicioso chavão:
Não existem personagens pretos ou brancos. Somos todos feitos de tonalidades de cinza.

05 maio 2008

Começou!

Após longo e tenebroso inverno eis que este escritor cabeludo que vos digita (hummm...) finalmente começou a escrever seu próximo romance.

Sim, sim, tomei vergonha na cara e decidi que já enrolei demais. A pesquisa continua, é claro, assim como o planejamento que vai levar quase que o mesmo tempo da realização. Mas o importante é que finalmente saí do tal "bloqueio criativo" e estou escrevendo.

Pretendo colocar por aqui, numa freqüência maior que a normal, o log completo dos trabalhos. Desta maneira acho que posso contribuir um pouco não só realizando a obra, mas também esclarecendo alguns pontos que considero interessantes no processo criativo em si. Sei lá, alguém por aí pode achar útil. Vai saber?

Para este livro decidi até o momento apenas duas coisas: Será um tema incômodo (socialmente falando) e não será linear como meus outros romances (Sim, no plural mesmo. Aguardem novidades).

A tema já está definido. E é BEM incômodo. E tende a escalar. Preparem seus estômagos.

Já a segunda ainda estou definindo como vou fazer. Não pretendo seguir fórmulas como de Lost ou de Matadouro 5, por exemplo. Mas tampouco tenho medo de usar algumas destas técnicas caso elas se mostrem orgânicas à trama. Só preciso tomar cuidado para que o texto não se torne um simples pastiche mau amarrado. É (usando um clichê) uma linha bem tênue. Vai necessitar de revisões completas antes, durante e depois de escrever.

Mas quem disse mesmo que escrever é fácil?