25 setembro 2008

"Cobertura" da Bienal

Pra quem ainda não sabe, além de escrever livros também trabalho no canal FizTv. E o povo da produção do canal deu uma passada no stand da Alaúde na Bienal do Livro e fez a seguinte filmagem:



É, apresentação televisiva realmente não é minha praia. Mas valeu, especialmente pela presença especial de minha querida filhota no fundo.

Valeu, Wolf!

24 setembro 2008

Rascunhos Imponderados: Sexo


No final tudo se resume a sexo. Não tem jeito. Tudo o que fazemos, tudo o que almejamos, tudo o que realizamos é apenas para um único objetivo: transar.

Somos criaturas movimentadas a espasmos de orgasmo. Carreiras são construídas para que aumentemos nosso poder aquisitivo e, conseqüentemente, tenhamos condições de comprar carrões e artigos de ostentação com a meta de abrirmos o maior número de pernas possível. Saímos à noite com desculpas de amizade e socialização, mas o que queremos mesmo é encontrar alguém para bagunçar os lençóis com a gente. Olhamos em volta à procura de brechas nos vestuários que abram janelas às anatomias alheias. Puxamos conversa com completos desconhecidos como se estivéssemos apostando numa roleta, cujo prêmio virá em gemidos suarentos e trocas de secreções que em outra situação consideraríamos nojentas. Mas nunca são. Nunca, pois como já disse tudo no final se resume a sexo.

Esse papo de que buscamos parceiros, companheiros, etecétera e tal, é tudo asneira. Buscamos parceiros sexuais, potenciais procriadores e procriadoras. Receptáculos de nossa herança genética, mesmo que esta intenção tenha se deturpado ao ponto de que a prática é muito mais valorizada que a concepção propriamente dita. A humanidade é a única raça que faz sexo por prazer egoísta. Caso houvesse o mínimo risco de que a fêmea devorasse a cabeça do macho após o coito garanto que pensaríamos duas vezes antes de dar um tapa naquela gordinha que sobrou no final da festa. Se é para ser a última, que seja a melhor. Milhões morreriam virgens se seguíssemos este raciocínio, mas ao mesmo tempo daríamos saltos largos em termos de evolução.

Mas não é o caso. O caso é que transformamos o sexo de um mero ato reprodutório num objetivo dentro de si mesmo. A ironia disso tudo é que nos desesperamos quando conseguimos a fecundação. Ou seja, os humanos transformaram o fracasso em vitória e vice versa. É como um time que só comemora bolas na trave, apesar desta ser uma analogia potencialmente broxante. Está vendo? Pensamos em sexo até mesmo durante analogias futebolísticas. O tempo todo. Quer dizer, quase. O único momento que não pensamos em sexo é durante o ato. Pensamos em qualquer outra coisa, mas agora com o claro objetivo de estender o intercurso. Pensamos em coisas broxantes. Em contas a pagar. Em qualquer coisa menos no que estamos fazendo naquele exato momento. Até o dia que percebemos que nem isso é o suficiente. Aí descobrimos que a única maneira de adiar o êxtase é não só pensar em sexo, mas extrapolar o raciocínio. Racionalizar o fato de pensarmos em sexo.

- Hein?

- Nada não. Continua que está gostoso.

E não é que dá certo?

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Rascunhos Imponderados é o nome que dei a uma série de exercícios que imponho a mim mesmo de modo a superar bloqueios e manter a "máquina" lubrificada. É assim: alguém me passa um tema qualquer. Uma palavra, uma idéia, qualquer coisa. Dou-me quinze minutos para elaborar o que vou escrever e então uma hora no máximo para escrever um texto de até uma página A4. A maioria é impublicável, mas de vez em quando surgem pérolas como esta aí em cima, que divido com vocês. O tema foi sugerido por Lucimara Paiva, o que, sem sombra de dúvidas, ajudou muito na inspiração. Um beijo enorme, Lu.

23 setembro 2008

Criação de Antagonistas

Uma das críticas mais comuns que costumo receber sobre meu primeiro romance, o Legado de Bathory, é justamente sobre o quão raso foi o antagonista no meio de tantos personagens comparativamente muito mais tridimensionais. Dizem que falta a ele uma motivação clara, que sua presença parece jogada só para gerar uma crise, etc. Eu normalmente concordo com esta crítica. Realmente em uma análise superficial (ah, a ironia...) ele não tem uma motivação clara, e a explicação ao final também não é satisfatória. Mas eu normalmente volto o questionamento ao questionador e pergunto: E daí?

Quando estava esboçando a trama já tinha claro em minha cabeça apenas dois personagens: Yara e Laszlo. Os protagonistas. Daí, ao desenhar o antagonista, imaginei-o apenas como um maluco com sonhos de grandeza. Um sujeito delirante caçando fantasmas auto-infligidos. Ao ver isso, cometi um dos piores erros que um romancista pode cometer quando está criando um personagem: eu "forcei" uma motivação.

Sim, é isso mesmo o que estou dizendo. Ao forçar um motivo para suas atitudes eu acabei diluindo sua força como personagem. A tentativa patética de explicar tudo na derradeira cena é uma tentação demasiado grande, mas que deve ser evitada sempre. É o que costumo chamar de "final Scooby Doo". Não há motivos para o vilão explicar todo seu plano, todos seus objetivos nem aos protagonistas nem aos leitores. Por que não? Bem, vou usar dois exemplos recentes dos filmes para exemplificar melhor.

Um deles, é claro, vem do magnífico Coringa criado pelo finado ator Heath Ledger e pelos roteiristas David Goyer e Christopher Nolan para o recente blockbuster Batman: o Cavaleiro das Trevas. Não vou nem comentar a atuação impecável ou o roteiro bem amarrado, mas sim as cenas em que o Coringa "inventa" sua origem, cada vez de maneira completamente diversa. Não sabemos se alguma delas é verdade ou se nenhuma é! Isso cria uma sensação incômoda. Se não sabemos o que originou a crise, como poderemos resolvê-la? Por que aquele cara decidiu se vestir de palhaço e sair matando tanto mafiosos quanto policiais a seu bel prazer? "É tudo parte do plano", diz ele a certa altura, mas que plano é este? O que o levou a tomar a decisão de gerar o caos na vida dos protagonistas? Simplesmente porque sim? Há alguma outra motivação escondida? Nós, como seres calcados na racionalidade ficamos órfãos ao descobrir que este mistério é totalmente insolúvel. E isso acabou, em minha opinião, elevando o personagem de um patamar intrigante a um completamente assustador.

Outro exemplo é o recém lançado Violência Gratuita, refilmagem do clássico cult Funny Games de 1997 (escrito e dirigido em ambas as versões por Michael Haneke). Nele dois garotos jovens, limpos e bonitos atacam e torturam física e psicologicamente uma família sem nenhum motivo aparente. Coincidentemente há uma cena que remete bastante ao recurso utilizado pelo Coringa. Em certo momento as vítimas perguntam qual o motivo de tamanho suplício (no exato momento que nós, espectadores, também nos perguntamos) e um dos garotos desfia duas explicações completamente distintas. Ante a perplexidade da família (e nossa!) ele solta uma pergunta: "Quer que eu continue? Posso inventar outra". É uma cena desesperadora, mas incrivelmente coerente. Por que o "vilão" precisa se explicar à sua vítima? Para dar um alento ao seu sofrimento vindouro? Para tornar seu suplício mais "lógico"? Ou simplesmente para se justificar ou se desculpar? A verdade é que um antagonista pode até ter motivos para fazer o que faz, mas não precisa se justificar com ninguém!

Um bom vilão nem mesmo precisa ser um vilão. Um bom antagonista se acha o protagonista de sua própria trama. Ele acha sinceramente que está fazendo o que é certo de acordo com seus valores e julgamentos. Ele deve ser criado desta maneira. Na mente do escritor pode até existir um motivo, o que pode até adicionar profundidade ao personagem, mas essas motivações não precisam necessariamente ser explicadas num diálogo didático transcorrido convenientemente no momento de maior tensão da trama. A vida não se preocupa em fechar pontas soltas e às vezes tragédias ocorrem sem um sentido claro. A frustração faz parte da vida, então por que não também da ficção?

A criação de antagonistas tridimensionais e verossímeis somente ajuda na carga dramática da trama. Um vilão empático gera conflito do leitor/expectador, que em uma certa situação não sabe pra quem deve torcer, pois mesmo sem compreender completamente sabemos que DEVE haver uma razão para aquelas atitudes. Às vezes sabermos o quanto menos sobre a história a enriquecerá, pois criaremos uma miríade de possíveis explicações em nossas mentes. Qual será a certa? Existe uma explicação? Esse conflito é extremamente saudável, pois gera o que chamo de "releitura mental" do texto após o fim da leitura propriamente dita. Você revisa o que aconteceu, tenta tirar dali uma lógica, uma explicação, apenas para descobrir que aquela se tornou uma história inesquecível.

Sendo assim, não cometam o mesmo erro que cometi. Planejem bem seus antagonistas, talvez até mais que os protagonistas. E não se esqueçam desta única dica: um bom vilão acha que é o herói da história.

10 setembro 2008

Passando o bastão

Como não estou num dia especialmente inspirado (devido a alguns acontecimentos deveras desagradáveis), segue uma pequena lista de textos interessantes que andei trombando por aí:

Viver da Escrita / Viver para a escrita

O eterno segredo de tostines.

30 mandamentos para ser leitor, escritor e crítico
Espetacular, especialmente a parte relativa à critica (uma atividade que começo a me dedicar).

O Prazer do Terror
Bastante elucidativo.

E, para finalizar, uma livraria que tem todos os livros do mundo, menos um. Em inglês.

Boa leitura.

05 setembro 2008

Manifesto de um Solteiro Reincidente

Provavelmente vocês, bichos da cidade grande, não sabem direito qual o significado da palavra "arapuca". Pois bem de acordo com a Wikipedia:

Arapuca (arataca ou urupuca) é um artefato, de origem indígena no Brasil, que consiste numa armadilha, feita de paus, com formato piramidal, e destinada a pegar vivos aves, pequenos mamíferos, ou outros animais de caça.
É isso. Uma simples armadilha, normalmente usada para caçar passarinhos que serão logo em seguida enjaulados de modo a privatizar seu canto pelo resto de suas vidas.

Não sei vocês, mas sempre achei a imagem de uma passarinho preso numa gaiola deprimente. Uma criatura que foi feita para voar sendo obrigada a limitar-se num cubículo mínimo, sem chances de alçar alturas, entrar em mergulhos vertiginosos, piruetas, parafusos, loopings, etc. Ficam apenas lá, saltitando de poleiro em poleiro tristemente, sem perspectivas de recuperar a liberdade perdida, sempre correndo o risco do prego se soltar e derrubar a gaiola ou do gato da vizinha decidir fazer um lanchinho no meio da noite. Uma coisa triste. Por que razão um moleque faz uma coisa destas? Qual o motivo que justifica aprisionar uma criatura que nasceu livre, e cuja beleza reside justamente nesta liberdade?

Este preâmbulo ilustra justamente o fato de que eu, novamente solteiro após uma longa relação estável, venho observando nos relacionamentos interpessoais. Não que seja novidade, nada disso. Só estou analisando uma observação minha recente. Mas acho que muitos concordarão.

Desde que me separei ouvi inúmeras vezes pessoas perguntando, como se fosse algo inevitável, quando é que eu irei me enrolar de novo com alguém. Falam como se minha atual situação fosse uma aberração da natureza, algo impensável. Uma pessoa vivendo sozinha? Não, é impossível. Uma hora ou outra ele vai encontrar alguém e vai passar o resto da vida com esta pessoa.

"O RESTO DA VIDA"

Esta é a única frase que consegue arrancar arrepios em minha espinha e congelar minhas entranhas. É uma frase tão apocalíptica, tão definitiva, tão assustadoramente conformista que não consigo deixar de imaginar o pobre passarinho preso em sua gaiola pelo resto de sua existência. Triste, cabisbaixo, desolado. Morto em vida.

Claro, não estou querendo dizer que todo relacionamento é assim. Nem que eu esteja sendo radical ao ponto de sentenciar que nunca mais me envolverei com alguém. Isso seria estúpido. O lance é que cada vez mais vejo que estou sendo rotulado erroneamente pelo simples fato de eu ter escolhido, neste momento de minha vida, não me envolver profundamente com absolutamente ninguém. Desse modo vou tentar responder abaixo todos os argumentos que jogam em meu colo com uma freqüência enervante. Talvez assim eu me faça entender.

  • Você é insensível/tem o coração fechado/frio/endurecido, etc.
Bobagem. Das grossas. Não estou fechado nem fujo de relacionamentos. Só não acho que um relacionamento seja um fator essencial para minha felicidade neste momento. Se acontecer, ótimo. Se não acontecer, ótimo também! Sou um cara facilmente apaixonável. Me apaixono com a mesma facilidade que me desapaixono. E adoro essa montanha russa sentimental. Se conheço alguém, rola aquela troca de olhares, aquela química, luz, som, tato, idéias, risadas, sexo, etecétera e tal, por que não? É gostoso e faz bem! Se essa paixão permanece no dia seguinte, maravilha! Se for recíproca, melhor ainda! Vou encontrá-la de novo. E isso se manterá até o dia que a paixão arrefecer. Acontece. Bola pra frente. Se isso significa que sou frio ou insensível, paciência.

  • Com quem você irá passar sua velhice?
Quer uma lista? Essa pergunta, para mim, é o cúmulo da mesquinharia. Com quem vou passar minha velhice? Oras, tem mais de 6 bilhões de pessoas no mundo! Acho que consigo manter uma roda de amizades até minha velhice. Se eu não tiver uma companheira para morar comigo, chamo um amigo, ou uns amigos, e pronto. Vou jogar gamão na pracinha. Dar risada com outros velhos no boteco. Ver minha filha, meus netos, etc. Até velórios podem ser divertidos com a galera certa. Ninguém é uma ilha se não quiser. E se quiser, qual o problema? Sinceramente prefiro ser um solteiro feliz do que morrer preso numa relação falida apenas por medo da solidão.

  • Um dia você vai encontrar a tampa certa pra sua panela velha.
Puxa, espero que sim! Espero mesmo. Mas não coloco isso como fator preponderante para minha felicidade. Tenho projetos a serem realizados, planos a serem cumpridos, coisas a fazer. Não quero abrir mão disso tudo em nome de uma mera companhia. Caso eu encontre uma pessoa que esteja na mesma sintonia que eu, que respeite minha privacidade, minhas pretensões e anseios, por que não? Mas caso não apareça ninguém continuo do jeito que estou e vou muito bem, obrigado.

  • Uma pessoa nunca pode ser feliz sozinha.
E por que não?! Já fui feliz e infeliz dentro e fora de relacionamentos. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Felicidade não é exclusividade de um relacionamento. Se fosse não existiria a lei do divórcio. Uniões civis foram uma invenção que foi criada de modo a oficializar a aquisição de bens, preservar nomes da nobreza e garantir o status quo. É uma "tradição" de mais de 3 mil anos. E que já caducou. Além do mais, quem disse que vou estar sozinho? Leia a resposta da pergunta anterior de novo.

  • Relacionamentos demandam sacrifícios. Você é egoísta demais!
Não me venham com essa asneira. Para TODO tipo de relacionamento, e não só os afetivos, a relação custo/benefício tem que tender para o denominador. A partir do momento que os sacrifícios não justificam mais a recompensa é hora de partir para outra. E não tem problema nenhum nisso! Qual é o grande pecado em pensar na própria felicidade? Estamos nessa vida com o objetivo de aproveitá-la o máximo possível. A partir do momento que um relacionamento se torna um fardo o objetivo final se perde. Chame-me de egoísta, egocêntrico, o diabo! Mas lá no fundo você sabe que estou falando a verdade.

Existem outras afirmações e questionamentos a este respeito, mas vou acabar caindo numa repetição maçante. O lance é o seguinte: caso eu venha a me enrolar com outra pessoa no futuro, será porque ambos QUEREM se envolver, nunca porque PRECISAM. Ninguém precisa de uma companheira ou companheiro para garantir a felicidade, do mesmo modo que um moleque não precisa aprisionar um passarinho cuja atração inicial foi exatamente sua liberdade. Já passou da hora de derrubarmos esse mito. Ser solteiro pode ser tão ou até mais legal do que ser casado. Se você acha que sua felicidade depende exclusivamente de encontrar uma pessoa que vai passar o resto de sua vida ao seu lado (brrr...), tudo bem. Eu respeito isso. Desde que você respeite minha vontade de permanecer solteiro sem rancor, inveja ou outra merda qualquer que só vai servir para encher nossos respectivos sacos.

E tenho dito.

02 setembro 2008

Referências Cruzadas

Recebi no último final de semana a seguinte mensagem:
"Olá, Alexandre.

Sou produtor de Vídeo e tenho uma escola de produção para cinema e tv em Blumenau - SC. Estava pesquisando a respeito de criação de personagens, tema de minha aula de amanhã (sábado) e tive a sorte de encontrar sua publicação sobre o tema. Tenho meu próprio método de criação de personagens para meus curtas e para os programas de tv que eu produzo, mas eu gostaria de mostrar aos meus alunos um outro método, já que não existem regras à respeito. Quero te parabenizar pela clareza de suas elucidações. Serão de grande valia para a minha galera de futuros produtores de filmes, programas de tv e outras produções.

Obrigado por sua contribuição.

Um abraço do colega...

Marcelo Niess"
Eu quem agradeço a utilização de meu material em sua aula, Marcelo. É extremamente gratificante ver seu trabalho reconhecido não apenas no próprio meio, mas em todas as esferas da produção cultural. Espero sinceramente que minha singela contribuição ajude seus alunos a realizar boas obras num mercado tão carente de criatividade quanto o nosso.

Para quem não se lembra do texto citado, é só clicar aqui.