21 julho 2008

O adeus a Zebedeu



Há vários motivos que levam um autor a matar um personagem. Necessidade da trama, aumentar a importância da história, gerar impacto ao leitor, encerrar um arco narrativo, etc. O destino dos personagens está intimamente ligado à história a ser contada. Sua vida, decisões e morte são titeteiradas de acordo com as vontades de seu criador, esse Deux Ex Machina incontrolável e mimado.

E há personagens que morrem por outras razões. Mas antes de falar de morte, vamos falar de nascimento.

Personagens Semi-Biográficos

Todo escritor deixa um pouco de si próprio em seus protagonistas. É assim mesmo, não se preocupe se seus amigos leitores (que são diferentes de seus leitores amigos) freqüentemente confundirem seu protagonista com você. Não há nada de errado nisso. Quando criamos um protagonista (ou mesmo um antagonista, mas isso é mais raro) usamos um reflexo borrado de nós mesmos. Mesmo que suas biografias sejam diferentes, suas reações, premissas e ideologias são bastante próximas às nossas.

Mas há casos que esta semelhança é maior do que o normalmente recomendável. Há vários exemplos de personagens que não eram apenas inspirados no autor, mas na verdade alter egos do próprio. Não é sutil. É realmente o autor com outro nome. É o caso do Henry Chinaski de Charles Bukowski, do Arturo Bandini de John Fante e até mesmo o excêntrico Kilgore Trout de Kurt Vonnegut.

E, guardadas as devidas proporções, era o caso de Zebedeu comigo.

Gênese de um mau caráter

Os personagens e autores citados aí em cima não foram exemplos coletados ao acaso. Eles foram a inspiração para a criação do meu alter ego ficcional. Zebedeu era um misto da escrotidão de Chinaski, o idealismo quase inocente de Bandini e a alucinação psicodélica de Trout. Mas é claro que esta mistura não seria o suficiente. Eram a "base superficial", mas no cerne ele seria algo como eu mesmo sem freios morais. Uma versão minha com uma biografia diferente e sem papas na língua. A alcunha "psicopata enrustido" veio de alguém que me chamou assim certa vez (não lembro quem). O nome veio de um diálogo ocorrido numa reunião, quando um estagiário foi inquirido de alguma coisa e perguntou, inocente: "Eu?", ao que o gerente delicado como uma motosserra enferrujada respondeu: "Não, o Zebedeu!". Entendeu a sagacidade? A rima? A sutileza?

Foi desse modo que, em abril de 2004, o primeiro blog nasceu: como uma válvula de escape. Protegido pelo anonimato do personagem eu podia falar o que bem entendesse sem receio de ser mal interpretado ou ofender alguém. Eu era recém casado na época e certas frustrações não cabiam muito bem num relacionamento ainda em formação.

Crescimento

Os primeiros textos eram extremamente simples e bobos. Eram apenas um espelho de minha frustração latente com tudo (carreira, literatura, casamento, etc.). Não passavam de textos raivosos e, na maioria, impublicáveis. Mas serviam bem para seu objetivo primordial: era quase uma terapia escrevê-los. Não havia pretensões artísticas. Não havia interesse em divulgação nem nada disso. Tanto que a referência a meu nome estava extremamente discreta.

Só que, em algum momento, os leitores o descobriram. As visitas e comentários começaram a crescer dia a dia. Formalizei o formato "cartas ao doutor", que colocavam cada leitor no papel deste "doutor", e comecei a me preocupar mais e mais com o estilo e com os temas. Zebedeu de uma hora para outra deixou de ser uma válvula de escape e se tornou um personagem.

Era hora de levar aquela brincadeira mais a sério.

Emancipação

Quando percebi que aquele personagem tinha potencial para algo mais que um mero diário decidi mudar tudo, começando pelo próprio endereço. Migrei para uma plataforma mais robusta (ao menos na época) e batalhei no visual. Também foi nessa época que decidi escancarar a identidade secreta de Zebedeu, o que gerou críticas mas ao mesmo tempo me ajudou bastante na transformação daquele espaço de um repositório de asneiras para uma coisa mais literária, mais experimental. Foi aí que realmente Zebedeu abriu as asas e saiu do ninho. Suas histórias ainda era quase que totalmente fictícias, refletindo não fatos mas sentimentos do autor. Brinquei com estilos, experimentei formas diferentes, tornei o blog um autêntico laboratório. E isso ajudou muito na minha formação como escritor. Ao menos muito mais que qualquer oficina de escrita criativa que eu pudesse ter feito. Há posts lá que eu considero alguns meus melhores trabalhos. E os leitores continuavam aparecendo.

Decadência

Em abril de 2007 um fato acarretou uma mudança drástica na temática do blog: meu casamento havia terminado. Eu, novamente solteiro, saí da segurança de meu castelo e voltei ao mundo das incertezas. Pela primeira vez desde sua concepção criador e criatura realmente se confundiam. Os textos deixaram de ser fictícios e começaram a refletir a realidade muito mais do que deveriam. De uma hora para a outra a piada invadiu minha vida. Eu estava me tornando o personagem que havia criado. Como ele mesmo diria: "Freud, é com você, meu filho!".

Inicialmente aquilo me divertiu um bocado. Tirando certas idiossincrasias que inseri apenas para fins humorísticos, Zebedeu era realmente um reflexo de minhas ansiedades como ser humano. Eu queria ser aquele cara. E, mesmo sem perceber, foi o que acabou acontecendo.

Mas aí a piada perdeu a graça.

E não só a graça, mas também o sentido. Não havia mais motivo para eu escrever aquele diário. Não era mais ficção, não era mais válvula de escape. Era apenas uma fotografia, um filme destinado a voyeurs. As experiências literárias desapareceram. Os estilos lingüísticos, as brincadeiras narrativas, tudo. Os textos começaram a ficar insossos, mornos, requentados. Os leitores perceberam. Eu percebi.

Só não queria assumir isso.

A Morte

Com a decadência dos textos e, principalmente, de meu tesão por escrever novas aventuras "zebedianas" a idéia de encerrar o blog surgiu em diversas oportunidades, mas eu nunca efetivamente a realizava. Faltava coragem. Era um personagem muito caro para mim. Lembro-me que no auge de seu sucesso perguntaram-me por que a freqüência dos textos era tão baixa (em média 3 por mês, quando tanto). Respondi que eu primava mais pela qualidade do que pela assiduidade. E é verdade, tanto que nos últimos meses a freqüência decaiu bastante. O problema é que junto com ela também foi a qualidade. Já não eram os textos que me davam orgulho e prazer em escrevê-los e relê-los. Eram quase uma paródia de mim mesmo. Tentei retornar à ficção mas soou vazio. Tentei fazer exercícios mas nada muito original saiu. A fonte tinha secado. A inspiração havia desaparecido. O tesão acabado.

Sendo assim decidi finalmente encerrar essa fase de minha vida. A primeira opção era simplesmente abandonar o blog. Descartei de imediato. Seria um desrespeito a meus leitores. Escrevi então um tipo de recado numa secretária eletrônica, avisando que Zebedeu estava ausente. Cheguei a publicar, mas apaguei em seguida. Aquela não era uma saída honrosa e nem digna do personagem. Foi então que decidi repetir um dos encontros icônicos dele comigo (como vocês podem reler aqui e aqui) e dar, além de um encerramento digno, também uma explicação de minha decisão. Não o matei nem o desenrusti, como muitos previam, mas simplesmente tirei dele aquilo o que o tornava único. Curei-o.

Curei-me.

Zebedeu foi um marco em minha vida, não apenas literária. Foi, por mais esquizofrênico que isso possa soar, um de meus melhores amigos nestes quatro anos juntos. Aprendi muita coisa com ele. Desabafei coisas que nunca conseguiria desabafar na realidade. Cresci como escritor e como ser humano. E agora deixo-o livre de mim de uma vez por todas. É hora de novos horizontes, novos personagens, novas tramas.

Vai nessa, Zebedeu. Missão cumprida, rapaz. E vê se não volta.

Mas, caso volte, estarei aqui para narrar suas desventuras.

18 julho 2008

Mais Wall-E

Vou aproveitar que todo mundo está embasbacado com a estréia de Batman: O Cavaleiro das Trevas e o lançamento do trailer oficial de Watchmen e falar de algo completamente diferente.

Ontem estava tentando convencer meu pai a assistir no cinema a nova animação da Pixar, WALL-E quando me lembrei de uma coisa importante. Claro, se você já assistiu ao filme ou se não assistiu mas não vive numa câmara hiperbárica enterrada em um bunker de chumbo já deve ter ouvido falar que a inspiração para o robozinho do filme é uma mistura de E.T. (aquele do Spielberg) com o Johnny nº5 de Um Robô em Curto Circuito (Short Circuit, 1986). Não discordo que fisicamente a relação é bastante óbvia, como é possível ver na montagem abaixo:



Mas e quanto ao personagem em si? É possível encontrar semelhanças nas histórias dos personagens também (a aventura extraplanetária de ET e a "personalidade" de Johnny nº5) mas acho que esta seja uma abordagem simplista. A essência do personagem da animação da Disney não está simplesmente na máquina ou na aventura espacial. Wall-E é um personagem primal, uma força simples e essencialmente PURA. Em sua realidade não há necessidade de malícia, interesses mesquinhos ou ganância. Wall-E é um robô lixeiro completamente sozinho num planeta em ruínas. A única motivação que ele possui (antes da chegada da sonda EVE, é claro) é uma curiosidade incontrolável. Apesar de ter adquirido quase que uma "alma", seus raciocínios são lógicos, racionais. Afinal de contas não nos esqueçamos que ele é um robô. E, graças a essa pureza, todos os personagens que se relacionam com ele posteriormente na história tem sua percepção da realidade mudada drasticamente, mesmo que esta nunca seja sua intenção.

Nesta abordagem, acho que o pequeno Wall-E se assemelha muito mais a um outro personagem do cinema. Não, não é o Vagabundo de Chaplin como já li em alguns lugares. Para mim a maior semelhança é com Chance Gardener, personagem retratado no filme Muito Além do Jardim (Being There, 1979) pelo genial Peter Sellers.

Hã?

Pois é. É a hora de me chamar de louco. Mas vou tentar explicar: O filme conta a história de um jardineiro meio autista abrigado na mansão de um velho senhor. Quando seu benfeitor morre ele é obrigado a cair no mundo real e conviver com a crueldade, a ganância e a manipulação humana. Estranhamente, devido a sua pureza e simplicidade, suas idéias e analogias (ele sempre compara algo a um exemplo em seu perdido jardim) são consideradas extremamente visionárias. Lentamente Chance começa a mudar a vida de todos com quem ele se relaciona, seja por sua pureza ou seja apenas por instilar idéias simples para solucionar problemas complicados. O mais interessante é que ele não faz idéia do efeito que causa às pessoas. Ele simplesmente é assim porque não sabe ser de outra maneira. Ele é autêntico, uma força natural de pureza e completamente desprovido de malícia.

Compare agora com a descrição que fiz de Wall-E alguns parágrafos atrás.

Captou?

Para mim esta é a real essência que tornou ambos os personagens tão marcantes. Nas duas histórias vemos párias (um robô e um autista) mostrando a nós, humanos "normais", uma realidade que deixamos de ver desde que deixamos de lado a pureza e a inocência da infância. Esta é a mensagem, de que a humanidade tem esperança apesar de tudo (mensagem deixada bem claro na magnífica homenagem à humanidade e sua arte nos créditos finais de Wall-E). É uma mensagem poderosa, corajosa e, por que não?, diametralmente diferente da visão cínica que a ficção anda criando da humanidade nas últimas décadas. São filmes que te deixam leve, feliz, contente por ser humano.

E isso não é pouca coisa.

Vejam o trailer:



Algumas coincidências:

1) "Gardener" não é realmente seu sobrenome, ele apenas se apresenta como "Chance, the gardener" ou "Chance, o jardineiro" e as pessoas naturalmente assumem este como seu sobrenome. Já WALL-E é o acrônimo para "Waste Allocation Load Lifter - Earth Class", ou, em tradução livre, "Compactador e Empilhador de Lixo - Classe Terrestre". Ou seja, ambos os personagens tem nomes que denunciam suas ocupações.

2) "Chance" é "acaso" em inglês. "Wall" é "muro" ou "parede". Novamente nomes que tem relação direta com os personagens.

3) A trilha sonora usada no trailer é Also Sprach Zarathrustra, de Richard Strauss. Esta mesma música também está presente na trilha sonora de Wall-E. Em ambos os casos é uma referência à famosa "cena dos macacos" em 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odissey, 1968), de Stanley Kubrick.

16 julho 2008

Novos Hobbies

E não, não estou falando do lançamento de uma nova linha de Escorts populares ou do engano da Carla Perez ("Azul!"). Estou falando daquelas atividades que fazemos apenas pelo prazer de fazê-las (!).

Há algum tempo meu principal hobby era, é claro, escrever. Era uma atividade despretensiosa, lúdica, divertida, etcétera e tal. Daí veio a vontade de não apenas escrever, mas também ser lido. O resto (ainda) é história. Hoje escrever já não é mais um hobby, mas uma atividade remunerada, que só não é minha atividade principal por conta dos rendimentos ainda insuficientes. Mas é questão de tempo.

Acontece que a evolução de minha carreira como escritor criou um problema: se escrever já não era mais um hobby, o que eu poderia fazer para preencher meus momentos de descanso? Qual atividade poderia me proporcionar o relaxamento necessário sem que eu tivesse que me preocupar com cobranças e prazos além dos auto-impostos? Claro, minha primeira opção foi o sexo, mas este é o tipo de atividade que necessita de consentimento de uma parceira (fixa ou ocasional), o que pode gerar conflitos de agenda e tabelinhas. Ainda curto a prática (ou, como uma amiga minha se refere, o "treino para se fazer bebês") mas eu precisava de alguma coisa pra fazer nos dias em que ninguém quer dar pra mim.

Daí descobri a arte do Papercraft.

Acho que todo mundo com mais de 25 anos já fez isso alguma vez na vida, nem que fosse apenas recortando a parte de trás das caixas de Sucrilhos. Eu nem sabia que isso tinha nome. É a arte de criar brinquedos ou esculturas apenas com papel, tesoura e cola (não, caro frutinha, papier-marché é outra coisa).

E tem mais: descobri também que há uma infinidade de páginas dedicadas a essa prática. É escolher o brinquedo, baixar o PDF com as peças, imprimir e se divertir. O mais completo quer encontrei é este aqui, mas é só procurar que dá pra encontrar um monte por aí.

Foi nesta página que encontrei o modelo para a construção de um dos personagens mais legais dos últimos tempos, o robozinho Wall-E. Sendo a montagem relativamente simples, baixei o PDF, imprimi e coloquei as mãos à obra. O resultado você vê abaixo:

Resolução e foco ruins por conta de uma câmera vagabunda de um celular idem.

Legal, né? Também curti. Agora fiquei viciado nessa porcaria! Já baixei e imprimi os modelos para a construção do Tumbler (ou batmóvel-tanque para os não iniciados). São OITO páginas de peças e mais uma só com transparências (para as janelas). Vai dar um trabalhão. Para fins de comparação, o Wall-E aí em cima é apenas uma página e eu levei 3 horas para finalizá-lo.

Mas sou teimoso. Quando (ou se) eu terminá-lo coloco aqui uma foto. Quem quiser tentar também os modelos estão aqui.

Mãos à obra!

08 julho 2008

LANÇAMENTO: Necrópole - Histórias de Bruxaria


É isso aí, galera. Agora é oficial. O lançamento e noite de autógrafos do aguardadíssimo terceiro volume da Coleção Necrópole será no dia 29/07, lá no Bardo Batata. Marquem em suas agendas. Anotem na palma da mão. Deixem um lembrete na porta da geladeira. E apareçam, para bater um papo e tomar umas com a gente.

Caso você não possa comparecer no dia ou esquecer, lembre-se ao menos que o livro já pode ser adquirido nas melhores livrarias por aí, especialmente na Tarja Livros. A única desvantagem é que você não terá nenhum autógrafo.

Como sempre, estão todos convidados.

Vejos vocês por lá!

07 julho 2008

Resumos e Referências

Para quem não foi e quer um resumo melhor que o meu da mesa redonda de literatura de terror a qual participei, foi publicado no Terra Magazine uma quase transcrição muito boa. Para ler é só clicar aqui.

E hoje descobri, totalmente sem querer, que meu livro, O Legado de Bathory, foi incluído na página da Wikipedia sobre as referências da condessa Bathory na cultura popular. Olha eu aí em baixo no destaque:


Para ver na página e coisa e tal, é só clicar aqui.

Agora vou tentar lavar meu ego pra ver se ele encolhe um pouco.

04 julho 2008

Presto!

Eu não sei quem já assistiu e quem não assistiu a WALL-E, nova animação da Disney/Pixar. Para quem foi vai ser um repeteco, mas para quem não foi, este curta é exibido antes do filme em si. Além da animação excelente e das gags engraçadíssimas, ele já dá o tom aproximado da animação em seguida, mostrando um humor calcado em expressões e situações. Vale a pena assistir.



E está esperando o que para ir ao cinema AGORA assistir WALL-E? Não percam. É Obra de Arte com letras maiúsculas. Pra quem não faz idéia do que estou falando, segue o trailer:

LANÇAMENTO: Fábulas do Tempo e da Eternidade


Pois é. É hoje a "formatura" de minha querida padawan, a talentosíssima Cristina Lasaitis. A partir das 18hs, no Bardo Batata, será o lançamento de seu livro de estréia, Fábulas do Tempo e da Eternidade, que já merecia ser adquirido apenas pelo magnífico título.

Mas não é apenas o título que é excelente. Christie já demonstrou uma incrível maturidade e criatividade na realização de seus textos, sempre com um pé bem fincado na ficção científica, sua especialidade.

Mas não pense que seus contos são sempre deste gênero. Demonstrando que sabe bem onde pisa, Christie sempre surpreende, seja pelo ritmo delicioso com que nos envolve em suas tramas, seja em reviravoltas surpreendentes e temáticas corajosas. É uma garota com um futuro promissor pela frente. Guardem bem esse nome. Ela vai estourar.

Eu estarei por lá, para prestigiar e para dar um abraço de ex-mestre que testemunha a ascenção de sua querida pupila com grande orgulho.

Muito sucesso, Christie. Você merece!

Onde?
Bardo Batata - Rua Bela Cintra 1.333 - Jardins (a uma quadra do Metrô Consolação)
São Paulo
Paga entrada?
Não. Você só paga o que consumir.
Tem estacionamento?
Sim. O Bardo tem convênio com o estacionamento em frente.
Quanto custa o livro?
No lançamento: R$23,00.
176 páginas
Formato bolso.

01 julho 2008

Resumo Mesa Redonda de Terror


Para quem não pôde comparecer, algumas fotos do evento (a maioria fora de foco) podem ser encontradas aqui.

Um breve resumo:

- De início tivemos a apresentação de alguns curtas da Liz Marins. A produção lembra bastante o formato do "Cine Trash", que a Band veiculava nos anos noventa e que eram apresentados pelo pai dela, o lendário Zé do Caixão.

- Em seguida tivemos a apresentação do trabalho de Janaína Azevedo, "As alegorias do terror, do amor e da morte nas obras Drácula de Bram Stoker e Frankenstein de Mary Shelley". A Janaína apresentou o trabalho numa peculiar fantasia de "noiva-cadáver-suicida-degolada".

- Após isso começou a mesa redonda propriamente dita. Os participantes (eu, Liz Marins, Martha Argel, Giulia Moon, André Vianco e J. Modesto) se sentaram numa estranha divisão "meninos de um lado, meninas do outro", que me recordou muito os tempos dos bailinhos de escola.

- Começou-se discutindo um bocado a respeito de literatura de vampiros. Houve uma certa controvérsia a esse respeito, pois na humilde opinião deste que vos fala há muito tempo que não há relação entre vampiros e histórias de terror. O consenso foi que realmente isso é uma tendência dos escritores, mas que a atração do arquétipo dos "chupadores de sangue" ainda é bastante forte, tanto em temática quando em termos de mercado.

- A parte realmente de literatura de terror ficou um pouco a desejar. Houve pouca discussão, centrando o debate mais em responder às perguntas da galera. Discutiu-se também o uso de lendas brasileiras e mitos regionais, mas não houve um consenso útil dos presentes.

- Após a inevitável "sessão jabá" a mesa foi encerrada. Foram exibidos mais alguns curtas de Liz Marins e realizado o sorteio de uma edição de "O Turno da Noite", do André Vianco e de dois exemplares de "O Legado de Bathory".

A conclusão que eu tirei é que pouca gente sabe realmente quais as tendências para o gênero na produção nacional. Eu incluído. Há a necessidade de se voltar mais ao leitor, às suas aspirações e desejos. Ficou um tom um tanto monocórdico a respeito de vampiros nesse tipo de literatura. Como autor tendo a me posicionar contrário a isso. Sempre achei que uma história deve se utilizar de arquétipos, não se embasar neles. Se for pra continuar lançando livros com pseudo-clones de Lestat a coisa nunca vai andar pra frente.

Mas no geral o evento foi bastante válido. Há muito a ser tirado dessa discussão. Mercado existe, leitores também. Só precisamos encontrar autores corajosos o suficiente para dar um passo além. Passo este que precisa ser firme e convicto, de modo a expurgar o provincianismo regente na produção atual.

Sendo assim: Mãos à obra, macacada!

P.S.: Meus agradecimentos ao pessoal da Livraria Cultura pela iniciativa e pelo convite. Que venham os próximos!