10 maio 2010

Tempo


Com o tempo não se brinca, alguém já deve ter dito por aí. Frequentemente me perguntam (especialmente não-leitores) como arrumo tempo para escrever. Não sei responder. Quando a inspiração vem eu escrevo. Assim, sem olhar para os lados. Escrevo, escrevo, reviso, reescrevo, xingo, escrevo tudo de novo e abandono. Me viro. E com sorte suada vira conto, vira exercício, vira livro. A maioria vira lixo, arquivada num baú virtual para ser garimpada por meus herdeiros. Oxalá (!) consigam angariar alguns trocos com isso.

Mas divago. Tempo não se cria e não se recupera. Tempo não tenho e não preciso. Preciso sim de vergonha na cara. E, tal qual a câmera de um celular pré-pago de promoção, preciso de foco. Só assim conseguirei fazer esse livro que está corroendo meus neurônios sair do papel. Escrever, escrever e escrever. Contos agora só sob encomenda. Ou quando a inspiração for forte demais para ser ignorada. Foco. Imersão. Mergulho de cabeça aberta e olhos fechados.

Adeus sanidade.

06 maio 2010

Bola na Cabeça



Acabo de assistir a eliminação do Corinthians pelo Flamengo na Taça Libertadores da América.

Não sei quantos de vocês sabem disso, mas sou corinthiano. Um péssimo corinthiano, diga-se de passagem. Até curto assistir futebol, sei as regras, acompanho um pouco, mas só. Se ganhou ou perdeu fico feliz ou triste por um instante e em seguida vou cuidar de minha vida. Quem me conhece nem chega a tirar sarro, pois sabe que não ligo a mínima. Pode zoar, pode brincar. Dou risada e pronto. Bola pra frente, para usar uma metáfora coerente.

Mas venho aqui escrever essas linhas apressadas apenas para fazer um pedido: agora que o Corinthians foi eliminado, que tal se o povo PARASSE DE FALAR SÓ DE FUTEBOL O TEMPO INTEIRO E MUDASSE DE ASSUNTO?

Sim, pois pelo meu olhar leigo e desapaixonado por este esporte vejo cada vez mais que o Brasil é um país dividido por duas torcidas: uma a favor e a outra contra o Corinthians. Corinthiano quando ganha é um saco. Berra, faz buzinaço, grita da janela, solta rojão, etc. Mas quando perde quem fica insuportável são TODAS AS OUTRAS TORCIDAS.

Sério, não aguento mais. Fui trabalhar de trem na última terça e ENCHEU O SACO. Povo só fala nisso! Chego no trampo e é figurinha da copa pra cá, libertadores pra lá, paulista, brasileirão, copa do brasil, desafio ao galo, rachão no society e etecéteras correlatos. Daí chegam em casa e ficam assistindo reprise, compacto, mesa redonda, etc. Ligam o videogame e jogam Winning Eleven. Será que não tem outro assunto não? Se metade da energia que o brasileiro gasta com futebol fosse gasta em outro assunto (como política, sociedade, cultura por exemplo) as coisas seriam muito melhores.

Lembrei de um cara que trabalhou comigo e era corinthiano roxo. Um dia em que o Corinthians levou de 5x1 do São Paulo o povo encheu tanto a paciência dele que ele foi pro banheiro pra CHORAR! Cara, homem formado chorando por esse motivo é deprimente. Desculpe, mas não tem paixão que justifique isso. Ainda se fosse por mulher...

Desculpem o desabafo. Não estou censurando nem nada disso. Acho que tiração de sarro é saudável e a maioria de meus amigos é até bem moderada nesse aspecto.Também não tenho nada contra futebol e paixão de torcedor. Só acho que está rolando um exagero generalizado. Não sei se é por se ano de Copa, mas o fato é que eu perdi todo o tesão de assistir a Copa por conta dessa obsessão do brasileiro. Sério. Seleção ganhar ou perder vou continuar tomando Johnny Walker com Activia. Bobear nem assistir eu vou.

Mas estou sofrendo por antecipação. Amanhã no escritório vai ser insuportável. Não diretamente pra mim, pois eles me conhecem pouco e já avisei que não ligo a mínima pra provocação futebolística, mas o papo em volta vai ser SÓ esse. Vai ser foda.

Mas fazer o que?

Vou dormir que eu ganho mais.