Tem sido um final de ano avassalador.
Tirando o habitual da jornada tripla (analista de sistemas + escritor + pai de família), estas últimas semanas tem sido mais complexas do que o normal. O dia não tem horas o suficiente, então durmo menos. Como durmo menos, rendo menos no dia seguinte. Rendendo menos o trabalho se empilha. E quando vemos estamos à beira de uma avalanche a qual não temos como escapar.
E, como se não fosse o suficiente lidar com este estresse, hoje eu e minha esposa entristecemos com a notícia da morte de sua avó, a alegre Dona Maria Amélia (ou Mara, para os íntimos). A dor foi maior pois não a víamos há algum tempo, desde que ela se mudou para a casa da filha em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Ela não estava bem há cerca de uma semana, quando foi hospitalizada, e infelizmente sucumbiu hoje de madrugada.
Vó Maria (como minha filha a chamava) era uma figura ímpar. Ela e minha esposa tinham uma ligação muito especial. Minha primeira lembrança dela foi quando conheci Tatiana, que me avisou que a avó, por motivos obscuros, não queria que ela se casasse com um espanhol. Para quem não sabe, sou neto de ciganos espanhóis. Mesmo assim Dona Mara foi sempre uma boa companheira e nos ajudou muito no começo de nossa relação. E, mesmo em meio às crises familiares, sempre arrumava tempo para um sorriso e uma canção. Era uma mulher exemplar e que vai deixar muitas saudades.
Muito obrigado por tudo, Vó Maria.
29 novembro 2006
28 novembro 2006
É neste sábado!
A Tarja Editorial convida você para o lançamento do livro...
Lançamento Nacional
2 Dez 2006
Sábado 19 horas
Av. Paulista, 37
Estacionamento na Al. Santos
Autores participantes da obra:
2 Dez 2006
Sábado 19 horas
Av. Paulista, 37
Estacionamento na Al. Santos
Autores participantes da obra:
Alexandre Heredia - Andre Vianco - Andrei Puntel - Camila Fernandes - Carlos Orsi - Carolina Freitas - Claudinei Vieira - Cristina Lasaitis - Daniela Fernandes - David P. Hoffmann - Denise M. Guimarães - Dóris Fleury - Déia Batista - Eduardo Baszczyn – Fernando A. Moyses Fernando David - Fernando de F. L. Torres - Fábio T. Torres - Gianpaolo Celli - Gilmar Silva "Lewd" - Giorgio Cappelli - Heloisa Pait - Iuri Ribeiro – Jean Canesqui - Leonardo Pezzella Vieira - Liz Marins - Luis Vassallo - Marcelo Ferrari - Marcelo Del Debbio - Mauricio Zampieri Mikola - Mauro Caramico - Melissa Mell - Nelson Botter - Nelson Magrini - Patricia Soares - Paulo Castro - Pedro M. S. Oliveira - Raul Tabajara - Richard Diegues - Roberta Nunes - Rodrigo Venkli - Rogério Augusto - Rosana Braga - Sandra Saruê - Sergio J. G. Silva -Tati Bernardi - Tatiana Carlotti - Valter Goulart - Verônica B - William Goldoni
Conheça mais sobre a obra no site da editora: www.tarjaeditorial.com.br
24 novembro 2006
Questionamentos de Milton Hatoum
"Eu comecei a escrever esse livro, o Cinzas em 1980, lá em Madri. Ou seja, 26 anos depois é que eu concluí. Só agora consegui escrever o romance que eu gostaria de ter escrito, porque naquele momento não tinha maturidade, nem a distância temporal para abordar os temas do Cinzas. O que eu escrevi em 1980 não passava de uma crônica superficial, tinha muita tese... E um romance não pode explicar nada. Um romance é uma fonte de questões, dúvidas e ambiguidades".
Trecho da entrevista de Milton Hatoum ao Terra Magazine. Milton Hatoum, para quem não sabe, foi o vencedor do prêmio Portugal Telecom e do Jabuti deste ano por seu livro Cinzas do Norte (2006, Cia das Letras). O trecho acima chamou a minha atenção pois, sem demagogia, sempre foi o que eu achei que um romance era: uma fonte de questionamentos, não um repositório de respostas. A boa literatura deve instigar perguntas. Para respostas óbvias, leia auto-ajuda.
Este é o real trabalho do escritor: fazer o leitor pensar.
Nem que leve 26 anos para que as perguntas sejam formuladas.
23 novembro 2006
Soltando o verbo!
Ontem fui ao lançamento do livro Soltando o Verbo, pela editora Nova Esfera, do meu amigo Nelson Botter Jr.
O livro é uma seleção de crônicas ecléticas de diversos autores novos que estão surgindo por aí.
Na verdade são 20 autores, dos mais variados estilos.
Gente que não faz só espuma, não. Faz é muito barulho.
Cheguei meio puto, depois de fritar 3 horas no trânsito do Morumbi até a Pompéia.
Mas valeu.
O bar (Santa Zoé) é bem legal.
O povo, melhor ainda.
E a cerveja vem confortável em baldinhos de gelo.
Temo ficar mal acostumado.
Sobraram abraços e parabéns pela estréia do grande amigo (e grande escritor!) Fernando Alonso.
(Que já não agüenta mais piadinhas referentes ao seu homônimo mais rápido)
Aliás, injustiça, pois o Fernando (o nosso) engatou a sexta e desceu a reta a milhão.
Mal estreou e já vai lançar mais um livro semana que vem.
É que ele também está no Visões de São Paulo.
(Não esqueceu, não é? Dia 2/12, sábado, à partir das 19hs, na Casa das Rosas, sem direito a desculpas)
No cardápio, um petisco chamou nossa atenção.
No meio de fritas, calabresas e mandiocas, um nome Provocante.
Assim mesmo. Provocante. Não tinha como não pedir. Nos provocou. Pedimos.
(Confesso que só entendi o trocadilho quando os discos de provolone crocante foram colocados em nossa mesa)
Conhecemos então a simpatissíssima Luciana Muniz, que também está no livro.
Beijos, fotos, autógrafos e tchau, pois ela tinha muita gente para cumprimentar.
(Vida de autor é isso, Lu. Vai se acostumando!)
Algumas Originais depois conhecemos o cover do Phil Collins, o Léo Lousada (que também integra o escrete do livro).
Figuraça. E trocadilhista inspirado. Sérgio Naya que o diga.
O Richard Diegues aproveitou e convidou uma penca de gente fina pro lançamento do Visões de São Paulo.
(Não esqueceu, não é?)
Acabamos fechando o bar, eu e o Richard. Todos os autores já tinham ido embora.
Mas com a promessa de novos encontros.
Vou cobrar, hein?
Sucesso para todos! Vejo vocês no dia 2!
Enquanto isso, vou curtindo meu Dia da Consciência Encefálica particular.
Garçom?
21 novembro 2006
Quer pagar quanto?!
Imagine a cena: um garoto entra em uma empresa de grande porte e pede emprego. Ele será então levado até o departamento de RH, onde será entrevistado. Agora imagine uma entrevista assim:
Entrevistador: - Muito bem, qual a vaga pretendida?
Garoto: - Analista de sistemas.
E: - Ótimo! Exatamente o que estávamos procurando! Você tem um currículo?
G: - Não. Precisava?
E: - Ajudava. Mas tudo bem, você pode preencher uma ficha padrão. Vejamos: onde você se formou?
G: - Não me formei. Aliás, nem estudei em lugar nenhum...
E: - Hum, tudo bem. Mas você tem alguma experiência profissional?
G: - Nenhuma. Esta é a primeira empresa que eu entrei.
E: - Não entrou ainda. Mas e experiência em programação? Tem alguma?
G: - Arrã. Já fiz uns programinhas em Logo no computador de casa. Fiz um trenzinho que atravessava a tela. Bem bonito. Também programei bastante em Basic, no MSX do meu primo. Um programinha meu até foi publicado em uma revista...
E: - Que revista?
G: - "Micreiros". Só teve um número. Meu primo mesmo que editou. Não foi pra frente. O Xerox era muito caro.
E: (Faz um longo muxoxo)
G: - E aí? A vaga é minha?
Pausa. Qual em sua opinião seria a resposta do entrevistador? Três opções:
A alternativa B é o sonho de qualquer desempregado. Conseguir um emprego legal sem precisar estudar ou ter experiência anterior. É um emprego de mão beijada de uma empresa extremamente maternal. Já a C é o oposto. Um pesadelo completo. O pobre coitado além de trabalhar sem perspectivas de ganhos, teria que PAGAR para isso! É uma situação óbvia de golpe. Quase escravidão!
Os mais sagazes com certeza já entenderam a analogia. Sim, é sobre o mercado editorial. A alternativa A é a resposta padrão de uma editora tradicional. Perceba que o entrevistador nem se deu ao luxo de ler o programa escrito pelo garoto. E por que? Porque ele sabe que será algo que não o interessará, que não trará lucros ou benefícios de qualquer tipo à sua organização. Por outro lado a alternativa B simboliza o que um escritor espera de uma editora. É uma perspectiva irreal e fadada à decepção. Já a C, bom, ela simboliza o real objetivo destas linhas: as famigeradas "editoras sob-demanda".
E por que famigeradas? Porque elas apregoam serem "prestadoras de serviço", quando na verdade são apenas "buracos negros do seu dinheiro". Os únicos que realmente lucram com a impressão de livros sob demanda são os donos da "editora". Nem escritores nem leitores são beneficiados. Nem monetariamente, nem em termos de divulgação do trabalho. Confessa: quantos livros "artesanais" como estes você comprou espontaneamente no último ano? Aqueles lançados por seus amigos que você comprou para "dar uma força" não contam!
Entenda de uma vez: ser escritor é uma profissão como qualquer outra. Não é apenas sentar na frente de um computador e colocar uma palavra atrás da outra. Requer estudo e muita, mas MUITA prática. Requer tanta dedicação e empenho quanto qualquer outra carreira intelectual. E por que esta profissão deveria seguir padrões tão estapafúrdios como os apresentados na anedota aí em cima? Duvido muito que qualquer um aceitasse trabalhar nas condições impostas pela alternativa C. Então por que as aceitam quando se tornam escritores?
Eu sei na pele o quanto é difícil agüentar as recusas das editoras. Não é algo fácil de digerir, pois, diferente de profissionais mais "braçais" (sem ofensas), escritores se consideram Artistas (com A maiúsculo mesmo). Querem ser lidos, nem que para isso tenham que abrir mão de RECEBER pelo próprio trabalho e até mesmo PAGAR uma dinheirama para isso. É aí que estas tais "editoras sob-demanda" cravaram seus dentes. E nós, impulsionados por nossos egos inflamados e pela carência de atenção, caímos em seu golpe. Vendemos carro, fazemos empréstimos, passamos necessidades, brigamos com a família, sujamos nosso nome, fazemos o diabo em nome da arte. E todo este esforço termina na maioria das vezes com uma casa abarrotada de livros encalhados e o escritor de volta ao ponto de onde começou: desconhecido e pouco lido. Além de um pouco mais pobre.
Claro, há exceções. Todo escritor pode citar outros que saíram do anonimato bancando a primeira edição de seu primeiro livro. Mas é a velha mania de confundir as exceções com a regra. Garanto que para cada escritor que conseguiu, seja por sorte ou por competência, engrenar uma carreira de sucesso bancando o primeiro livro há pelo menos mil outros que morreram no esquecimento e no cheque especial.
Não estou de forma alguma justificando com este discurso a atitude de grande parte das editoras convencionais, que levam meses (até anos!) avaliando um original, para depois recusar sem maiores explicações, às vezes sem ao menos lerem o material. Na maioria das vezes nem mesmo respondem se sim ou se não. Simplesmente deixam o escritor se remoendo de angústia. Mas um erro não pode justificar outro muito pior. O mote de “tudo pela arte” não pode ser subvertido em uma servidão contratual consentida. É algo que não faz sentido, não deveria ser sequer cogitado por escritores aspirantes. E mesmo assim, o que vemos é a proliferação destas editoras golpistas e em sua maioria mal intencionadas, que lucram inescrupulosamente em cima do trabalho alheio. E um monte de pessoas que caem neste golpe voluntariamente.
Este é um tema espinhoso e polêmico (comentários são incentivados), que ainda vai render outros pôstes, mas este já ficou muito longo. Depois eu continuo. Mas gostaria de saber sua opinião a respeito.
Entrevistador: - Muito bem, qual a vaga pretendida?
Garoto: - Analista de sistemas.
E: - Ótimo! Exatamente o que estávamos procurando! Você tem um currículo?
G: - Não. Precisava?
E: - Ajudava. Mas tudo bem, você pode preencher uma ficha padrão. Vejamos: onde você se formou?
G: - Não me formei. Aliás, nem estudei em lugar nenhum...
E: - Hum, tudo bem. Mas você tem alguma experiência profissional?
G: - Nenhuma. Esta é a primeira empresa que eu entrei.
E: - Não entrou ainda. Mas e experiência em programação? Tem alguma?
G: - Arrã. Já fiz uns programinhas em Logo no computador de casa. Fiz um trenzinho que atravessava a tela. Bem bonito. Também programei bastante em Basic, no MSX do meu primo. Um programinha meu até foi publicado em uma revista...
E: - Que revista?
G: - "Micreiros". Só teve um número. Meu primo mesmo que editou. Não foi pra frente. O Xerox era muito caro.
E: (Faz um longo muxoxo)
G: - E aí? A vaga é minha?
Pausa. Qual em sua opinião seria a resposta do entrevistador? Três opções:
a) Desculpe, mas não temos nenhuma vaga que se encaixa em seu perfil. Passar bem.Obviamente a resposta natural seria a alternativa A. As outras poderiam fazer parte de um episódio de Além da Imaginação ou algo semelhante. Mas vamos analisá-las mesmo assim.
b) Claro! Sabe, nós somos uma empresa com veias filantrópicas. Não ligamos a mínima para ganhar dinheiro. Achamos um desafio pegar uma massa bruta como você e moldar em um profissional competente. É para isso que nós existimos, para dar a você, pobre mentecapto, uma chance de ser alguém! Seja muito bem vindo à nossa corporação!
c) Claro! Só que, veja bem, o acordo é um pouco diferente do que você está imaginando. Nós te damos a vaga, sem problemas. Só que você vai ter que pagar para a gente o seu salário. Digamos, três mil por mês está bom? Você programa para a gente nas linguagens que quiser, e caso algum cliente nosso se interessar por um programa de sua autoria, te pagamos uma mísera comissão em cima do valor de venda do programa. Que tal?
A alternativa B é o sonho de qualquer desempregado. Conseguir um emprego legal sem precisar estudar ou ter experiência anterior. É um emprego de mão beijada de uma empresa extremamente maternal. Já a C é o oposto. Um pesadelo completo. O pobre coitado além de trabalhar sem perspectivas de ganhos, teria que PAGAR para isso! É uma situação óbvia de golpe. Quase escravidão!
Os mais sagazes com certeza já entenderam a analogia. Sim, é sobre o mercado editorial. A alternativa A é a resposta padrão de uma editora tradicional. Perceba que o entrevistador nem se deu ao luxo de ler o programa escrito pelo garoto. E por que? Porque ele sabe que será algo que não o interessará, que não trará lucros ou benefícios de qualquer tipo à sua organização. Por outro lado a alternativa B simboliza o que um escritor espera de uma editora. É uma perspectiva irreal e fadada à decepção. Já a C, bom, ela simboliza o real objetivo destas linhas: as famigeradas "editoras sob-demanda".
E por que famigeradas? Porque elas apregoam serem "prestadoras de serviço", quando na verdade são apenas "buracos negros do seu dinheiro". Os únicos que realmente lucram com a impressão de livros sob demanda são os donos da "editora". Nem escritores nem leitores são beneficiados. Nem monetariamente, nem em termos de divulgação do trabalho. Confessa: quantos livros "artesanais" como estes você comprou espontaneamente no último ano? Aqueles lançados por seus amigos que você comprou para "dar uma força" não contam!
Entenda de uma vez: ser escritor é uma profissão como qualquer outra. Não é apenas sentar na frente de um computador e colocar uma palavra atrás da outra. Requer estudo e muita, mas MUITA prática. Requer tanta dedicação e empenho quanto qualquer outra carreira intelectual. E por que esta profissão deveria seguir padrões tão estapafúrdios como os apresentados na anedota aí em cima? Duvido muito que qualquer um aceitasse trabalhar nas condições impostas pela alternativa C. Então por que as aceitam quando se tornam escritores?
Eu sei na pele o quanto é difícil agüentar as recusas das editoras. Não é algo fácil de digerir, pois, diferente de profissionais mais "braçais" (sem ofensas), escritores se consideram Artistas (com A maiúsculo mesmo). Querem ser lidos, nem que para isso tenham que abrir mão de RECEBER pelo próprio trabalho e até mesmo PAGAR uma dinheirama para isso. É aí que estas tais "editoras sob-demanda" cravaram seus dentes. E nós, impulsionados por nossos egos inflamados e pela carência de atenção, caímos em seu golpe. Vendemos carro, fazemos empréstimos, passamos necessidades, brigamos com a família, sujamos nosso nome, fazemos o diabo em nome da arte. E todo este esforço termina na maioria das vezes com uma casa abarrotada de livros encalhados e o escritor de volta ao ponto de onde começou: desconhecido e pouco lido. Além de um pouco mais pobre.
Claro, há exceções. Todo escritor pode citar outros que saíram do anonimato bancando a primeira edição de seu primeiro livro. Mas é a velha mania de confundir as exceções com a regra. Garanto que para cada escritor que conseguiu, seja por sorte ou por competência, engrenar uma carreira de sucesso bancando o primeiro livro há pelo menos mil outros que morreram no esquecimento e no cheque especial.
Não estou de forma alguma justificando com este discurso a atitude de grande parte das editoras convencionais, que levam meses (até anos!) avaliando um original, para depois recusar sem maiores explicações, às vezes sem ao menos lerem o material. Na maioria das vezes nem mesmo respondem se sim ou se não. Simplesmente deixam o escritor se remoendo de angústia. Mas um erro não pode justificar outro muito pior. O mote de “tudo pela arte” não pode ser subvertido em uma servidão contratual consentida. É algo que não faz sentido, não deveria ser sequer cogitado por escritores aspirantes. E mesmo assim, o que vemos é a proliferação destas editoras golpistas e em sua maioria mal intencionadas, que lucram inescrupulosamente em cima do trabalho alheio. E um monte de pessoas que caem neste golpe voluntariamente.
Este é um tema espinhoso e polêmico (comentários são incentivados), que ainda vai render outros pôstes, mas este já ficou muito longo. Depois eu continuo. Mas gostaria de saber sua opinião a respeito.
20 novembro 2006
Bloniquei!
Se você chegou aqui por conta própria, é bom avisar: tem texto meu hoje lá no Blônicas. É, é crônica. Não, ainda não faço parte do time permanente do site. É, é diferente do que você está acostumado(a).
Agora, se você chegou aqui pelo linque no Blônicas, e quer conhecer um pouco mais deste rascunhador que vos escreve, fique à vontade. A casa é humilde mas é limpinha. Conheça os livros que já participei aí na barra do lado esquerdo. Conheça também meus outros blogues, o Psicopata Enrustido e o Antelóquios. Qualquer coisa, me xingue por emeio.
Porra, eu tô feliz!
Agora, se você chegou aqui pelo linque no Blônicas, e quer conhecer um pouco mais deste rascunhador que vos escreve, fique à vontade. A casa é humilde mas é limpinha. Conheça os livros que já participei aí na barra do lado esquerdo. Conheça também meus outros blogues, o Psicopata Enrustido e o Antelóquios. Qualquer coisa, me xingue por emeio.
Porra, eu tô feliz!
16 novembro 2006
A irmã de Zebedeu no Domingo no Parque
Pior que isto me lembrou da vez que fui ao programa Bozo e... bom, basta dizer que não ganhei o prêmio e tive que sentar ao lado de minha mãe (que estava morrendo de vergonha) na platéia.
Ah, que pena que o programa na época era gravado, não? Infelizmente minha participação ficou no chão da sala de edição. Um dia quem sabe não conto esta história?
Uma América Trans Genérica
Talvez pelo fato de eu sempre ter gostado bastante de viajar, também sempre gostei muito do gênero de filmes conhecidos como road movies. É impressionante como, durante uma jornada quase claustrofóbica, onde por mais que mudemos o cenário exterior sempre terminamos dentro de um carro ou ônibus com as mesmas pessoas, adquirimos experiências que nunca adquiriríamos caso estivéssemos em casa ou no trabalho. De uma jornada destas é difícil saír incólume. No mínimo algumas boas histórias entrarão no repertório.
Agora, quando somamos a este já rico gênero um tema polêmico, a experiência se torna ainda mais rica. E quando este tema é explorado sem paternalismos ou discursos dogmáticos, o produto final consegue o impressionante feito de não apenas ser um entretenimento de primeira, mas também instigar o espectador ao raciocínio, levantando questões que normalmente não nos preocuparíamos.
Assim é Transamerica (Idem, 2005), lançado recentemente em DVD para locação. Na história conhecemos Bree (Felicity Huffman, da supervalorizada série Desperate Housewives, completamente irreconhecível), que está a um passo de uma grande transformação em sua vida quando descobre que tem um filho de 17 anos no outro lado do país, e que ele precisa de sua ajuda. Apenas isso já seria o suficiente para gerar uma boa trama, mas há um complicador: Bree na verdade é Stanley, portador de disforia transexual. Ou seja, uma mulher que por acaso nasceu com o corpo de um homem. E a grande transformação é a aguardada cirurgia de mudança de sexo (onde, como ele(a) mesmo diz, o(a) transformará no que realmente é). Além disso, seu filho é um adolescente problemático, envolvido com drogas e prostituição.
Inicialmente reticente em encontrar o tal filho, Bree é finalmente convencida pela terapeuta a acertar o caso antes de se submeter à cirurgia. Isso a leva até Nova Iorque, onde é obrigada a confrontar-se com a dura realidade do garoto. Como não tem coragem de assumir a paternidade ao filho quando finalmente o encontra, o filme cria um núcleo cômico instigante, mesmo que trágico, que será explorado ao máximo durante a longa travessia de Nova Iorque até Los Angeles.
O filme mistura com maestria os tons cômicos e dramáticos da trama, sem nunca cair na pieguice ou na caricatura, apesar de não faltarem chances. Bree é uma personagem riquíssima, que lida com o medo e a própria situação com cinismo e ironia, ao mesmo tempo que faz questão de demonstrar possuir mais sofisticação que a maioria das pessoas. Mas os eventos que se sucedem em sua jornada apenas servem para provar que na verdade ela é uma pessoa frágil e dividida psicologicamente, que usa estes artifícios como escudo. Interpretada de maneira inspiradíssima por Felicity Huffman (o que lhe valeu com muita justiça o Globo de Ouro), Bree é na verdade um poço de angústias e traumas, mas não conseguimos evitar de simpatizar com ela, e até mesmo sorrir em seus momentos de maior desespero. O resto do elenco também está ótimo, mas o destaque fica por conta da experiente Fionnula Flanagan, que interpreta a mãe angustiada de Bree/Stanley. Suas cenas estão entre as mais engraçadas e pesadas do filme (como na cena em que ela sugere que Toby, o filho de Bree, passe a morar com ela, ao mesmo tempo em que fecha as janelas da casa, numa metáfora visual admirável em sua sutileza).
Optando por um tom leve, mas sem medo de cutucar feridas abertas da sociedade, o diretor e roteirista Duncan Tucker acerta a mão em seu filme de estréia. É um filme que agradará a todos que assistirem, independente de suas posturas ideológicas. Arrisco dizer que até mesmo a mais homofóbica das criaturas irá apreciar o tom de auto-descoberta da história, que não se limita a um tema polêmico (o transexualismo é visto de maneira quase natural, sem forçar a barra), diferente de filmes semelhantes, mas inferiores, como o engraçadinho Priscilla- A Rainha do Deserto e o pavoroso Para Wong Foo, Obrigado por tudo. Julie Newmar (que quase me fez arrancar os globos oculares depois de ver Wesley Snipes travestido).
Ao final do filme minha esposa me perguntou: "Você é capaz de escrever uma história assim tão inteligente?".
Eu espero sinceramente que um dia eu seja.
Agora, quando somamos a este já rico gênero um tema polêmico, a experiência se torna ainda mais rica. E quando este tema é explorado sem paternalismos ou discursos dogmáticos, o produto final consegue o impressionante feito de não apenas ser um entretenimento de primeira, mas também instigar o espectador ao raciocínio, levantando questões que normalmente não nos preocuparíamos.
Assim é Transamerica (Idem, 2005), lançado recentemente em DVD para locação. Na história conhecemos Bree (Felicity Huffman, da supervalorizada série Desperate Housewives, completamente irreconhecível), que está a um passo de uma grande transformação em sua vida quando descobre que tem um filho de 17 anos no outro lado do país, e que ele precisa de sua ajuda. Apenas isso já seria o suficiente para gerar uma boa trama, mas há um complicador: Bree na verdade é Stanley, portador de disforia transexual. Ou seja, uma mulher que por acaso nasceu com o corpo de um homem. E a grande transformação é a aguardada cirurgia de mudança de sexo (onde, como ele(a) mesmo diz, o(a) transformará no que realmente é). Além disso, seu filho é um adolescente problemático, envolvido com drogas e prostituição.
Inicialmente reticente em encontrar o tal filho, Bree é finalmente convencida pela terapeuta a acertar o caso antes de se submeter à cirurgia. Isso a leva até Nova Iorque, onde é obrigada a confrontar-se com a dura realidade do garoto. Como não tem coragem de assumir a paternidade ao filho quando finalmente o encontra, o filme cria um núcleo cômico instigante, mesmo que trágico, que será explorado ao máximo durante a longa travessia de Nova Iorque até Los Angeles.
O filme mistura com maestria os tons cômicos e dramáticos da trama, sem nunca cair na pieguice ou na caricatura, apesar de não faltarem chances. Bree é uma personagem riquíssima, que lida com o medo e a própria situação com cinismo e ironia, ao mesmo tempo que faz questão de demonstrar possuir mais sofisticação que a maioria das pessoas. Mas os eventos que se sucedem em sua jornada apenas servem para provar que na verdade ela é uma pessoa frágil e dividida psicologicamente, que usa estes artifícios como escudo. Interpretada de maneira inspiradíssima por Felicity Huffman (o que lhe valeu com muita justiça o Globo de Ouro), Bree é na verdade um poço de angústias e traumas, mas não conseguimos evitar de simpatizar com ela, e até mesmo sorrir em seus momentos de maior desespero. O resto do elenco também está ótimo, mas o destaque fica por conta da experiente Fionnula Flanagan, que interpreta a mãe angustiada de Bree/Stanley. Suas cenas estão entre as mais engraçadas e pesadas do filme (como na cena em que ela sugere que Toby, o filho de Bree, passe a morar com ela, ao mesmo tempo em que fecha as janelas da casa, numa metáfora visual admirável em sua sutileza).
Optando por um tom leve, mas sem medo de cutucar feridas abertas da sociedade, o diretor e roteirista Duncan Tucker acerta a mão em seu filme de estréia. É um filme que agradará a todos que assistirem, independente de suas posturas ideológicas. Arrisco dizer que até mesmo a mais homofóbica das criaturas irá apreciar o tom de auto-descoberta da história, que não se limita a um tema polêmico (o transexualismo é visto de maneira quase natural, sem forçar a barra), diferente de filmes semelhantes, mas inferiores, como o engraçadinho Priscilla- A Rainha do Deserto e o pavoroso Para Wong Foo, Obrigado por tudo. Julie Newmar (que quase me fez arrancar os globos oculares depois de ver Wesley Snipes travestido).
Ao final do filme minha esposa me perguntou: "Você é capaz de escrever uma história assim tão inteligente?".
Eu espero sinceramente que um dia eu seja.
14 novembro 2006
Antropofagias
"O instinto venceu a razão: há um chacal adormecido em cada homem".
Charles Darwin, sobre os crimes da Rua do Arvoredo.
Tim Burton já tem seu próximo projeto em andamento. Se chamará Sweeney Todd, e será um musical que contará a bizarra história de Benjamin Barker e sua ajudante, a Sra. Lovett, que na Londres de meados do século XIX consumaram um plano de vingança diabólico: atraíam seus algozes para a barbearia do protagonista (papel do queridinho do diretor, Johnny Depp), onde os degolava e, com a ajuda da Sra. Lovett (papel da esposa do diretor e igualmente habituée Helena Bonham Carter) preparavam com a carne de suas vítimas deliciosas tortas que fizeram sucesso em toda a cidade.
A história é baseada em uma peça da Brodway homônima, e tem tudo para ser mais um dos filmes com a "cara" de Tim Burton. Mas o que mais espanta não é a história em si, mas saber que a sinistra trama pode ter sido baseada em fatos reais, e, pasmem, ocorridos no Brasil. Mais especificamente entre 1863 e 64, na Rua do Arvoredo, em Porto Alegre.
A história é muito semelhante: José Ramos, bon vivant e educado, egresso de Santa Catarina (de onde fugiu após ter supostamente assassinado o próprio pai), e sua companheira, Catarina Pulse, viúva húngara nascida na Transilvânia (tinha que ser...) seduziram e assassinaram dezenas de homens nas mal iluminadas ruas da Porto Alegre do Segundo Império, e para desaparecer com as provas dos crimes preparavam lingüiças com a carne cuidadosamente destrinchada dos cadáveres de suas vítimas. Lingüiça esta que era vendida no próprio açougue de José Ramos na Rua do Arvoredo, e que eram um sucesso na cidade inteira. Dizem que até mesmo D. Pedro II as provou e elogiou. Descoberto o crime, José Ramos foi condenado à forca e Catarina Pulse foi internada em um sanatório, onde morreu anos depois.
A história do casal que transformou grande parte dos habitantes da cidade em canibais foi tratada como lenda urbana por muito tempo, tendo sido abafada na época de sua descoberta (apesar de ter sido noticiada em jornais da França e Uruguai, além de ter inspirado a citação de Charles Darwin no início deste pôste). Um dos poucos livros que tratam do assunto foi escrito pelo falecido historiador Décio Freitas, intitulado O Maior Crime da Terra (Ed. Sulina, 1996). Outro, lançado recentemente é Canibais — Paixão e Morte na Rua do Arvoredo (LP&M Editores, 2004), de David Coimbra, que se utiliza de diversas licenças poéticas e mistura fatos e ficção num folhetim que fará torcer o nariz de muita gente que procura por mais a respeito dos verdadeiros fatos ocorridos nas ruas e becos mal iluminados de Porto Alegre, apesar do livro ter sido escrito em conjunto com o próprio Décio Freitas. Lido sem espectativas ou como entretenimento é bastante válido, mas para uma análise mais acurada do evento o livro de Décio Freitas é bem mais fiel aos fatos (principalmente por conta do final, completamente fictício no livro de David Coimbra).
Acho difícil que Tim Burton credite esta história em sua versão musicada para os cinemas, o que é uma pena. Duvido até mesmo que ele realmente saiba da suposta origem da história que está filmando. Mas fica aqui o registro, uma justiça histórica quixotesca de minha parte, nem que seja apenas para gerar comentários após a exibição do filme, num boteco, junto com cerveja e uma irônica porção de calabresa fatiada.
Saideira
Estava dando uma volta pelo blogue do Neil Gaiman quando vi por lá este video do genial Coral Reclamante de Helsinki. É longo, mas vale cada segundo.
Ah, as legendas são em inglês, então...
Agora vou dormir que amanhã é meu rodízio.
Ah, as legendas são em inglês, então...
Agora vou dormir que amanhã é meu rodízio.
Two for the road
[I] No pôste anterior mencionei os tais widgets que podiam ser adicionados à página inicial do Google. Então depois de fuçar um pouco descobri que era possível fazer o mesmo com este blogue mequetrefe. Então, caso você queira adicionar o Gardenal com Fanta Uva à sua página inicial do Google, apenas tem que clicar no botão aí embaixo. Fiz o mesmo com o Psicopata Enrustido e o Antelóquios. É só ir até lá e clicar sobre o mesmo botão, que está na barra lateral de ambos, embaixo do botão "I power Blogger".
[II] Acabei de finalizar o capítulo 26. Finalmente está fluindo! Já são 110 páginas A4.
[II] Acabei de finalizar o capítulo 26. Finalmente está fluindo! Já são 110 páginas A4.
13 novembro 2006
Desbloqueando a aleatoriedade
Não sei quantos de vocês conhecem a nova ferramenta do Google, que permite que você crie uma página personalizada com diversos widgets, alguns úteis (como visualizar as novas mensagens em sua conta no GMail ou os arquivos guardados no Google Notebook), outros nem tanto, mas mesmo assim divertidos (Citações, notícias, RSS Feed de blogues...), e outros completamente inúteis (Joguinhos toscos, ferramentas que não servem pra nada, enchedores de lingüiça, etc), mas que também podem ser muitos divertidos.
Entre estes últimos tem um que é muito legal (mesmo sendo completamente imbecil). É um "desbloqueador" de escritores. Ele cria uma seqüência de frases aleatórias que, em tese, podem inspirar um escritor a escrever algo. É mais ou menos um navio pirata para um náufrago.
Hoje de manhã me deparei com o seguinte na tal ferramenta:
Tradução:
Uma esposa comete adultério
Com uma garrafa de uísque vagabundo (!!).
Além da janela a cena é bucólica;
o telefone toca,
enquanto abutres bicam os restos (de algum cadáver?).
Não sei até que ponto esta seqüência de frases embaralhadas podem inspirar alguém a escrever algo além de um pôste num blogue, mas que é algo muito divertido imaginar um marido sendo traído com uma garrafa de uísque vagabundo, isso é. Freud daria piruetas de alegria. Dançou na boquinha da garrafa.
O ponto que quero explorar é a questão que já comentei aqui da mistificação da criação literária. A grande maioria acha que é preciso apenas um retalho de idéia para que o "iluminado" escritor saia por aí criando obras-primas e divisores de águas da literatura ocidental (quiçá mundial, olha aí!).
O verdadeiro escritor sabe que não é bem assim, não é? É claro, grande parte da criação se baseia em um farrapo de idéia que com muito trabalho e pesquisa cresce e se torna algo coeso, mas até aí automatizar o processo simplesmente embaralhando frases ao acaso é forçar bastante a barra. É nivelar a criação por baixo.
Mas que é divertido, isso é.
Entre estes últimos tem um que é muito legal (mesmo sendo completamente imbecil). É um "desbloqueador" de escritores. Ele cria uma seqüência de frases aleatórias que, em tese, podem inspirar um escritor a escrever algo. É mais ou menos um navio pirata para um náufrago.
Hoje de manhã me deparei com o seguinte na tal ferramenta:
Tradução:
Uma esposa comete adultério
Com uma garrafa de uísque vagabundo (!!).
Além da janela a cena é bucólica;
o telefone toca,
enquanto abutres bicam os restos (de algum cadáver?).
Não sei até que ponto esta seqüência de frases embaralhadas podem inspirar alguém a escrever algo além de um pôste num blogue, mas que é algo muito divertido imaginar um marido sendo traído com uma garrafa de uísque vagabundo, isso é. Freud daria piruetas de alegria. Dançou na boquinha da garrafa.
O ponto que quero explorar é a questão que já comentei aqui da mistificação da criação literária. A grande maioria acha que é preciso apenas um retalho de idéia para que o "iluminado" escritor saia por aí criando obras-primas e divisores de águas da literatura ocidental (quiçá mundial, olha aí!).
O verdadeiro escritor sabe que não é bem assim, não é? É claro, grande parte da criação se baseia em um farrapo de idéia que com muito trabalho e pesquisa cresce e se torna algo coeso, mas até aí automatizar o processo simplesmente embaralhando frases ao acaso é forçar bastante a barra. É nivelar a criação por baixo.
Mas que é divertido, isso é.
11 novembro 2006
10 novembro 2006
Sobre Escrever (Parte 4)
O Sérgio Rodrigues, do blogue Todoprosa, está em meio a uma polêmica em seu espaço para comentários. Dois leitores estão argumentado sobre o mercado editorial, avaliando o papel dos famigerados best-sellers frente à literatura. Seriam apenas produtos descartáveis de consumo para as massas ou eles realmente agregam algo à arte literária?
Sérgio deixa bem clara sua posição: os best-sellers ajudam sim a literatura como um todo pois a viabiliza financeiramente. Diz ele que um sucesso editorial financia outros seis autores mais obscuros. É um ponto de vista válido (e, temo, real). Mas acho que este é um ponto de vista baseado apenas em alguns poucos exemplos (como o daquele código, que já virou exemplo para tudo, ou daquele mago que viaja de trem pela Sibéria).
Há uma tendência entre nós, autores, de menosprezar o leitor médio. Dizemos que, se uma obra vem numa linguagem mais simples, mais acessível aos "não iniciados", ela é popular, é lixo radioativo em forma de livro. Pois uma coisa eu digo batendo as mãos no peito: leitores não são burros.
É muito fácil um escritor culpar o leitor por sua incapacidade de vendas. É uma saída covarde, pois se o leitor médio não comprou, às vezes não é porque não entendeu, mas porque simplesmente não gostou do texto, ou da abordagem utilizada, ou da maneira que a história foi contada, etc. Leitores não são o gado que a maioria dos escritores gostaria que fossem. Eles tem, sim, espírito crítico. E dos mais implacáveis. Eles percebem quando são enganados, quando tentam enrolá-los com frases empoladas e pseudo-lirismo enchedor de lingüiça.
A questão da simplicidade narrativa é um paradigma que todo escritor acaba sendo tragado quando realmente adentra neste meio. Deixamos de lado as obras essenciais que nos arrastaram para este ofício (a maioria, confessa!, constituída de best-sellers) e começamos a ler os tais "malditos". Fazemos experimentos narrativos, usamos e abusamos de metáforas exageradas e obscuras e de vocabulários desnecessariamente burlescos, tentamos de qualquer maneira fugir do tão famigerado lugar-comum. E passamos a achar que a linguagem coloquial é algo pernicioso, ruim, pobre. Neste momento esquecemos do principal: que em momento algum a forma deve se sobrepor ao conteúdo.
Somos escritores para contar histórias, e para contá-las da maneira mais interessante possível. À medida que nossas histórias vão ganhando em complexidade narrativa, afunilamos seu alcance. Não por culpa do leitor médio, mas por nossa egolatria. Esquecemos que o importante é que o leitor se divirta lendo aquele texto. E quem, excetuando-se claro críticos literários e estudantes de letras, gosta de ler um texto que precisa ser analisado, destrinchado e esmiuçado até sua massa primordial para que possa ser finalmente compreendido? O leitor médio quer ler uma só vez e entender de primeira. Claro, há espaço para releituras e análises mais profundas, mas se ele precisar de uma picareta para quebrar a concha de hermetismo de um romance, logo o tachará de ruim. Mesmo que a crítica especializada fale maravilhas.
Claro que com isso não tento limitar a criatividade de ninguém. A forma é importante, e deve sim ser levada muito em conta. Mas, como eu disse, ela não pode ser mais importante do que a história em si. Senão vira, com o perdão da expressão, apenas uma penteadeira de puta, uma masturbação em um banheiro público.
Da mesma maneira não jogo na mesma bacia todos os best-sellers. Alguns deles conseguem alcançar o que a maioria dos escritores sempre buscou: originalidade narrativa e sucesso editorial. Mas é um resultado difícil de se alcançar, especialmente porque a fórmula possui tantas variáveis que aposto que nem o Oswald de Souza conseguiria tirar um denominador comum. É o grande desafio que os editores encaram todos os dias: este original que tenho em mãos será um sucesso de público e crítica? E a maior pergunta de todas: Dará dinheiro?
Pois até o mundo literário não pode viver só de letras (ah, a utopia primordial!). E é graças aos tais best-sellers, como professa Sérgio Rodrigues, que escritores como eu ainda tem esperança de ver um livro só seu publicado.
P.S.: Terminei ontem o capítulo 25 do meu terceiro futuro best-seller. Ainda faltam 15. Não precisa agradecer.
Sérgio deixa bem clara sua posição: os best-sellers ajudam sim a literatura como um todo pois a viabiliza financeiramente. Diz ele que um sucesso editorial financia outros seis autores mais obscuros. É um ponto de vista válido (e, temo, real). Mas acho que este é um ponto de vista baseado apenas em alguns poucos exemplos (como o daquele código, que já virou exemplo para tudo, ou daquele mago que viaja de trem pela Sibéria).
Há uma tendência entre nós, autores, de menosprezar o leitor médio. Dizemos que, se uma obra vem numa linguagem mais simples, mais acessível aos "não iniciados", ela é popular, é lixo radioativo em forma de livro. Pois uma coisa eu digo batendo as mãos no peito: leitores não são burros.
É muito fácil um escritor culpar o leitor por sua incapacidade de vendas. É uma saída covarde, pois se o leitor médio não comprou, às vezes não é porque não entendeu, mas porque simplesmente não gostou do texto, ou da abordagem utilizada, ou da maneira que a história foi contada, etc. Leitores não são o gado que a maioria dos escritores gostaria que fossem. Eles tem, sim, espírito crítico. E dos mais implacáveis. Eles percebem quando são enganados, quando tentam enrolá-los com frases empoladas e pseudo-lirismo enchedor de lingüiça.
A questão da simplicidade narrativa é um paradigma que todo escritor acaba sendo tragado quando realmente adentra neste meio. Deixamos de lado as obras essenciais que nos arrastaram para este ofício (a maioria, confessa!, constituída de best-sellers) e começamos a ler os tais "malditos". Fazemos experimentos narrativos, usamos e abusamos de metáforas exageradas e obscuras e de vocabulários desnecessariamente burlescos, tentamos de qualquer maneira fugir do tão famigerado lugar-comum. E passamos a achar que a linguagem coloquial é algo pernicioso, ruim, pobre. Neste momento esquecemos do principal: que em momento algum a forma deve se sobrepor ao conteúdo.
Somos escritores para contar histórias, e para contá-las da maneira mais interessante possível. À medida que nossas histórias vão ganhando em complexidade narrativa, afunilamos seu alcance. Não por culpa do leitor médio, mas por nossa egolatria. Esquecemos que o importante é que o leitor se divirta lendo aquele texto. E quem, excetuando-se claro críticos literários e estudantes de letras, gosta de ler um texto que precisa ser analisado, destrinchado e esmiuçado até sua massa primordial para que possa ser finalmente compreendido? O leitor médio quer ler uma só vez e entender de primeira. Claro, há espaço para releituras e análises mais profundas, mas se ele precisar de uma picareta para quebrar a concha de hermetismo de um romance, logo o tachará de ruim. Mesmo que a crítica especializada fale maravilhas.
Claro que com isso não tento limitar a criatividade de ninguém. A forma é importante, e deve sim ser levada muito em conta. Mas, como eu disse, ela não pode ser mais importante do que a história em si. Senão vira, com o perdão da expressão, apenas uma penteadeira de puta, uma masturbação em um banheiro público.
Da mesma maneira não jogo na mesma bacia todos os best-sellers. Alguns deles conseguem alcançar o que a maioria dos escritores sempre buscou: originalidade narrativa e sucesso editorial. Mas é um resultado difícil de se alcançar, especialmente porque a fórmula possui tantas variáveis que aposto que nem o Oswald de Souza conseguiria tirar um denominador comum. É o grande desafio que os editores encaram todos os dias: este original que tenho em mãos será um sucesso de público e crítica? E a maior pergunta de todas: Dará dinheiro?
Pois até o mundo literário não pode viver só de letras (ah, a utopia primordial!). E é graças aos tais best-sellers, como professa Sérgio Rodrigues, que escritores como eu ainda tem esperança de ver um livro só seu publicado.
P.S.: Terminei ontem o capítulo 25 do meu terceiro futuro best-seller. Ainda faltam 15. Não precisa agradecer.
09 novembro 2006
Pílulas no liqüidificador
- Poisé, agora a coisa deu uma maneirada.
- Menos aqui no serviço, é claro, pois o projeto está no fim.
- E quando terminar, ele será saudado pelos Quarto Cavaleiros do Apocalipse como mais um fiel aliado.
- É um projeto 8 ou 8000.
- Ou sou promovido ou sou demitido.
- Mas o mais provável é que eu fique na mesma.
- Mesmo.
- Começou oficialmente a divulgação do lançamento do Visões de São Paulo.
- Ajude de uma só vez 50 autores.
- Convide todo mundo.
- Muita bobagem, muita cerveja.
- Mas também muita coisa boa a dar frutos.
- Aguardem.
- Hoje, piriri.
- Amanhã, sabe-se lá.
- Chega.
07 novembro 2006
Face lift no Zebedeu
Poisé, aproveitei que tava no embalo do rodízio e dei um tapa no blogue do Psicopata Enrustido.
Para ver como ficou, clique aqui.
Seqüestro oficial da internet
O portal da revista Info Exame lançou uma campanha contra o famigerado e estapafúrdio projeto de lei que tenciona limar as liberdades individuais dos usuários brasileiros de internet. A idéia é entupir a caixa postal do autor do projeto, Eduardo Azeredo (PSDB-MG) com mensagens de repúdio à idéia.
Para quem tem preguiça de elaborar uma mensagem, o portal ainda ajuda disponibilizando um formulário com uma mensagem pré-redigida padrão.
Segue abaixo a transcição da notícia:
Para quem tem preguiça de elaborar uma mensagem, o portal ainda ajuda disponibilizando um formulário com uma mensagem pré-redigida padrão.
Segue abaixo a transcição da notícia:
Quer protestar contra o seqüestro da web?
Terça-feira, 07 de novembro de 2006 - 10h51
SÃO PAULO - O Senado analisa, nesta quarta-feira (8), um projeto de lei que vai tornar obrigatório identificar-se burocraticamente com dados pessoais a cada vez que um usuário se conectar à internet.
Os provedores serão obrigados ainda a armazenar dados sobre o tráfego na web e o conteúdo de discussões em fóruns e salas de bate-papo. A pena prevista para quem desobedecer a nova lei será de 2 a 4 anos de detenção.
Se você deseja se manifestar contra o projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), coloque seu nome e e-mail neste formulário e envie uma mensagem ao autor da idéia.
Felipe Zmoginski, do Plantão INFO
Fonte: http://info.abril.com.br/aberto/infonews/112006/07112006-4.shlMeio cheio
[a] Recebi finalmente uma resposta da editora para onde mandei meus originais. Pediram mais tempo para analisar o material. Ainda não é uma aprovação, mas tampouco é uma recusa, certo? Otimismo e caldo de galinha são duas coisas insossas e insatisfatórias.
[b] Você não se esqueceu do lançamento do Visões de São Paulo, esqueceu? Não se esqueça, vai ser no dia 2 de dezembro, sábado, a partir das 19hs lá na Casa das Rosas. Quero ver todo mundo lá para evaziarmos esta metade renitente.
[b] Você não se esqueceu do lançamento do Visões de São Paulo, esqueceu? Não se esqueça, vai ser no dia 2 de dezembro, sábado, a partir das 19hs lá na Casa das Rosas. Quero ver todo mundo lá para evaziarmos esta metade renitente.
06 novembro 2006
Psicopata Enrustido - Pau de Fogo
Poisé, tem pôste novo lá no blogue do Psicopata Enrustido:
http://psicopataenrustido.blogspot.com
E vocês sabem como ele adooora um comentário...
http://psicopataenrustido.blogspot.com
E vocês sabem como ele adooora um comentário...
O Grande Truque
Christopher Nolan parece ser um cara legal. Depois de mandar muito bem em Amnésia (Memento, 2000) e não tão bem em Insônia (Insomnia, 2002), ele trouxe de volta a dignidade do Cavaleiro das Trevas no bom Batman Begins (Idem, 2005). E é por isso que quando eu soube que ele se uniria novamente ao irmão (com quem trabalhou em Amnésia) para roteirizar O Grande Truque (The Prestige, 2006), aguardei ansioso pelo resultado. Quando a lista de elenco finalmente saiu, com Christian Bale (O Psicopata Americano), Hugh Jackman (o eterno Wolverine), Sir Michael Caine e a deliciosa Scarlett Johansson, eu sabia que seria com certeza um grande filme. Ainda mais sendo uma história sobre ilusionistas rivais na virada do século XIX para XX. Não tinha como dar errado.
E o que será que aconteceu?
Não que o filme seja particularmente ruim, mas realmente deixa muito a desejar. Tem grandes méritos, como a narrativa alinear e fotografia impecável, além das atuações excepcionais dos protagonistas, que nunca nos deixam confundi-los com os personagens que os deixaram famosos. A trama é instigante e cheia de reviravoltas. Até as participações de David Bowie (o eterno Ziggy Stardust) e Andy Serkis (o Gollum daquela trilogia) como o cientista croata Nikola Tesla e seu assistente são bem dosadas e interessantes.
O grande problema de O Grande Truque está no fato do diretor/co-roteirista se esquecer da essência do ilusionismo. Nolan esquece que, para enganar a platéia, o bom ilusionista deve desviar sua atenção para o plano geral, enquanto esconde subrepticamente os pormenores que acontecem nos bastidores. Mas estes detalhes estão pouco sutis e com isso a trama logo se torna óbvia. Duvido que alguém um pouco menos distraído não saque o filme logo no meio. E, como todo bom mágico sabe, quando a platéia descobre que tudo não passa de um truque com fumaças e espelhos, a ilusão perde toda a magia (sem trocadilhos). Foi o que aconteceu.
O filme não desmerece o valor do ingresso. É interessante, divertido e tal. Mas é um filme que tenta desesperadamente parecer mais do que realmente é. Talvez seja este o tal "grande truque" do título traduzido.
Infelizmente, este não me pegou.
Mamãe não voltou do supermercado - Mário Bortolotto
A premissa é boa: um rapaz recebe a notícia de que sua mãe foi morta com dois tiros na testa quando retornava do supermercado. Caio, o tal filho, depois de um período de alienação para digerir a notícia, cai no mundo tentando desvendar aquela morte tão sem sentido, e com isso acaba se envolvendo com o submundo do crime.
Assim começa Mamãe não voltou do supermercado, de Mário Bortolotto, lançado recentemente pelo selo EraOdito do Marcelino Freire em conjunto com a Editora Alaúde (a mesma da Coleção Necrópole). O livro tem um acabamento simplificado, meio pulp, mas bonito o suficiente para não fazer feio numa prateleira. O preço é justo.
É o livro de estréia de Mário Bortolotto, e logo de cara se vê a veia teatral do autor. Os capítulos são curtos, enxutos, de rápida leitura e fácil assimilação. Há uma preocupação nos diálogos (apesar dele usar a forma anglicana com aspas, que eu particularmente acho pouco elegante) e a narrativa sempre tenta parecer divertida, cheia de tiradas e sacadas interessantes. O anti-herói Caio consegue segurar as pontas em uma narrativa deste calibre, apesar de não ser um personagem dos mais interessantes, sendo um aglomerado de clichês de Domingo Maior.
Mas o grande problema do livro é que ele em momento algum cumpre as expectativas, nunca realmente diz a que veio. É mais ou menos como um Western Spaghetti passado no Brasil no século XXI (não acho que a referência a Faroeste Caboclo, do Legião Urbana, tenha sido apenas casual). Começa interessante, descamba para a baixaria desenfreada e a violência gratuita, e termina com um "Ah, tá, acabou, beleza...". É um livro raso, descartável, sem realmente muita relevância. As mortes e atrocidades se empilham, nublando julgamentos por parte do leitor. Depois de alguns capítulos já sabemos que nada importante sairá daquilo. Na verdade, pouco nos importamos. A tentativa de reviravolta ao final chega tarde, e é rápida demais para se tornar marcante.
Seu único mérito está na forma como a história é contada, em primeira pessoa pelo protagonista, numa narrativa leve e fluida, apesar de, por vezes, ser muito "culta", cheia de referências desnecessárias e que apenas servem para tentar colocar um pouco de conteúdo no fraco protagonista. Sem sucesso. Além disso os diálogos incorporam de forma pouco interessante os erros gramaticais e gírias. Tudo soa meio falso, forçado, como se o autor tivesse realmente pouca segurança ao escrever as falas dos personagens.
Este é o primeiro livro que leio da recém lançada Coleção Bactéria (que foi nomeada graças ao Sebo do Bac, que "incubou" os autores lançados), mas espero sinceramente que o resto dos Malditos da Praça Roosevelt façam melhor pela coleção que este fraco volume.
Serviço:
Mamãe não voltou do Supermercado
Mário Bortolotto
Coleção Bactéria
eraOdito editora
R$10,00
Compre aqui
04 novembro 2006
Quem é morto sempre aparece
Há quem diga que foi uma das maiores do mundo. Pode ser. Pra mim foi animal. Fora a chuva, que brochou metade da zumbizada e escorreu muita maquiagem, o Zombie Walk SP foi uma das coisas mais divertidas que fiz nos últimos anos. Teve de tudo. Desopilou o cérebro e deixou uma certeza: em 2007 eu vou de novo!
Abaixo dois videos do evento. O primeiro, uma montagem feita por um dos participantes. Coisa fina. O outro é a matéria que passou no jornal do CNT no mesmo dia. Impagável é a cara da repórter no final.
Abaixo dois videos do evento. O primeiro, uma montagem feita por um dos participantes. Coisa fina. O outro é a matéria que passou no jornal do CNT no mesmo dia. Impagável é a cara da repórter no final.
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