10 novembro 2006

Sobre Escrever (Parte 4)

O Sérgio Rodrigues, do blogue Todoprosa, está em meio a uma polêmica em seu espaço para comentários. Dois leitores estão argumentado sobre o mercado editorial, avaliando o papel dos famigerados best-sellers frente à literatura. Seriam apenas produtos descartáveis de consumo para as massas ou eles realmente agregam algo à arte literária?

Sérgio deixa bem clara sua posição: os best-sellers ajudam sim a literatura como um todo pois a viabiliza financeiramente. Diz ele que um sucesso editorial financia outros seis autores mais obscuros. É um ponto de vista válido (e, temo, real). Mas acho que este é um ponto de vista baseado apenas em alguns poucos exemplos (como o daquele código, que já virou exemplo para tudo, ou daquele mago que viaja de trem pela Sibéria).

Há uma tendência entre nós, autores, de menosprezar o leitor médio. Dizemos que, se uma obra vem numa linguagem mais simples, mais acessível aos "não iniciados", ela é popular, é lixo radioativo em forma de livro. Pois uma coisa eu digo batendo as mãos no peito: leitores não são burros.

É muito fácil um escritor culpar o leitor por sua incapacidade de vendas. É uma saída covarde, pois se o leitor médio não comprou, às vezes não é porque não entendeu, mas porque simplesmente não gostou do texto, ou da abordagem utilizada, ou da maneira que a história foi contada, etc. Leitores não são o gado que a maioria dos escritores gostaria que fossem. Eles tem, sim, espírito crítico. E dos mais implacáveis. Eles percebem quando são enganados, quando tentam enrolá-los com frases empoladas e pseudo-lirismo enchedor de lingüiça.

A questão da simplicidade narrativa é um paradigma que todo escritor acaba sendo tragado quando realmente adentra neste meio. Deixamos de lado as obras essenciais que nos arrastaram para este ofício (a maioria, confessa!, constituída de best-sellers) e começamos a ler os tais "malditos". Fazemos experimentos narrativos, usamos e abusamos de metáforas exageradas e obscuras e de vocabulários desnecessariamente burlescos, tentamos de qualquer maneira fugir do tão famigerado lugar-comum. E passamos a achar que a linguagem coloquial é algo pernicioso, ruim, pobre. Neste momento esquecemos do principal: que em momento algum a forma deve se sobrepor ao conteúdo.

Somos escritores para contar histórias, e para contá-las da maneira mais interessante possível. À medida que nossas histórias vão ganhando em complexidade narrativa, afunilamos seu alcance. Não por culpa do leitor médio, mas por nossa egolatria. Esquecemos que o importante é que o leitor se divirta lendo aquele texto. E quem, excetuando-se claro críticos literários e estudantes de letras, gosta de ler um texto que precisa ser analisado, destrinchado e esmiuçado até sua massa primordial para que possa ser finalmente compreendido? O leitor médio quer ler uma só vez e entender de primeira. Claro, há espaço para releituras e análises mais profundas, mas se ele precisar de uma picareta para quebrar a concha de hermetismo de um romance, logo o tachará de ruim. Mesmo que a crítica especializada fale maravilhas.

Claro que com isso não tento limitar a criatividade de ninguém. A forma é importante, e deve sim ser levada muito em conta. Mas, como eu disse, ela não pode ser mais importante do que a história em si. Senão vira, com o perdão da expressão, apenas uma penteadeira de puta, uma masturbação em um banheiro público.

Da mesma maneira não jogo na mesma bacia todos os best-sellers. Alguns deles conseguem alcançar o que a maioria dos escritores sempre buscou: originalidade narrativa e sucesso editorial. Mas é um resultado difícil de se alcançar, especialmente porque a fórmula possui tantas variáveis que aposto que nem o Oswald de Souza conseguiria tirar um denominador comum. É o grande desafio que os editores encaram todos os dias: este original que tenho em mãos será um sucesso de público e crítica? E a maior pergunta de todas: Dará dinheiro?

Pois até o mundo literário não pode viver só de letras (ah, a utopia primordial!). E é graças aos tais best-sellers, como professa Sérgio Rodrigues, que escritores como eu ainda tem esperança de ver um livro só seu publicado.

P.S.: Terminei ontem o capítulo 25 do meu terceiro futuro best-seller. Ainda faltam 15. Não precisa agradecer.

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