06 novembro 2006
Mamãe não voltou do supermercado - Mário Bortolotto
A premissa é boa: um rapaz recebe a notícia de que sua mãe foi morta com dois tiros na testa quando retornava do supermercado. Caio, o tal filho, depois de um período de alienação para digerir a notícia, cai no mundo tentando desvendar aquela morte tão sem sentido, e com isso acaba se envolvendo com o submundo do crime.
Assim começa Mamãe não voltou do supermercado, de Mário Bortolotto, lançado recentemente pelo selo EraOdito do Marcelino Freire em conjunto com a Editora Alaúde (a mesma da Coleção Necrópole). O livro tem um acabamento simplificado, meio pulp, mas bonito o suficiente para não fazer feio numa prateleira. O preço é justo.
É o livro de estréia de Mário Bortolotto, e logo de cara se vê a veia teatral do autor. Os capítulos são curtos, enxutos, de rápida leitura e fácil assimilação. Há uma preocupação nos diálogos (apesar dele usar a forma anglicana com aspas, que eu particularmente acho pouco elegante) e a narrativa sempre tenta parecer divertida, cheia de tiradas e sacadas interessantes. O anti-herói Caio consegue segurar as pontas em uma narrativa deste calibre, apesar de não ser um personagem dos mais interessantes, sendo um aglomerado de clichês de Domingo Maior.
Mas o grande problema do livro é que ele em momento algum cumpre as expectativas, nunca realmente diz a que veio. É mais ou menos como um Western Spaghetti passado no Brasil no século XXI (não acho que a referência a Faroeste Caboclo, do Legião Urbana, tenha sido apenas casual). Começa interessante, descamba para a baixaria desenfreada e a violência gratuita, e termina com um "Ah, tá, acabou, beleza...". É um livro raso, descartável, sem realmente muita relevância. As mortes e atrocidades se empilham, nublando julgamentos por parte do leitor. Depois de alguns capítulos já sabemos que nada importante sairá daquilo. Na verdade, pouco nos importamos. A tentativa de reviravolta ao final chega tarde, e é rápida demais para se tornar marcante.
Seu único mérito está na forma como a história é contada, em primeira pessoa pelo protagonista, numa narrativa leve e fluida, apesar de, por vezes, ser muito "culta", cheia de referências desnecessárias e que apenas servem para tentar colocar um pouco de conteúdo no fraco protagonista. Sem sucesso. Além disso os diálogos incorporam de forma pouco interessante os erros gramaticais e gírias. Tudo soa meio falso, forçado, como se o autor tivesse realmente pouca segurança ao escrever as falas dos personagens.
Este é o primeiro livro que leio da recém lançada Coleção Bactéria (que foi nomeada graças ao Sebo do Bac, que "incubou" os autores lançados), mas espero sinceramente que o resto dos Malditos da Praça Roosevelt façam melhor pela coleção que este fraco volume.
Serviço:
Mamãe não voltou do Supermercado
Mário Bortolotto
Coleção Bactéria
eraOdito editora
R$10,00
Compre aqui
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