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Entre estes olhos está o nariz, um pouco maior do que a estética rígida manda, mas e daí? Não são os detalhes, mas o conjunto da obra que importa. A somatória. Pequenos defeitos que, no conjunto se tornam grandes qualidades. Idiossincrasias que a definem, que a distanciam dos lugares comuns, mas que de forma alguma a limitam. Não ela. Nunca, Eva.
Logo abaixo do nariz está a boca, grande, meio carnuda mas sem exageros, que pede lascivamente por um beijo. Beijo que ela desvalorizará, jogará ao chão e cuspirá em cima. E você agradecerá, só para vê-la sorrir altiva de sua idolatria irracional. Uma boca devoradora. Devastadora.
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Eva Green me marcou com tintas indeléveis. Sim, ela fica nua no filme, mas sua nudez neste filme não é apenas erótica, é um vulcão de pseudo-libertinagem em uma avalanche de inocência, por mais contraditórios que possam ser estes conceitos. Sua nudez explica porque nossos pais lutaram tanto pelo amor livre na era pré-AIDS. É impossível não se apaixonar por ela. Não há como evitar.
Depois ela atuou no fraco Cruzada (Kingdom of Heaven, 2005), de Ridley Scott, mas estava tão fantasiada que quase não a reconheci. Agora ela é uma Bond Girl, pronta para entrar no Time A das estrelas, ser esmiuçada, abusada, ultraexplorada, mastigada e jogada fora. Uma pena, uma pena.
Mas para mim, ela será eternamente a Isabelle daquele apartamento na Paris de 1968, inexpuganável, irretocável, indefectível. A Isabelle tão apaixonada pela vida que é capaz de se matar apenas para não vê-la definhar. É esta a Eva Green que povoará meus sonhos. As outras eu jogo à multidão.
Ah, Isabelle...
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