Seu nome é Eva Green, e eu poderia tecer milhares de poemas cafonas utilizando apenas o seu prenome, mas prefiro me concentrar em seus olhos. Veja a figura ao lado e me diga que não é verdade. Olhos meio caídos, meio blasé, meio nem aí com o que você pensa, que as más línguas logo chamariam de "olhos de peixe morto". Bobagem. Inveja pura. Olhos de peixe morto tem a Angélica. Eva Green não tem nada morto. Muito pelo contrário.
Entre estes olhos está o nariz, um pouco maior do que a estética rígida manda, mas e daí? Não são os detalhes, mas o conjunto da obra que importa. A somatória. Pequenos defeitos que, no conjunto se tornam grandes qualidades. Idiossincrasias que a definem, que a distanciam dos lugares comuns, mas que de forma alguma a limitam. Não ela. Nunca, Eva.
Logo abaixo do nariz está a boca, grande, meio carnuda mas sem exageros, que pede lascivamente por um beijo. Beijo que ela desvalorizará, jogará ao chão e cuspirá em cima. E você agradecerá, só para vê-la sorrir altiva de sua idolatria irracional. Uma boca devoradora. Devastadora.
Eva surgiu para mim pela primeira vez no filme seminal de Bernardo Bertollucci, Os Sonhadores (The Dreamers, 2003). Lá ela atua como uma garota parisiense apaixonada por cinema que, junto com seu irmão gêmeo, seduzem um americano que compartilha suas paixões pela sétima arte. Os três fazem um triângulo sensual e incestuoso, passando os dias em um apartamento, durante os conflitos estudantis que marcaram Paris em 1968. O filme é ótimo, vale a pena assistir, coisa e tal, mas não sou crítico de cinema. Prefiro retornar à minha musa.
Eva Green me marcou com tintas indeléveis. Sim, ela fica nua no filme, mas sua nudez neste filme não é apenas erótica, é um vulcão de pseudo-libertinagem em uma avalanche de inocência, por mais contraditórios que possam ser estes conceitos. Sua nudez explica porque nossos pais lutaram tanto pelo amor livre na era pré-AIDS. É impossível não se apaixonar por ela. Não há como evitar.
Depois ela atuou no fraco Cruzada (Kingdom of Heaven, 2005), de Ridley Scott, mas estava tão fantasiada que quase não a reconheci. Agora ela é uma Bond Girl, pronta para entrar no Time A das estrelas, ser esmiuçada, abusada, ultraexplorada, mastigada e jogada fora. Uma pena, uma pena.
Mas para mim, ela será eternamente a Isabelle daquele apartamento na Paris de 1968, inexpuganável, irretocável, indefectível. A Isabelle tão apaixonada pela vida que é capaz de se matar apenas para não vê-la definhar. É esta a Eva Green que povoará meus sonhos. As outras eu jogo à multidão.
Ah, Isabelle...
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