11 junho 2008

Mesas Redondas de Literatura na Livraria Cultura

No sábado, 14 de junho, as 17hs, a Livraria Cultura do Shopping Market Place apresentará uma mesa-redonda que terá como tema a literatura de gênero chamada de Fantasia.

No encontro, que terá a presença de escritores e editores do gênero, serão debatidos temas relevantes a respeito da literatura especulativa e sobre o mercado editorial. A mesa-redonda será composta da seguinte maneira:

Participantes
Cláudio Villa (autor do romance de fantasia, Pelo Sangue e Pela Fé)
Orlando Paes Filho (autor da série, Angus Saga)
Delfín (coordenador editorial da Editora Aleph)
Sílvio Alexandre (organizador da Fantasticon)
Rogério de Campos (editor-chefe da Editora Conrad)
Gianpaolo Celli (editor-chefe da Tarja Editorial)

Mediadora
Ana Cristina Rodrigues (Presidente da CLFC)

Apoio do CLFC, Clube de Leitores de Ficção Científica.



Já no dia 28 de junho, também às 17hs e no mesmo local será a vez do tema Literatura de Suspense/Terror, que será composta da seguinte maneira:

Participantes
André Vianco (autor de Os Sete, entre outros)
J. Modesto (autor de Trevas)
Martha Argel (autora de O Livro dos Contos Enfeitiçados)
Giulia Moon (autora de A Dama Morcega)
Alexandre Heredia (autor de O Legado de Bathory)
Liz Marins (co-autora de O Livro Negro dos Vampiros)

Mediador
Carlos Martinho Orsi (autor de Tempos de Fúria)

Apoio do CLFC, Oficina de Produção e Estudos de Literatura Fantástica.


Onde?
Livraria Cultura Market Place Shopping Center -
Av. Chucri Zaidan, 902 - São Paulo/SP

Quanto custa?
Entrada franca e gratuita.


É isso ai. Está feito o convite. Estarei lá como espectador no primeiro e participarei da discussão no segundo. Marquem na agenda.

Conto com a presença de todo mundo, hein?

04 junho 2008

A Vingança de Cotoco

[politicamente-incorreto]

Lembram-se da piada do Cotoco?

De memória, um resumo: Estava Cotoco (deficiente sem os braços e as pernas) sentado à beira-mar, quando de repente chega um bêbado e joga-o na água. Cotoco tenta desesperadamente nadar, mas a ausência de membros (sem duplo sentido) o impossibilita. Antes de afundar ele ouve o bêbado gritando: "Vai, tartaruguinha, vai!"

Fique esperto, Sr. Bêbado, pois essa tartaruguinha é ninja!

[/politicamente-incorreto]

29 maio 2008

Gente estranha

Sempre me considerei um cara esquisito.

Não acho isso nenhum demérito. Ser normal é chato. Maçante. É legal ter consciência que ninguém sabe como você reagirá a determinado estímulo. Essa imprevisibilidade das pessoas estranhas é o que nos dá nosso maior charme.

Claro que, sendo um auto-proclamado estranho, poucas coisas deveriam me surpreender. Nada mais distante da realidade. Sempre que penso ser um cara muito estranho aparecem umas figuras que jogam minhas expectativas por terra.

Por exemplo: o que leva uma criatura a perder tempo útil criando um BIFE DE PAPEL?


É isso mesmo, um bife, com prato, garfo e faca, feito inteiramente de papel, como naquelas dobraduras que vinham antigamente nas caixas de sucrilhos. Tanta coisa interessante e divertida pra fazer e os caras perdem tempo com um BIFE?!?

E o pior: ficou legal. Claro, você achava sinceramente que eu não ia fazer uma coisa destas? Ficou bom mesmo. Como diria Obelix: Esses japoneses são uns loucos.

Quem quiser fazer um desses também, é só baixar os esquemas daqui. Mas se te chamarem de estranho depois não reclame.

Mas a coisa ainda piora. Vejam esse video abaixo. É um guia para ter um gato feito por engennheiros! Genial. Absolutamente genial. Insano, é claro, e um tanto perturbador em alguns momentos, mas ainda assim genial. Assistam:



Preciso melhorar muito ainda pra chegar aos pés desses caras...

25 maio 2008

Maturidade


A garota que chora sangue de Mark Ryden cresceu:


E, pelo que dizem, hoje só chora sangue uma vez por mês.

(Foto encontrada no excelente blog Peladas do Mulambo, dica do genial Dahmer)

22 maio 2008

Telhado de Vidro

Uma ótima e honesta resenha de meu mais recente romance, O Legado de Bathory, foi publicada no portal Homem Nerd. Para lê-la na íntegra, é só clicar aqui.

Eles já haviam resenhado outro livro que participei, Necrópole - Histórias de Vampiros e mantiveram a coerência. Para ler esta também é só clicar aqui.

Valeu, galera do Homem Nerd! Que venham as próximas!

19 maio 2008

Sobre a criação dos personagens

Direto ao ponto: histórias são feitas por personagens.

Sendo assim o primeiro passo após definido o tema de um romance é a criação dos personagens. Considero essa uma etapa essencial. De nada adianta uma idéia excelente se ela for baseada em personagens ruins. E por "personagens ruins" entenda bidimensionais, estereotipados ou com motivações incoerentes. Personagens que surgem com o único propósito de ajudar o escritor a seguir sua idéia em frente, sem realmente acrescentar nada de útil à trama. Descartáveis. Forçados. Ruins.

Criar um personagem bom não é tarefa fácil. Seres humanos são complexos. Possuem idiossincrasias que os definem. Históricos complexos, traumas, motivações, qualidades e defeitos. Ninguém é completamente bom ou mal como numa galáxia muito, muito distante. Os tempos são outros. Os leitores não engolem mais personagens esquemáticos. Eles precisam crer que as atitudes de determinada pessoa em determinada situação são racionais, coerentes com o histórico, com as experiências e moral de cada um deles. E não apenas no que foi narrado pela história. A não ser que você esteja escrevendo um épico que atravessa gerações e gerações, suas tramas se centrarão em apenas um momento na vida de cada personagem. Mas e o que aconteceu antes disso? O que levou o protagonista a atirar a namorada pela janela ao invés de tentar salvá-la? Por que o antagonista jurou vingança à humanidade? Teria sido ele vítima de abuso infantil por um padre safado numa paróquia esquecida por deus? Ou ele sofre de uma patologia rara e incurável? São dados importantes. Ninguém toma uma atitude boa ou má simplesmente ao acaso. Todas as nossas decisões levam em conta nossa experiência, e seus personagens devem fazer o mesmo.

Mas como fazer isso? Como elaborar um personagem não apenas tridimensional, mas também crível e coerente? Em suma: como é que o escritor pode bricar de deus de uma maneira prática e sem ficar louco antes mesmo de escrever a primeira linha de seu romance?

Não é fácil, eu sei, mas é uma etapa importante e não deve de maneira alguma ser negligenciada. Sem personagens bons sua história, por mais genial e original que seja, vai afundar. Não tem jeito, então mãos à obra.

Aqui vou descrever brevemente o meu método de criação de personagens. Não é uma regra e nem foi escrito em pedra. É o MEU método. Você pode utilizar ou não. Pode aproveitar alguns aspectos e descartar outros. O método realmente não interessa. O importante é que ao final de seu trabalho você tenha material suficiente para escrever sua história de maneira fluida e, acima de tudo, sem forçar a trama ou criar situações inverossímeis que apenas irão afastar seus leitores.

Quem já jogou RPG sabe que uma das partes mais cansativas do jogo é a criação dos personagens. É a burocracia necessária para uma aventura mais divertida. Aqui o princípio é o mesmo, diferenciando-se apenas o fato de eu não utilizar dados, fichas ou estatísticas para a criação do personagem. Claro que nada impede que você faça o mesmo, mas eu sinceramente não recomendo pelo simples fato de que seu romance não é um jogo. Mas divago.

Comece pelo básico. Nome, gênero, raça. "João da Silva, masculino, hispânico". Só isso. Eu costumava escrever essas informações em fichas de papel ou mesmo Post-its. Hoje há programas que cumprem essas tarefas de maneira bastante satisfatória, como o Celtix e o yWriter. Eu uso o último, pois o primeiro é mais voltado a roteiros, mas é uma escolha pessoal. O importante é você se organizar. De novo, o método pouco importa, desde que haja um.

O próximo passo é estabelecer se há alguma ligação entre os personagens criados. Relações de amizade, inimizade, parentesco ou afetivas. Defina isso com frases simples. "Fulano é namorado de Beltrana". "Beltrana é senhoria de Cicrano". Se não houver relação alguma, não coloque. Se haverá alguma relação durante a trama coloque isso no tempo futuro: "Maria se apaixonará por José". Simples assim. Você já terá a base para a parte mais complicada: o histórico pessoal de cada um.

Este é o momento crítico. O histórico do personagem irá criar toda a personalidade do mesmo. Será essencial para que a trama flua de maneira coerente. Isole-se por um momento. reflita bastante. Visualize a pessoa, sua história. Baseie-se em sua própria experiência pessoal. Em experiências alheias. Inspire-se em pessoas reais. Observe. Analise. E então escreva. Não um trecho do livro, nada disso. Escreva uma mini-biografia do personagem. Descreva a história do personagem. Desde sua infância. Coloque pontos chave de sua vida, daqueles que moldam o caráter. Traumas, lições, experiências marcantes. Detalhe o máximo possível, sem se preocupar se determinada minúcia é exagerada. Pode ser que seja. Pode ser que seja essencial no decorrer da trama. Não importa agora. Apenas crie um pessoa. Não se preocupe com sua história ainda.

"Mas Alexandre, se eu não me preocupar com a história, como vou saber se o personagem se encaixará na trama?". Boa pergunta. Você não sabe ainda. Mas é isso o que torna o personagem interessante. É isso que irá fazer com que o leitor tenha empatia por ele. Guie a biografia para que seu fim seja o início da sua história, mas sem forçar ou exagerar. Cuidado com as interferências de seu ego. Se ao final da criação você perceber que o personagem não se encaixa à sua trama há duas possibilidades: modifique a premissa inicial ou reescreva o personagem. Você vai ver que esses casos são raros. Mas esta postura ajuda muito na criação de um personagem rico e uma história interessante.

Note que essas biografias nunca serão realmente lidas por alguém além de você. Não figurarão desta maneira em nenhuma parte de sua obra. Serão apenas material de consulta seu. Ao final da realização serão apenas arquivo morto. Sendo assim não se preocupe com a forma como você descreve, desde que seja claro o suficiente para você utilizar durante a realização da obra. Pode ser escrito na forma de mini-conto ou numa lista de fatos. Ou um misto dos dois. Tanto faz.

E por qual personagem começar? Obviamente o primeiro impulso é pelo protagonista. Refreie este impulso. Como já disse Hemingway: "O primeiro rascunho de qualquer texto é sempre uma merda". Não desperdice esse primeiro rascunho com o personagem mais importante de sua trama. Descreva os coadjuvantes antes. Há personagens basicamente de três graus de importância, em ordem decrescente: Protagonistas, Coadjuvantes e de Apoio. Há os figurantes também mas se você for descrever todo figurante que aparecer há uma grande chance de você morrer louco antes de escrever um parágrafo sequer. Eu descrevo apenas protagonistas e coadjuvantes. Personagens de apoio não precisam ser exatamente tridimensionais, visto que sua criação normalmente ocorre durante a realização da obra em si. Alguns merecem um tratamento mais detalhado, mas a maioria apenas estará lá para tornar o texto mais crível ou para guiar o protagonista de alguma maneira em alguma direção específica. Não se preocupe. Vamos em frente.

A vantagem de criar os coadjuvantes antes é simples: seu protagonista será, ao final das contas, uma soma dos coadjuvantes. Após criar os coadjuvantes a criação do protagoniasta será mais fácil e mais coerente. Tente e comprove o que estou falando.

Perca mais tempo nos protagonistas. Seja mais detalhado que com os coadjuvantes. Crie TUDO que for referente a ele, desde qualidades e defeitos até seu prato favorito, seus filmes e livros prediletos, características físicas marcantes, traumas, manias, derrotas e vitórias. Seja preciosista. Sua trama será carregada nos ombros deste personagem. Sua idéia genial só será assim considerada caso este personagem específico ganhar a simpatia do leitor, para o bem ou para o mal, então não economize agora. Essa é uma técnica excelente para evitar bloqueios futuros, pode acreditar.

Ufa! Que trabalhão, né? Pois é. A essa altura você já deve estar me chamando de maluco para baixo (isso se teve fôlego para chegar até aqui). Pode ser. Não nego a possibilidade. Mas este é o meu método de criação. Se é insanidade ou não só o tempo dirá. Não encare isso como uma bula nem nada semelhante. Crie seu próprio método, seja criativo. Não há regras, apenas conselhos. O importante é que ao final de todo este trabalho personagens ricos e tridimensionais sejam criados. O leitor agradecerá.

O próximo passo é delinear a trama essencial do livro, mas isso eu deixo para o próximo papo.

Fecho este texto então com um delicioso chavão:
Não existem personagens pretos ou brancos. Somos todos feitos de tonalidades de cinza.

05 maio 2008

Começou!

Após longo e tenebroso inverno eis que este escritor cabeludo que vos digita (hummm...) finalmente começou a escrever seu próximo romance.

Sim, sim, tomei vergonha na cara e decidi que já enrolei demais. A pesquisa continua, é claro, assim como o planejamento que vai levar quase que o mesmo tempo da realização. Mas o importante é que finalmente saí do tal "bloqueio criativo" e estou escrevendo.

Pretendo colocar por aqui, numa freqüência maior que a normal, o log completo dos trabalhos. Desta maneira acho que posso contribuir um pouco não só realizando a obra, mas também esclarecendo alguns pontos que considero interessantes no processo criativo em si. Sei lá, alguém por aí pode achar útil. Vai saber?

Para este livro decidi até o momento apenas duas coisas: Será um tema incômodo (socialmente falando) e não será linear como meus outros romances (Sim, no plural mesmo. Aguardem novidades).

A tema já está definido. E é BEM incômodo. E tende a escalar. Preparem seus estômagos.

Já a segunda ainda estou definindo como vou fazer. Não pretendo seguir fórmulas como de Lost ou de Matadouro 5, por exemplo. Mas tampouco tenho medo de usar algumas destas técnicas caso elas se mostrem orgânicas à trama. Só preciso tomar cuidado para que o texto não se torne um simples pastiche mau amarrado. É (usando um clichê) uma linha bem tênue. Vai necessitar de revisões completas antes, durante e depois de escrever.

Mas quem disse mesmo que escrever é fácil?

27 março 2008

Novamente sobre o mercado literário...

O escritor e crítico literário David J. Montgomery (o figurinha aí do lado) escreveu no blog Crime Fiction Dossier dois interessantes artigos a respeito do mercado literário. Como ambos estão em inglês (aqui e aqui), traduzo alguns trechos que considerei bastante pertinentes para escritores "iniciantes" (sim, me incluo nesta categoria):
Quer conseguir um agente literário? Escreva um livro ótimo.
Quer ser publicado? Escreva um livro ótimo.
Quer ser resenhado? Escreva um livro ótimo.
Quer vender um monte de cópias? Escreva um livro ótimo.

Ok, é um tanto monótono. Mas também é verdade. A coisa mais importante que um escritor para conseguir sua melhor chance para o sucesso é escrever um livro ótimo. Isso impulsiona todo o resto.
Não é nesta tecla que venho martelado incansavelmente nas últimas semanas? Ser publicado apenas pelo fato de ser publicado é uma realização medíocre, para dizer o mínimo. Se o seu sonho é ver seu livro simplesmente impresso como livro, leve-o a uma gráfica. Se quer vê-lo na prateleira de uma livraria, é necessário escrever ao menos algo razoável. Quer receber boas críticas, virar um best-seller e ser respeitado? Escreva um livro ótimo. Quer ganhar a vida escrevendo? Mude de país. Mas divago.
Uma dica que sempre dou foi-me dada nos comentários pelo autor Phil Hawley:

"Sempre achei que você só deveria escrever um romance se você tiver uma história que está implorando para sair".

Isso é tão certo! Tem que ser algo que está queimando dentro de você, alguma história que você precisa contar; o tipo de coisa que lhe deixa acordado à noite porque você não consegue parar de pensar nela. Muitos livros, eu acho, são escritos simplesmente porque o autor desejou (ou necessitou) escrever um livro. Não há paixão. Alguns escritores conseguirão se dar bem assim, mas se o resto de nós for tentar, acho que estaremos em apuros.
Neste caso cito a resposta de Marcelino Freire quando perguntaram porque ele não estava escrevendo nada naquele momento: "Porque não tenho nada a dizer". Perfeito.

No outro artigo ele discorre sobre decisões que nós, escritores novatos, temos que tomar quando chega a hora de decidir COMO ser publicado. São dicas que se aplicam muito ao concorrido mercado norte-americano. Mas, guardadas as devidas proporções, podem ser replicadas também em nosso mercado engatinhante. É aquele velho lance que se coloca entre ser lançado por uma editora comercial ou de forma independente (perceba que nem cogito as morféticas "editoras sob demanda"). Destaco o trecho abaixo:
Como escritores não publicados, temos que pensar bastante sobre nossas carreiras e decidir o que exatamente queremos dela. Se o objetivo é simplesmente ser publicado a decisão é muito mais simples. Encontre um agente (nota: ou editora, no caso do Brasil) que esteja razoavelmente estusiasmado com seu projeto e torça para que ele possa vendê-lo. Em qualquer lugar. Então relaxe e curta seu livro sendo impresso. Você pode até vender outro, pode não querer lucrar um centavo dele, mas você será para sempre um autor publicado. E isso não é nada para se menosprezar.

Mas se você está nessa pela grande jornada; se você está procurando pelo tipo de sucesso a longo prazo que se constrói livro após livro, que o mantém nas prateleiras, que assegure que você possa viver disso... Bem, então as decisões são muito mais difíceis, e podem ser algumas vezes muito mais dolorosas de se tomar.
Já fui um autor não publicado e sei exatamente o que ele quer dizer com isso. Já tive que lidar com portas na cara, recusas sintéticas, orçamentos (brrr...) e até mesmo aprovações que poderiam muito bem se tornar fracassos retumbantes. Claro, depois de 4 livros lançados não posso dizer que eu seja um fracasso, mas tampouco posso ser considerado um sucesso absoluto de público e de crítica. Longe disso. Tomei decisões, não me arrependo delas, mas talvez se eu tivesse esperado um pouco mais eu estivesse numa situação completamente diferente hoje em dia. Quem sabe?

O lance é que muito do objetivo da literatura tem se perdido por conta do mercado. Escritores devem escrever não pelo glamour, pela fama ou pelo dinheiro. Devem escrever pelo prazer de contar uma boa história para o maior número de pessoas possível. Esse deveria ser o objetivo primordial. Mas não é o que vemos por aí. Estamos vivendo uma era que até a produção literária foi bigbrotherizada: busca-se a fama pela fama apenas. Estaríamos todos virando clones da Paris Hilton?

É assunto para se pensar com bastante carinho. Enquanto isso, siga o conselho dado e, por favor, apenas escreva quando tiver uma história que valha a pena ser contada e publicada. Subliteratura é simplesmente uma desculpa para incompetência.

E ficar famoso pela incompetência não deveria ser o objetivo de ninguém. Sério.

25 março 2008

Alcova Literária

Um casal de escritores. Uma cama. Nenhuma roupa.

Ele: - E agora?

Ela: - Não sei. Quer transar?

Ele: - Não. Transar é muito prosaico, muito mundano. Estava pensando em algo mais, não sei...

Ela: - Literário?

Ele: - Isso! Quero beber letras fluindo da tua boca. Quero ver suas metáforas, mesóclises, paródias, metonímias, parasíntetos...

Ela: - Se quiser eu posso fazer um soneto.

Ele: - Livre-me de sua métrica! De onde você tirou que poesia caberia numa cama? Esta é a suprema contradição. Não estamos nos masturbando.

Ela: - Não fale por mim. Não crie recordatórios alheios. Recordatórios são pretéritos, uma fotografia em sépia manchada.

Ele: - Bela analogia.

Ela: - Obrigado. Mas mudemos o tempo verbal. Não falemos do que faremos, mas façamos o que falamos.

Ele: - Não. Saímos do prosaico e entramos no intelectualóide. Sem escalas ou mesmo partituras.

Ela: - E daí?

Ele: - E daí que pensar muito me brocha. Boa noite.

Mini-conto #3: Surpresa

- Que MERDA é essa?! - exclamou a Madre Superiora ao entrar na sacristia.

24 março 2008

Mini-conto #2: Rebeldia

Era tão rebelde, mas tão rebelde que decidiu virar machista.

Mini-conto #1: Frustração

Tinha uma vida tão desinteressante que todos estranharam sua reação quando soube que heradara uma fortuna:

- Merda! Acabou o sossego.

11 março 2008

Água Fria

Eu sei, eu sei...

Para um blogue criado para ser voltado à literatura e tudo o mais, nas últimas semanas (ou meses, vá lá!) apenas tenho colocado gracinhas e bobagens como trocentos outros blogues por aí. Qual é a puta da diferença entre este espaço e a tonelada de disseminadores de humor rasteiro que a gente tanto gosta ler, já que não precisa pensar?

Pois é.

Nenhuma.

O lance é que simplesmente não estou escrevendo. Simples assim. Passo os dias arrumando desculpas divertidas, perdendo neurônios e idéias nos ralos de bar. Uma fuga não hedonística, mas quase dionísica. E não escrevo.

Ando lendo bastante, isso é verdade. Não tanto quanto na época que eu trabalhava na locadora de livros de minha mãe, mas com uma freqüência impensável há um ano. Quem me conhece sabe que faz este tempo que certas mudanças drásticas aconteceram em minha vida. Eu poderia usar isso como desculpa, mas não seria verdade. Não totalmente. Tanto que cheguei a terminar um livro nos meses subseqüentes. Poderia também culpar o novo estilo de vida que escolhi (não, mãe, não virei gay, fica sossegada), mas isso seria completamente injusto. Poderia passar a noite inteira aqui caçando culpados.

Mas culpados de quê?

Certa vez li (não lembro onde) que o escritor entra em bloqueio quando não sabe como continuar a história, porque não fez a lição de casa completa. Não sabe. Simples assim. Bom, ia contra-argumentar contra essa teoria, mas é bobagem. Ela está certa. Isso realmente acontece. Mas temo que não neste caso.

Posso divagar?

A literatura nasce de nosso egocentrismo. De escrever nosso nome no Mármore Eterno da História. Quando o primeiro grande egocêntrico descobriu que se ele escrevesse suas aventuras elas durariam muito mais do que se apenas as contasse, percebeu imediatamente que também igualaria uma caracterítica inerente dos deuses: a imortalidade!

(Trompetes estridentes!)

Bom, ao menos o mais próximo da imortalidade que se pode chegar...

(Oboé decrescendo)

É verdade. Todos que tentam fazer qualquer coisa excepcional tem esse desejo. Não apenas na literatura, mas em toda e qualquer expressão dita "artística". Sério. Foda-se dinheiro, fama, poder. O que realmente queremos é que nosso nome e nossa história continue após nossa morte (se bem que acho que ninguém se importaria com o resto enquanto a hora não chega, não é?).

Mas hoje vemos cada vez mais pessoas tendo acesso a este tipo de sonho.

(Sim, é hora de reminiscências amargas de um escritor azedo. Lide com isso. Engole o choro!)

Cada vez mais pessoas decobrem que é possível completar o Trinômio Essencial da Vida (você sabe: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro...). E pior, de uma maneira acessível. Tirando as conseqüências explosiva na taxa de natalidade do caminho, além de, claro, evitar de tentar manter uma relação coerente à recente explosão ecológica e a tal "reposição de carbono" (tá, eu volto), o lance é simples: TODO MUNDO SE ACHA ESCRITOR.

Não estou realmente reclamando. Ei, eu sou um deles, dos pobres iludidos incapazes de compor uma música ou pintar um quadro ou mesmo esculpir uma bola com massa de modelar que de repente perceberam que há uma maneira de se expressar artisticamente acessível.

A explosão de blogues contribuiu, é claro. Agora não podemos apenas escrever. Podemos realmente SER LIDOS fora de nosso círculo familiar e de amigos. Isso é importante. Isso é uma revolução!

(Ximbau explode)

Mas é uma revolução bem chata.

(Bumbo!)

E é por essa chatice que andei bodeando de escrever. Sei lá, mas gosto demais da literatura para ficar vendo-a ser massacrada por uma enchurrada de Caçadores de Imortalidade Fácil. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo: Fácil é o meu cacete!

Alguns pôstes atrás eu disse que para escrever um escritor põe a bunda na cadeira e ESCREVE. Simples assim, certo?

Claro que não, pô! Não estava lendo o que escrevi até agora? Se precisar ler de novo sinta-se à vontade. Eu espero.

Pronto?

Não digo isso levando em conta técnicas, estilos, gramática, essas coisas. Claro, pois esse conhecimento é essencial, por mais que os "novos autores" não aceitem. Mas não é só por isso. Não mesmo.

Cada vez que alguém senta a bunda na cadeira e começa a escrever, deve escrever como se aquela obra fosse mudar a história do mundo, a maneira de pensar de uma pessoa ou de uma sociedade. Deve almejar sempre que seja uma obra-prima. Não se contentar com a mediocridade. Não ser mesquinho com sua criatividade. Sair do rasteiro, do descartável. Entrar realmente na tal imortalidade que nosso ego tanto deseja.

E acho que é por isso realmente que não estou escrevendo.

Não encontro minha obra prima. Não encontro uma história que eu queira não só contar, mas moldar, criar, desenvolver, analisar, me surpreender. Ultimamente tenho vivido mais do que narrado. É bom. Não me arrependo, mesmo sentindo uma falta monstruosa de escrever, de passar horas na frente de um computador queimando a retina numa história que flua de maneira deliciosa e que, com sorte, será admirada. Não me arrependo realmente. Mas sinto uma falta danada.

Aos meus leitores (eu sei que vocês estão aí) um alento: meus próximos dois livros já estão prontos. Espero vê-los em breve publicados para que vocês os leiam. Além do mais andei participando de algumas coleções que em breve estarão estourando nas livrarias. Pode deixar que aviso aqui (e, quem sabe, acolá). Desse modo tenho alguma folga para continuar em busca de minha obra-prima.

Aos que vieram aqui atrás de qualquer outra coisa e se decepcionaram: bom, dane-se.

Ah, fim da divagação.

Vou dormir.

Da série "Idéias que eu gostaria de ter tido"