Eu sei, eu sei...
Para um blogue criado para ser voltado à literatura e tudo o mais, nas últimas semanas (ou meses, vá lá!) apenas tenho colocado gracinhas e bobagens como trocentos outros blogues por aí. Qual é a puta da diferença entre este espaço e a tonelada de disseminadores de humor rasteiro que a gente tanto gosta ler, já que não precisa pensar?
Pois é.
Nenhuma.
O lance é que simplesmente não estou escrevendo. Simples assim. Passo os dias arrumando desculpas divertidas, perdendo neurônios e idéias nos ralos de bar. Uma fuga não hedonística, mas quase dionísica. E não escrevo.
Ando lendo bastante, isso é verdade. Não tanto quanto na época que eu trabalhava na locadora de livros de minha mãe, mas com uma freqüência impensável há um ano. Quem me conhece sabe que faz este tempo que certas mudanças drásticas aconteceram em minha vida. Eu poderia usar isso como desculpa, mas não seria verdade. Não totalmente. Tanto que cheguei a terminar um livro nos meses subseqüentes. Poderia também culpar o novo estilo de vida que escolhi (não, mãe, não virei gay, fica sossegada), mas isso seria completamente injusto. Poderia passar a noite inteira aqui caçando culpados.
Mas culpados de quê?
Certa vez li (não lembro onde) que o escritor entra em bloqueio quando não sabe como continuar a história, porque não fez a lição de casa completa. Não sabe. Simples assim. Bom, ia contra-argumentar contra essa teoria, mas é bobagem. Ela está certa. Isso realmente acontece. Mas temo que não neste caso.
Posso divagar?
A literatura nasce de nosso egocentrismo. De escrever nosso nome no Mármore Eterno da História. Quando o primeiro grande egocêntrico descobriu que se ele escrevesse suas aventuras elas durariam muito mais do que se apenas as contasse, percebeu imediatamente que também igualaria uma caracterítica inerente dos deuses: a imortalidade!
(Trompetes estridentes!)
Bom, ao menos o mais próximo da imortalidade que se pode chegar...
(Oboé decrescendo)
É verdade. Todos que tentam fazer qualquer coisa excepcional tem esse desejo. Não apenas na literatura, mas em toda e qualquer expressão dita "artística". Sério. Foda-se dinheiro, fama, poder. O que realmente queremos é que nosso nome e nossa história continue após nossa morte (se bem que acho que ninguém se importaria com o resto enquanto a hora não chega, não é?).
Mas hoje vemos cada vez mais pessoas tendo acesso a este tipo de sonho.
(Sim, é hora de reminiscências amargas de um escritor azedo. Lide com isso. Engole o choro!)
Cada vez mais pessoas decobrem que é possível completar o Trinômio Essencial da Vida (você sabe: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro...). E pior, de uma maneira acessível. Tirando as conseqüências explosiva na taxa de natalidade do caminho, além de, claro, evitar de tentar manter uma relação coerente à recente explosão ecológica e a tal "reposição de carbono" (tá, eu volto), o lance é simples: TODO MUNDO SE ACHA ESCRITOR.
Não estou realmente reclamando. Ei, eu sou um deles, dos pobres iludidos incapazes de compor uma música ou pintar um quadro ou mesmo esculpir uma bola com massa de modelar que de repente perceberam que há uma maneira de se expressar artisticamente acessível.
A explosão de blogues contribuiu, é claro. Agora não podemos apenas escrever. Podemos realmente SER LIDOS fora de nosso círculo familiar e de amigos. Isso é importante. Isso é uma revolução!
(Ximbau explode)
Mas é uma revolução bem chata.
(Bumbo!)
E é por essa chatice que andei bodeando de escrever. Sei lá, mas gosto demais da literatura para ficar vendo-a ser massacrada por uma enchurrada de Caçadores de Imortalidade Fácil. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo: Fácil é o meu cacete!
Alguns pôstes atrás eu disse que para escrever um escritor põe a bunda na cadeira e ESCREVE. Simples assim, certo?
Claro que não, pô! Não estava lendo o que escrevi até agora? Se precisar ler de novo sinta-se à vontade. Eu espero.
Pronto?
Não digo isso levando em conta técnicas, estilos, gramática, essas coisas. Claro, pois esse conhecimento é essencial, por mais que os "novos autores" não aceitem. Mas não é só por isso. Não mesmo.
Cada vez que alguém senta a bunda na cadeira e começa a escrever, deve escrever como se aquela obra fosse mudar a história do mundo, a maneira de pensar de uma pessoa ou de uma sociedade. Deve almejar sempre que seja uma obra-prima. Não se contentar com a mediocridade. Não ser mesquinho com sua criatividade. Sair do rasteiro, do descartável. Entrar realmente na tal imortalidade que nosso ego tanto deseja.
E acho que é por isso realmente que não estou escrevendo.
Não encontro minha obra prima. Não encontro uma história que eu queira não só contar, mas moldar, criar, desenvolver, analisar, me surpreender. Ultimamente tenho vivido mais do que narrado. É bom. Não me arrependo, mesmo sentindo uma falta monstruosa de escrever, de passar horas na frente de um computador queimando a retina numa história que flua de maneira deliciosa e que, com sorte, será admirada. Não me arrependo realmente. Mas sinto uma falta danada.
Aos meus leitores (eu sei que vocês estão aí) um alento: meus próximos dois livros já estão prontos. Espero vê-los em breve publicados para que vocês os leiam. Além do mais andei participando de algumas coleções que em breve estarão estourando nas livrarias. Pode deixar que aviso aqui (e, quem sabe, acolá). Desse modo tenho alguma folga para continuar em busca de minha obra-prima.
Aos que vieram aqui atrás de qualquer outra coisa e se decepcionaram: bom, dane-se.
Ah, fim da divagação.
Vou dormir.
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