Claro, todos nós nos decepcionamos quando vimos essa migração finalmente ocorrer (citando alguns de cabeça: Resident Evil, Alone in the Dark, Bloodrayne, Doom...), em grande parte por culpa de roteiristas pouco familiarizados com os jogos adaptados e diretores incompetentes (alguém casse a licença do tal Uwe Boll antes que ele acabe com um de meus jogos favoritos, Postal!). Mas, se analisarmos friamente, o problema das adaptações de games para os cinemas cai no mesmo problema da adaptação de livros: são mídias completamente diferentes. Não há como comparar.
Um filme tem uma duração média de 2 horas. Um game com história (RPGs, adventures, essas coisas) pode levar de 12 a 200 horas para ser finalizado. Não tem como condensar tudo isso em uma trama simplificada sem sacrificar alguma coisa. E neste sacrifício invariavelmente algo valioso se perde, e a obra fica aquela coisa sem gosto que testemunhamos. Para cada Senhor dos Anéis que encontramos somos obrigados a engolir mais de uma dúzia de bobagens inassistíveis.
E qual seria o caminho do meio?
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Na trama acompanhamos o destino de Lucas Kane, um cara comum que certa noite surta e mata uma pessoa no banheiro de uma lanchonete. Sem entender o que o levou a cometer tal ato, Lucas precisa investigar os fatos que culminaram naquele momento trágico e inexplicável de sua vida. Ao mesmo tempo acompanhamos os detetives Carla Valenti e Tyler na investigação do crime.
O foco narrativo (sim, tem isso!) varia constantemente entre estes personagens principais, gerando uma imensa contradição na mente do jogador. Ao mesmo tempo em que tentamos ajudar Lucas a desvendar seu mistério e fugir da polícia, ajudamos a polícia a perseguí-lo. Esta contradição é tão bem entremeada à narrativa que nos pegamos várias vezes torcendo por lados opostos na história. E, surpreendentemente, funciona muito bem!
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Claro, o game tem diversas falhas. Os gráficos são meio antiquados, mesmo com uma placa de video mais parruda; a jogabilidade, apesar de bastante inovadora, ainda é muito engessada em certos pontos, obrigando o usuário de PC a adquirir um joypad de PS2 para conseguir jogar a contento; os movimentos de câmera são confusos e chegam a atrapalhar em alguns momentos, essas coisas. Mas o importante é que o jogo deu uma boa sacudida no gênero, demonstrando que há sim uma nova mídia por aí. E que o futuro pode estar nesta brecha ainda pouco explorada.
Vale a pena prestar atenção à esta evolução.
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