04 janeiro 2007

Popularização? Eu quero é qualidade!

Vejam a citação do dia hoje no site Quotes of the Day:
"We've heard that a million monkeys at a million keyboards could produce the complete works of Shakespeare; now, thanks to the Internet, we know that is not true."
- Robert Wilensky
Tradução: "Nos disseram que um milhão de macacos com um milhão de teclados poderiam produzir a obra completa de Shakespeare; agora, graças à Internet, sabemos que isto não é verdade."

Não sei quem é Robert Wilensky, mas este raciocínio divertido me remeteu à uma de minhas teorias menos simpáticas: de que a popularização da internet não é assim uma coisa tão boa quanto alardeiam. Claro, temos agora uma ferramenta que permite que qualquer um possa se expressar livremente, seja ele um multimilionário em sua mansão de concreto e vidro ou apenas um pé-rapado em um cybercafé. Isso abre um milhão de possibilidades, de novidades, de portas antes apenas imaginadas.

E onde chegamos com toda esta liberdade recém-adquirida?

É triste constatar, mas vemos que graças a esta popularização da liberdade de expressão chegamos apenas a uma explosão de idiotas que de repente descobriram que tem voz ativa e que, armados da famigerada Síndrome do Copy+Paste e de uma flagrante deficiência ética, saem despejando todo tipo de absurdo inenarrável pela rede. Nenhuma informação captada a esmo tem credibilidade nem embasamento. A internet se transformou numa imensa brincadeira de Telefone-sem-fio globalizada.

Não, não vou encarnar o Zebedeu e sair por aí reclamando de comentários e das críticas. Não confundam o criador (com 'c' minúsculo) com a criatura (com ego maiúsculo). Para falar a verdade gosto dos comentários, aprecio receber críticas em tempo real, gosto da interatividade proporcionada por esta nova mídia. Mas confesso que esta interação não interfere tanto assim na minha produção criativa quanto pode se imaginar, que não faz tanta diferença no que vou escrever ou não a seguir. Escrevo para ser lido, é claro, mas isso não vem ao caso, então voltemos ao assunto em questão.

Ontem li no blogue Contraditorium uma porrada de textos referentes a temática de blogues, estratégias para se tornar, em sua definição, um ProBlogger (ou um blogueiro profissional), suas defesas a respeito desta mídia em específico e aquilo me deixou com a pulga. Há muita coisa que concordo, muitas que discordo, mas em momento algum parei e pensei em deixar um comentário. Não sei por que, acho que apenas por conta de um ranço jurássico de ser meramente o receptor da mensagem, não o interlocutor. Sou fascinado por leitura, mas nunca precisei pensar em questões a serem ditas aos autores do que eu leio. Normalmente estas questões são respondidas por mim mesmo numa análise do tema abordado pelo texto. Acho que está aí a função do leitor, e conseqüentemente do texto feito pelo autor: incitar questões que serão respondidas através do raciocínio próprio. O resto é bajulação.

O que acontece é que com a popularização da produção "literária" por conta dos blogues vemos que a máxima de Nelson Rodrigues (de que 90% da população só produz cretinices) era incrivelmente otimista. Eu chutaria quase 99% sem medo de errar. É muita bobagem, muita coisa (mal) escrita, (mal) copiada, (mal) colada e etecétera e tal. É como nadar em uma lagoa cheia de lodo atrás de uma pepita ínfima. Sabemos que ela está lá, mas como é difícil de procurar, meu deus! Sem contar a imensidade de pirita no meio para enganar!

A resposta a esta questão (que foi respondida com muita classe numa entrevista recente do Marcelino Freire) é simples: apenas escreva quando tiver algo relevante a dizer! Não escreva para aparecer, para se promover, para comer mais mulher! Aqui eu coloco um mea culpa, pois diversas vezes caí nesta armadilha. Há quem diga que com a popularização nós aumentamos a chance de encontrar a tal pepita no mar de lodo, mas eu discordo. Estatística não é prova de porra nenhuma! Se ao invés de darmos ferramentas para que qualquer imbecil saia por aí despejando asneiras a torto e a direito nós parássemos para pensar a respeito do que escrevemos com calma, aí sim aumentaríamos a chance de encontrar algo que preste nesta rede de computadores interligados. E com certeza também aumentaríamos o número de desistentes do sonho de serem os próximos Filósofos-Escritores-Celebridades do Século ou qualquer objetivo besta que estas pessoas perseguem.

Carência de atenção também tem limite, gente. Vamos pegar mais leve. Nosso cérebro agradece.

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