24 julho 2013

A História Até Aqui

Já se passaram 8 anos desde a primeira vez que publiquei um livro. E mais de dois anos desde que atualizei este blog a última vez. Desde então, muita água passou por baixo da ponte e muita coisa aconteceu, tanto pessoal quanto profissionalmente.

Tendo recém terminado a primeira versão de meu próximo romance (mais notícias em breve) achei que era hora de fazer um balanço. Uma de minhas primeiras atitudes foi ressuscitar este blog. Eu podia começar outro, podia inventar outra coisa, mas a verdade é que eu gosto daqui. Tem bastante coisa legal que já publiquei neste espaço (e bastante bobagem também), e eu gosto do nome. Então ao invés de reinventar a roda eu dei uma pimpada no template, um tranco na bateria e botei o bichinho pra rodar de novo.

Pretendo usar este espaço, ainda que esporadicamente, para falar sobre literatura em geral, sobre a minha produção pessoal e notícias referentes a lançamentos e outras coisas relacionadas, publicar exercícios e artigos e, principalmente, fazer algo que faz tempo tenho ensaiado: resenhas.

Sim, farei resenhas! Tentarei resenhar criticamente tudo o que lerei a partir de agora, desde lançamentos de amigos a livros aleatórios. Serão resenhas curtas, mas sinceras (e acreditem, isso não se traduz em elogios). Tentarei ler a pilha de livros que juntei nos últimos anos, tanto de amigos quanto de inimigos e desconhecidos, e farei ao menos um parágrafo avaliando a obra criticamente, com a minha cordialidade habitual (e, acredite, isso NÃO SE TRADUZ EM ELOGIOS). Cabeças vão rolar, nem que seja de rir.

Passei 5 anos escrevendo um livro que me tomou toda capacidade criativa e me exauriu em diversos sentidos. Aos poucos vou retomando. Ainda estou sacudindo as cracas e borrifando WD-40 nas juntas. Desculpe o barulho.

Se você já é meu(minha) leitor(a), você já conhece as regras. 

Pra quem não me conhece, saiba apenas de uma coisa: Não há regras.

Caso goste do que leu aqui e quiser saber um pouco mais, segue abaixo uma lista de tudo o que já publiquei até agora.

Bem vindos de volta. Apreciem sem moderação.

Beijos,
Alexandre Heredia

Romances

Legado de Bathory

Lançamento: 2010

Sinopse:
Hungria, 1938. A Europa se vê sob a ameaça de uma nova Grande Guerra e acompanha atenta os primeiros avanços de Hitler. É neste cenário conturbado que Yara Ladányi mergulha ao vir do Brasil para o funeral de seu pai, que foi assassinado brutalmente em sua casa em Budapeste. Suspeitando que a morte envolva fatos misteriosos e não explicados pelas autoridades, ela inicia uma investigação independente, tendo por base um documento antigo enviado a ela por seu pai pouco antes de seu assassinato. Contando com a ajuda de Laszlo Raduczi, professor de História e genealogista, Yara embarca em uma conspiração regada a sangue e morte, na qual a dupla é perseguida continuamente por uma figura assustadora. Enquanto encaram esses acontecimentos, os dois precisam ainda desvendar o estranho documento que os leva a uma exploração da história da infame Condessa Elisabeth Bathory.

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Predadores

Lançamento: 2010

Sinopse:
Dante é um repórter da noite em busca de realização profissional e pessoal. Eva é uma promotora de casa noturna atrás de exposição.
Ian é um executivo recém-divorciado em crise de meia-idade tentando recuperar a juventude perdida.
Pessoas comuns com histórias diversas que se entrecruzam no Vrykolakas, uma casa noturna no centro de São Paulo, repleta de perigos ocultos sob as luzes e a badalação, enquanto Radu, o enigmático proprietário da casa, testa os limites morais e éticos de cada um para descobrir até que ponto eles estão dispostos a chegar para concretizar seus objetivos. Um jogo maquiavélico e macabro em que até os vencedores terão que abrir mão da própria alma. Uma história atual que mistura vida, ambição e morte, com altas doses de sensualidade, em uma trama com a qual muitos irão se identificar. Para o bem ou para o mal. Afinal, quem poupa esforços para realizar seus maiores desejos?

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Emboscada

Lançamento: 2010

Sinopse:
Um ano se passou desde os acontecimentos narrados em Predadores quando novas mortes começam a acontecer em São Paulo. Jovens de classe baixa são brutalmente assassinadas, deixando em seus corpos a única assinatura do carrasco: gargantas destroçadas a dentadas. O repórter policial Nicolau Masieski é incumbido da investigação dos crimes desse novo assassino em série. Suas pistas o levam a Dante,talvez a única pessoa a saber a verdade sobre os crimes. Mas será que o ex-repórter, agora traumatizado e paranóico, realmente sabe alguma coisa ou está apenas delirando com teorias da conspiração? Contando com a ajuda de Aline, uma pouco ortodoxa promotora do Vrykolakas, uma casa noturna no centro de São Paulo, repleta de perigos ocultos sob as luzes e a badalação, eles irão chegar ao limite de sua sanidade para tentar desenlaçar essa teia macabra, cuja figura central é Radu, o misterioso proprietário do Vrykolakas.
O que espreita em nossas esquinas? Nada além do mal que sempre esteve lá. Ou dentro de cada um de nós.

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Participação em Coletâneas:

Necrópole - Histórias de Vampiros
Autores: Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Gianpaolo Celli, Giorgio Cappelli, Richard Diegues

Lançamento: 2005

Conto: "O Edifício"



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Necrópole - Histórias de Fantasmas
Autores: Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Dóris Fleury, Gianpaolo Celli, Giorgio Cappelli, Marcelo Amado, Richard Diegues



Lançamento: 2006

Conto: "Catarse"

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Necrópole - Histórias de Bruxaria
Autores: Alexandre Heredia, Camila Fernandes, Eric Novello, Gianpaolo Celli, Nazarethe Fonseca, Richard Diegues



Lançamento: 2007

Conto: "Cândido"

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Visões de São Paulo - Ensaios Urbanos
Autores: Alexandre Heredia, Andre Vianco, Andrei Puntel, Camila Fernandes, Carlos Orsi, Carolina Freitas. Claudinei Vieira, Cristina Lasaitis, Daniela Fernandes, David Polizelli Hoffmann, Denise Martins Guimarães, Dóris Fleury, Déia Batista, Eduardo Baszczyn, Fernando Alonso Moyses, Fernando David, Fernando de F. L. Torres, Fábio T. Torres, Gianpaolo Celli, Gilmar Silva "Lewd", Giorgio Cappelli, Heloisa Pait, Iuri Ribeiro, Jean Canesqui, Leonardo Pezzella Vieira, Liz Marins, Luis Vassallo, Marcelo Ferrari, Marcelo Del Debbio, Mauricio Zampieri Mikola, Mauro Caramigo, Melissa Mell, Nelson Botter, Nelson Magrini, Patricia Soares, Paulo Castro, Pedro M. S. Oliveira, Raul Tabajara, Richard Diegues, Roberta Nunes, Rodrigo Venkli, Rogério Augusto, Rosana Braga, Sandra Saruê, Sergio J. G. Silva, Tati Bernardi, Tatiana Carlotti, Valter Goulart, Verônica B, William Goldoni



Lançamento: 2007

Conto: "Vira-latas"

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Folhas de Espantos
Autores: Albert e Mariana, Alexandre Atayde, Alexandre Heredia, Ana Carolina Giorgion, Andréa F. Bertoldo, Celso Pereira, Eduardo Rodrigues, Fábio Oneas, Fábio Pietro, Fernanda Ferreira, Francis F. Pires, Georgette Silen, Georgette Silen, Geralda Aparecida, Igor Martins, Rafael Gomes, Walter Moreno, Willian Aparecido



Lançamento: 2008

Conto: "A Última Pena"

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Imaginários vol. 2
Autores: João Barreiros, Saint-Clair Stockler, Jorge Candeias, Alexandre Heredia, Eric Novello, Sacha Ramos, Luís Filipe Silva, Tibor Moricz, André Carneiro



Lançamento: 2009

Conto: "O Toque Invisível"

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Mecanismos Precários
Autores: Ábia da Silva Gomes, Alexandre Heredia, Claudio Brites, Edson Cruz, Eduardo Sigrist, Laura Fuentes, Marcelino Freire, Marcos Roma, Nelson de Oliveira, Nelson Lourenço, Patricia Cytrynowicz, Ricardo Delfin, Tiago Araújo, Valéria Piassa Polizzi, Deborah Panachão, Luís Marra e Marcelo Maluf



Lançamento: 2009

Conto: "Simpatia"

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Le Monde Bizarre - O Circo dos Horrores
Autores: A. Z. Cordenonsi, Alexandre Heredia (convidado), Celly Borges, Duda Falcão, G. Araújo, Iam Godoy (convidado), João M. S. Rogaciano, Kássia Neves, Lucas Lourenço, M. D. Amado, Pedro de Almada, Rafael Sales, Rochett Tavares, Valentina Silva Ferreira



Lançamento: 2012

Conto: "Freak"

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E-book:
   




Paradigmas Definitivos
Autores: Cristina Lasaitis, Richard Diegues, Alliah, Jacques Barcia, Saint-Clair Stockler, Camila Fernandes, Adriana Rodrigues, Ronaldo Luiz Souza, Ubiratan Peleteiro, Flávio Medeiros, M.D. Amado, Ludimila Hashimoto, Sandro Côdax, Gianpaolo Celli, Alexandre Heredia, Leonardo Pezzella Vieira, Rober Pinheiro, Carlos Abreu, Gabriel Boz, Bruno Cobbi, Hugo Vera, Viviane Yamabuchi, Osíris Reis



Lançamento: 2012

Conto: "O Cegonho"

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31 dezembro 2010

Kit Ressaca


- Pois não?

- Boa noite. Vou querer um Kit Ressaca.

- Claro. Engov, aqui está. Sal de frutas. Tem preferência de sabor?

- Sem sabor.

- Caubói então. Alguma preferência de analgésico? Temos Aspirina, Cafiaspirina, Advil, Melhoral, Tylenol, Neosaldina, Cibalena...

- Nossa, ainda existe Cibalena?

- Clássicos nunca morrem.

- Tem Cefaliv?

- Ah, agora estamos conversando. Mais alguma coisa?

- Tem Luftal?

- Está com medo de peidar na farofa?

- Ahahah! Não. A mulher pediu.

- Aqui. E leva um Atroveran também. Só pra garantir.

- Boa! Valeu.

- Feliz Ano Novo.

- Pra você também.

(Baseado em fatos reais e recentes. Adoro a Vila Madalena. Feliz 2011 pra todos)

23 dezembro 2010

Anônimo e a mediocridade argumentativa

Quem me acompanha no Twitter deve ter visto que citei um comentário colocado aqui no blog no texto "Tarantino e a mediocridade narrativa", onde discorro sobre minha opinião a respeito do último filme do diretor estadunidense, Bastardos Inglórios. Diferente de uma crítica ou resenha, utilizei o filme como exemplo a não ser seguido, e concluí com uma nota onde faço alusão ao cenário literário brasileiro. Se não leu o texto recomendo que leia antes de continuar. Eu espero.

Muito bem, o comentário postado pelo leitor anônimo foi o seguinte:
Pelo visto vc não entendeu absolutamente NADA do filme. E ainda acha que o Tarantino "errou" do ponto de vista histórico. Amigo, vai pesquisar antes de falar besteira, você como escritor deveria saber disso.
Confrontado desta maneira e sem ter um contato para responder, coloquei no Twitter o seguinte:
Acho engraçado como as pessoas adoram cagar regras e desmerecer uma opinião fundamentada apenas com agressões e grosserias. Todo mundo tem o direito de expressar uma opinião contrária à minha. Mas, por favor, seja educado e use argumentos, não ataques gratuitos. E outra coisa: quando escrevo um texto opinativo eu ASSINO minha opinião. Nunca me escondi em comentários covardes anônimos. E eu continuo achando Bastardos Inglórios uma pilha fétida e fumegante de massa fecal.
Sim, confesso que não foi uma resposta das mais elegantes. Talvez por esse motivo (ou pelo fato de eu ter "alimentado o troll") recebi um novo comentário igualmente anônimo no mesmo post (o que demonstra que, além de me ler, ele me acompanha no Twitter). O resultado foi melhor que eu esperava. Desta vez realmente HÁ argumentos. Ruins, mas há. Fiquei tão feliz com o feedback que faço questão de responder cada argumento à altura. Vamos lá:
Engraçado você me acusando de "grosseiro" e "agressor", você chama o filme de "porcaria", "bomba" e "imbecil", convenhamos que isso não são os adjetivos mais elegantes para se fazer a alguma coisa.
Pessoas se ofendem. Obras não. Se eu escrevo um texto ruim não me ofendo quando me dizem isso. Chamar um filme de ruim não é ofender seu criador.
E você ainda acha que o diretor/roteirista não conseguiu te enganar. Estranho, ele enganou a maioria das premiações que concorreu e os 88% dos críticos do Rotten Tomatoes. Parabéns, você realmente tem uma percepção única.
Se o filme foi ovacionado por 88% significa que 22% o desaprovaram. E mesmo que fossem 100%, nenhuma maioria influencia minha opinião.
Quer argumentos do pq o seu texto é pedante e sua opinião é arrogante e estúpida? Eu te dou argumentos.
Pode chamar meu texto de pedante. Não ligo. Mas atacar minha liberdade de opinião é uma ofensa. Aliás, mais uma. Está anotando? Ou quer que eu desenhe para você?
O primeiro ponto que merece destaque é o fato do Tarantino não fazer um filme cheio de lugares-comuns sobre guerra. Com certeza, amigo, você já viu muitos filmes de guerra e sabe que eles são todos muito parecidos. Tarantino, como um enorme apaixonado e entendido de cinema, filtra a história por uma lente mítica (algo que o cinema pode oferecer muito bem), mostrando uma "vingança de fantasia".
Em momento algum coloquei em xeque a originalidade da ideia ou ignoro a existência de um fator fantástico. E não é porque o filme se passa durante uma guerra que ele precise ser rotulado de "filme de guerra" e seguir uma fórmula. Se fosse assim A noviça rebelde ou A queda deveriam ser considerados filme de guerra. E usar licenças históricas em nome da narrativa é perfeitamente válido caso elas se justifiquem organicamente ao universo diegético da trama. Não foi o que aconteceu. Há uma grande diferença entre o conceito de "realidade alternativa" (como, por exemplo, no bom filme A nação do medo) e desrespeitar fatos históricos apenas "porque sim" (como no pavoroso Gladiador do Ridley Scott).
A discussão é: são óbvios os crimes que os Nazistas cometeram, porém, numa situação inversa, como agiríamos? Metralhando todos, desarmados, num cinema fechado? Julgamos a violência, com violência?
Você enxergou isso em Bastardos Inglórios? Mesmo? Acho que você está dando mais mérito ao Tarantino que deveria.
Algo que Michael Haneke discute bastante em seus filmes (assista Funny Games, se não tiver visto).
Sim, assisti. As duas versões. É até covardia comparar uma análise profunda da crueldade e da violência humana como Funny Games com os delírios bipolares prolixos de Tarantino. Só essa comparação me faz gostar ainda menos de Bastardos Inglórios.
O próprio Tarantino discute muito a violência em seus roteiros, como em Amor à Queima Roupa e Assassinos por Natureza. Só que desta vez, o cenário foi diferentes. Ele simplesmente não cometeu "atrocidades históricas", foi uma "alegoria" como vc mesmo definiu.
Existe uma diferença imensa entre discutir violência e abusar da violência gratuita. Usando o seu argumento até mesmo o medíocre O Albergue (de Eli Roth, que, conspicuosamente, está no elenco de Bastardos) é uma "discussão da violência", e não um torture porn fuleiro com o objetivo de arrancar sustos baratos abusando de cenas sanguinolentas e acordes histéricos na trilha sonora. Prefiro o exemplo anterior, Funny Games, onde a única cena de violência explícita ocorre quando as vítimas dos garotos se vingam. Percebe a diferença? A finesse?
O Jô Soares faz isso em seus livros (sem o teor humorístico, óbvio), mas subverte os acontecimentos históricos da mesma forma.
O único livro que li de Jô Soares foi o "Xangô de Baker Street", que sinceramente odiei. Não pela alteração de fatos históricos ou o desrespeito com um dos personagens que mais gosto na literatura, mas pela história boba e que falha em seu único objetivo: ser engraçado. Péssima comparação.
Merece comparar também com Dr. Strangelove, do Kubrick. Ele também adotou as mesma liberdades históricas e fez um filme excelente. Ou o Kubrick também é canastrão, enganador?
Comparar um libelo anti Guerra Fria como Dr. Strangelove com o western-spaguetti-wannabe do Tarantino somente mostra que você não entendeu o filme. Sugiro que assista de novo (Dr. Strangelove, não Bastados Inglórios).
Eu concordo quando você diz sobre escrever histórias de gêneros, e essa babaquisse que está sendo feito hoje em dia (e, como vc falou também, não vale generalizar).
Fico feliz que você concorde, mesmo detectando uma tentativa de ser paternalista.
Bastardos é exatamente isso. Não é um filme sobre Guerra (ele está todo "errado", não? - não estou ironizando aqui) é um filme sobre violência. O que não é um gênero.
"Um filme sobre violência". Ok, vamos presumir que Tarantino realmente quis passar uma mensagem, fazer com que o espectador se questionasse sobre violência e vingança (não quis). Qual o questionamento podemos tirar do filme? Que em situações extremas nos tornamos o mesmo que nossos algozes? Que a violência contra a violência se justifica? Aldo Raine é um caipira transtornado, beirando o sociopata, que matava por ódio (não muito diferente de Hitler). Há algum momento que o personagem questiona seus atos? Há algum momento que o espectador questione seus métodos? Há empatia pela luta que os personagens travam (além de "matar nazistas é legal"). O retrato estereotipado que Tarantino faz de seus personagens é único, raso. Não há motivação, não há mudança, não há questionamento. E nem foi este seu objetivo, mas isso não é desculpa nenhuma.
Sem falar que o filme conta com um personagem muito interessante e que merece todo o destaque. O vilão Hans é uma figura única. O final do filme mostra isso.
De tão inteligente, percebendo da iminente derrota dos Nazistas, tenta se sair bem da situação. Se propõe a entregar todos os oficiais em troca de prisão política (caso contrários seria morto). Isso é de gênio. Acontece que os "crimes" que ele cometeu são eternos, e é isso que o Aldo (Bard Pitt) faz quando marca os rostos dos que captura. E os personagens do filme são "rasos"? (palavra sua)
Na maioria dos filme de guerra os personagens são arquétipos, aqui, definitivamente eles não são.
Hans Landa só se transformou em um personagem marcante graças à atuação primorosa de Christoph Waltz (aliás, a única atuação decente de todo o elenco). Landa é um cínico, um sádico e um oportunista, sim, mas não um gênio. Sua "jogada" ao final do filme é tudo, menos genial. "Ingênua" talvez seria um adjetivo melhor. Sua derrocada é patética e anticlimática (perdendo apenas para a morte de Bill, em Kill Bill). E sim, até Hans Landa é um arquétipo. Ou você nunca assistiu Indiana Jones?
Sem falar que para nenhuma das enumeração que vc fez, vc não argumentou nenhuma. E depois eu que não tenho argumentos?
Sugiro que você releia o texto. Levante do colo de Tarantino quando o fizer. Vai ajudar.
Meu comentário anterior não foi grosseiro, nem "caguei" regra nenhuma. Apenas seu comentário do filme foi ignorante e sem fundamento. Levantar a bandeira do intelectualismo e meter o pau na cultura mainstream é muito fácil, mas cuidado para não ser piegas.
Não sei seu conceito de grosseria, mas no meu seu comentário se encaixa perfeitamente. Você desmerece minha opinião, ignora meus argumentos e ainda ofende meu ofício. Dizer que eu "como escritor deveria saber disso" não é nada mais que cagar regra. O que um escritor deve saber? Tenho três romances publicados e participei de outras sete coletâneas. Sou pós graduado em criação literária. Mesmo assim não sei o que um escritor deveria saber. Sei o que eu sei e o que eu escrevo. Escrever é uma arte. E toda arte é subjetiva. Se todos os escritores soubessem a mesma coisa não precisaríamos de mais livros. Ou escritores. Ou de opiniões divergentes.
Não quero trolagem, não quero baixarias. Aqui é uma discussão saudável, entre pessoas civilizadas.
Neste ponto você simplesmente contradiz tudo o que escreveu anteriormente, numa patética tentativa de botar panos quentes e fazer parecer que você é a parte ofendida na discussão. Desculpe, mas se você quer me ofender faça isso olhando em meus olhos. Não venha querer amenizar seus ataques com uma falsa educação.
Toda ação tem sua reação. A minha ação é reação do seu texto arrogante e unilateral.
Desculpe, sou imune a clichês. Se quer reagir reaja como homem. Se esconder atrás de uma máscara de anonimato apenas escancara sua covardia. Você tem todo o direito de desgostar de meu texto e de minha opinião. Só peço que o faça com um mínimo de educação. E quanto ao "unilateral" o fato de eu ter publicado o texto em um blog e deixado aberto a comentários (mesmo os grosseiros como o seu) mostra que isso não é verdade.
Abraço, amigo, e boa sorte pra vc.
Não somos amigos e dispenso falsas cortesias. Apenas respondi sua mal redigida argumentação pois percebi que você se deu ao trabalho de ao menos tentar. Minha consideração termina aí. Caso queira discutir mais a este respeito mostre sua cara e diga o seu nome. Caso contrário o tratarei como trato qualquer troll que queira me importunar: com um sorriso de total e completo desprezo.

Sem mais,
Alexandre Heredia

28 outubro 2010

Bukowski e a Ambição


"É verdade que eu não tenho muita ambição, mas deveria haver um lugar para pessoas sem ambição, quero dizer um lugar melhor que o normalmente reservado a elas. Como é que um homem pode curtir ser acordado às 6:30hs pelo alarme de um relógio, pular da cama, se vestir, engolir um café da manhã, mijar, cagar, escovar os dentes e os cabelos e batalhar no trânsito para chegar a um lugar onde essencialmente você faz pilhas de dinheiro para outra pessoa que ainda te pede para ser grato pela oportunidade de fazê-lo?"

25 outubro 2010

De Graham Greene a Donnie Darko ao Coringa

Quero dividir com vocês a descoberta de uma referência em cadeia entre obras distintas. O que The Destructors, de Graham Greene tem a ver com Donnie Darko, filme cult de Richard Kelly e o recente blockbuster O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan?

Primeiro, assistam essa cena de Donnie Darko, onde o protagonista (vivido por Jake Gyllenhaal) e sua professora (Drew Barrymore) analisam, na aula de literatura inglesa, o conto The Destructors, de Graham Greene:

No final do diálogo Donnie dá seu parecer sobre a obra analisada:

"Destruição é uma forma de criação. Dessa forma o fato deles queimarem o dinheiro é irônico. Eles só querem saber o que acontece quando destroem o mundo. Eles querem mudar as coisas."

Como não li tal conto, não sei até que ponto esta análise é precisa, mas reparem como, quase 10 anos depois que o filme foi feito, outro personagem usa a mesma metáfora, de uma forma que é impossível acreditar que seja coincidência:


Sim, ele queima uma pilha de dinheiro, com a intenção clara de mudar as coisas.

Vemos aqui o exemplo claro de uma referência literária sendo usada de duas maneiras, ambas com o intuito de aprofundar o personagem. Donnie Darko, após aquela cena, entra num ciclo destrutivo, impulsionado por uma visão ("Frank"). A cena da análise do livro explica suas motivações. No caso do Coringa, ele possui as mesmas motivações dos personagens de Graham Greene, sem tirar nem por.

Essa sopa de referências cruzadas no ensina muito sobre o processo de criação de um personagem através de reuso de materiais previamente escritos. No caso de Donnie Darko a referência é explícita. Já no caso do Coringa, ela é implícita. Mas em ambos os casos extremamente relevantes.

Isso é dar dimensão a um personagem. Um brinde à Graham Greene, Richard Kelly e Christopher Nolan.

18 outubro 2010

Liberdade


Ela puxou o longo vestido com as mãos enluvadas, evitando sujar a barra e os tafetás na poça imunda do meio fio. Teve que se equilibrar sobre o salto agulha do sapato de impecável pelica, branca como o resto do vestido. Em uma das mãos segurava junto ao peito um buquê de rosas brancas e lírios escolhidos naquela manhã. Com a outra ajeitou na cabeça a tiara presa à longa grinalda que jazia enrolada em seu braço. Toda branca, toda pura, exceto pelas cascatas negras que escorriam por sua face. Evitou todo e cada um dos olhares que se fixavam nela. Sabia ser uma figura antagônica, uma noiva entre malas, lanches, recomendações e agasalhos de moletom. Caminhou resoluta até o guichê e pediu uma passagem. Tirou o dinheiro de uma bolsa não condizente com o resto dos trajes e agradeceu com um suspiro. Portou o bilhete firmemente nas mãos até chegar ao local do embarque. Não havia ônibus algum lá, então ela tirou a tiara e esperou. As cascatas negras voltaram-se para a entrada da rodoviária duas vezes apenas. Uma quando o ônibus finalmente chegou. Outra quando ela entrou, apertando a imensa saia junto ao corpo. Ao passar por um grupo de garotas que aguardavam sua vez de embarcar, abriu a janela e atirou-lhes o buquê, o sorriso desviando as lágrimas.

22 setembro 2010

Entrevista no Perfil Literário da Rádio UNESP FM

Ontem cedi uma entrevista a Oscar D'Ambrosio, do programa Perfil Literário da Rádio UNESP FM (105,7MHz), onde discorri um pouco sobre minha formação, carreira e, claro, sobre meus livros. O áudio na íntegra pode ser ouvido abaixo:



Agradeço ao Oscar pela oportunidade.

16 setembro 2010

A Verdade sobre Namorar um Escritor


(Recebi este link pelo Twitter do amigo Jorge Candeias, onde o autor pega uma lista de 20 motivos para namorar um escritor e faz uma crítica em cima. Achei tão genial que decidi traduzir e colocar aqui. Já peço desculpas antecipadamente ao mesmo Jorge Candeias (que é tradutor de verdade) pela tradução porca)

  1. Escritores irão seduzi-la com palavras. Provavelmente não. Nós escrevemos para nós mesmo ou por dinheiro. E quando terminamos estamos com o saco cheio disso. Se tivermos que escrever alguma coisa para você existe uma grande chance que levará dois dias e ficaremos realmente emburrados durante todo o processo.
  2. Escritores vão escrever sobre você. Você não quer isso. Confie em mim.
  3. Escritores te levam a eventos interessantes. Não. Não fazemos isso. Estamos ocupados demais escrevendo. Não nos perturbe com esse lance de “eventos interessantes.” Conheço uma pessoa que namora uma excelente escritora. Ele sai sozinho. Ela está ocupada escrevendo.
  4. Escritores vão lembrá-la que dinheiro não importa tanto assim. Sim. Faremos isso pegando seu dinheiro emprestado. Constantemente.
  5. Escritores irão dedicar coisas a você. Uma maneira mais fácil de conseguir isso seria se tornar uma agente literária. Desta maneira você vai realmente fazer dinheiro lidando com as neuroses das pessoas.
  6. Escritores irão oferecer a você uma perspectiva interessante das coisas. Sim. Constantemente. Enquanto você estiver tentando assistir TV ou tomando banho. Você terá que ouvir observações o dia todo, somado ao fato que pediremos que você leia as observações que fizemos quando você estava inacessível no trabalho. É quase tão irritante quanto namorar um comediante de stand-up, exceto que se você não considerar nossas observações geniais nós vamos achar você uma idiota ao invés de muito crítica.
  7. Escritores são espertos. No momento que você descobrir que isso não é verdade seu relacionamento com um escritor vai desenvolver um problema sério.
  8. Escritores são passionais. Sobre literatura. Não necessariamente sobre você. Você está escrevendo?
  9. Escritores conseguem pensar além dos sentimentos. Então não comece uma discussão a menos que você esteja pronta para uma muito, mas muito longa explicação a respeito de nosso ponto de vista, nossos sentimentos a respeito de seu ponto de vista e quais cenas de nosso mais recente livro isso tudo nos lembra.
  10. Escritores curtem a solidão. Então cai fora, ok?
  11. Escritores são criativos. É por esta razão que temos motivos tão bons para você nos emprestar $300 e/ou nos deixar em paz, pois estamos escrevendo.
  12. Escritores fazem das tripas coração. Um conselho sério: se você encontrar um escritor que demonstra seus sentimentos, tome cuidado.
  13. Escritores vão ensiná-la novas palavras legais. Isso é provavelmente verdade! Nós também esperaremos que você as lembre, corrigiremos sua gramática e sofreremos depois de ler os bilhetes mundanos que você nos deixou.
  14. Escritores são capazes de ajustar seus horários para você. Escritores são capazes de ajustar seus horários de modo a escrever. Você está escrevendo? Então entre na fila.
  15. Escritores conseguem encontrar 1000 maneiras de dizer porque gostam de você. Lá pela 108ª você terá certeza que estamos inventando-as só por curtição.
  16. Escritores se comunicam em diferentes formas. Mas na maioria escrevendo. Espero que você não goste de falar ao telefone – essa merda é foda!
  17. Escritores podem trabalhar em qualquer lugar. Então é melhor você esquecer aquela bicicleta de dois lugares que queria alugar em suas férias.
  18. Escritores são cercados de pessoas interessantes. Todas elas imaginárias.
  19. Escritores são fáceis de presentear. Isso é verdade. Lembre-se disso quando esquecermos seu aniversário, ok?
  20. Escritores são sexy. Não discuto. Algumas pessoas pensam isso de viciados em heroína também.
Solução alternativa: vai ser mais ou menos como namorar qualquer outra pessoa que gosta de alguma coisa em particular, sabia?

02 setembro 2010

O Problema da Exposição Exagerada de Personagens


– Oi, posso me sentar aqui?
– Fique à vontade. Mas antes que faça qualquer coisa vou logo avisando: fui molestada sexualmente pelo meu tio quando tinha 12 anos, e este evento me traumatizou por toda minha vida, diminuindo minha capacidade de me relacionar afetivamente com alguém.
– Já tinha percebido. Sou PhD em psicologia. Já ganhei diversos prêmios internacionais e escrevi diversos livros sobre o assunto. Eu entendo você e sei como fazer você superar esse trauma. Posso lhe pagar uma bebida?
Você acreditou nessa cena? Forçada, não é? Quem fala assim? Ninguém com um mínimo de bom senso. Pessoas normais são fortalezas cheias de barreiras a ser transpostas antes que consigamos realmente revelar os tesouros escondidos nas catacumbas de suas psiques. Ninguém fala de traumas, expectativas, sentimentos ou outra coisa que considere íntima para qualquer um. Mesmo com conhecidos temos ressalvas, freios morais e outras barreiras. E, quando criamos personagens e os colocamos em uma trama não podemos esquecer de uma coisa: mesmo que os personagens sejam pessoas excepcionais, eles são humanos antes de qualquer coisa.

No desenrolar de uma trama o desenvolvimento dos personagens deve correr paralelo. Sim, a maioria dos personagens já “existia” antes da história a ser contada. Sim, um personagem para ser tridimensional, verossímil, deve carregar uma bagagem, um passado que justifique determinadas ações durante a trama. Mas o grande problema não é esse. O problema é que no afã de mostrar aos leitores o quão tridimensionais são nossos personagens acabamos exagerando em diálogos e recordatórios expositivos, jogando mais informações que o necessário naquele momento da trama e, com isso, sacrificando o ritmo.

Sim, temos a tendência a ser prolixos. Abusamos de descritivos, detalhes irrelevantes e outras bobagens que simplesmente não agregam absolutamente nada ao desenrolar da trama. E com isso torramos a paciência dos leitores, mesmo os mais experientes.

A máxima do “menos é mais” sempre se aplica. Se uma cena pode ser descrita inteiramente em uma frase, não estenda-a a doze parágrafos apenas para mostrar que você sabe escrever. Sentimentos e vidas pregressas à trama devem ser tratadas apenas nos momentos certos, e se for o caso. No exemplo que abre o texto atitudes contariam muito mais que palavras. Um gesto, um olhar, a linguagem corporal, subtextos nas falas, essas coisas, tudo ajuda no desenvolvimento. Às vezes o silêncio pode ser mais eloquente que mil palavras.

Claro, o próximo pecado que cometemos logo que percebemos a falha anterior é partirmos para o total oposto. Exemplificando:
“Ele chegou suavemente e parou a dois metros dela. Vestia uma saia comprida e fora de moda e uma blusa de cetim com gola redonda. Nos cabelos penteados com esmero não sobrava um fio fora do lugar, como se fosse uma peruca de boneca de plástico de camelô. O rosto mostrava uma tristeza maior que a vida, junto com uma raiva que, sua experiência profissional como psiquiatra sabia, só podia ter uma origem: abuso sexual. Decidiu sentar-se ao seu lado. A noite estava ruim mesmo. Sorriu simpaticamente.”
Pronto. Não houve uma linha de diálogo, mas de novo expus demais o que deveria estar diluído. De novo, é o afã de mostrar mais do que o necessário. Sim, nós saberemos que ela foi abusada sexualmente. Sim, descobriremos que ele é PhD em psiquiatria. Sim, sabemos que uma hora ou outra haverá uma tensão sexual entre os dois. O problema é despejar tudo de uma vez no colo do leitor. Deixe-o descobrir aos poucos quem são aqueles personagens. Não abuse de adjetivos e advérbios e metáforas sem propósito. Quem “chega suavemente”? E, caso o contexto esteja correto, o sorriso só pode ser de simpatia.

O segredo é espalhar. Diluir. Crie cenas onde os panos de fundos dos personagens sejam relevantes. Pessoas não saem falando sobre traumas e muitas vezes as primeiras impressões que temos de pessoas estão erradas. Não pule nas conclusões. Teça sua teia, envolva o leitor no mistério de quem é aquela garota e porque ela parece tão triste. Jogue pistas falsas, deixe o leitor investigar junto com o protagonista.

Vamos aplicar isto à cena?
– Oi. Posso me sentar aqui?
– O bar é público.
Era só o que me faltava, pensou. Olhou em volta e não encontrou mais ninguém. Tentou um sorriso. Ela fechou o já pequeno decote com as mãos. Ele conhecia aquele gesto de incontáveis sessões em seu consultório.
– Posso lhe pagar uma bebida? O que você está bebendo?
– Coca com gelo e limão.
Pediu ao garçom uma coca e uma dose de uísque. Ele ia precisar. Ela também.
Pronto. Sem exageros, levando a história com calma, sem ultra exposição desnecessária. Apenas o suficiente para a trama andar. Com calma, no tempo certo, sem atropelamentos. Exagero cria ruído, excesso de informação e uma trama confusa. Se sua intenção não é deixar seus leitores doidos, preste atenção a esses detalhes.

É preciso dizer também que essa não é uma regra. Às vezes um diálogo mais expositivo, devidamente justificado, vem ao caso. Há momentos em que uma pausa para uma reflexão de um personagem pode enriquecer a história. Cada caso é um caso. Mas, nesse caso, é melhor pecar pela falta do que pelo exagero. Guarde cenas grandiosas para momentos grandiosos. Você não irá se arrepender.