08 junho 2009

Crítica: Bathory (2008)

Finalmente consegui assistir ao filme Bathory, que citei neste post aqui. Sim, aquele que se propõe a ser uma verdadeira "cine-biografia" da famigerada condessa Erszebet Bathory, que separaria o mito da verdade e contaria o que realmente se passou nas terras altas da Hungria no final do século XVI e início do XVII.

Pois bem. E o diretor eslovaco Juraj Jakubisko conseguiu o que inicialmente havia proposto? A resposta é, infelizmente, "em partes". Mas, claro, me adianto.

Em termos biográficos o filme é fiel o suficiente quando trata da história da condessa em si. As passagens históricas conhecidas estão todas lá, sem floreios. O noivado, o casamento, a vida, o julgamento e a morte estão fielmente retratados (com uma atuação surpreendente, apesar de alguns tropeços, de Anna Friel), utilizando poucas licenças poéticas, como no caso da morte que, apesar de inacurada, criou uma metáfora visual bem interessante. Foi usado como base para o argumento a trama de difamação perpretada pela nobreza húngara em conluio com a Igreja Católica que, mesmo interessante, tem poucas evidências factuais. Mesmo assim é uma proposta corajosa do diretor que merece, se não aplausos, ao menos respeito. A tentação de deixar a história cair para a caricatura era grande demais, visto o impacto cultural da condessa Bathory nos dias atuais. Ponto para o filme.

Aliás, outros pontos a favor do filme são a fotografia e a produção de arte. Em momento algum a obra perde o clima certo da época retratada, e o tom de "épico histórico" é presente em grande parte da película (mesmo nos momentos onde vemos uma influência gigantesca de Peter Jackson e seu O Senhor dos Anéis, mas nada que comprometa). Os figurinos estão belíssimos e condizentes. Percebe-se uma preocupação bastante grande com a fidelidade até mesmo nos apetrechos utilizados.

Agora nem tudo são flores. O filme peca em alguns pontos importantes. O mais gritante numa primeira vista são os personagens do monge Peter e seu noviço Cyril, sendo o primeiro o narrador da história. Completamente fictícios, foram um artifício do roteirista (que também é o diretor) criados meramente para "explicar" a propagação de certos momentos históricos até o tempo atual. Esquemáticos e desnecessários, apenas servem para tentar prover um alívio cômico numa trama que, sinceramente, não necessitava deste recurso. Protagonista de inconvenientes cenas "cômicas", onde vemos os dois testando inventos produzidos pelo padre, os personagens servem apenas para quebrar o ritmo com piadinhas rasteiras, em nada colaborando com o enriquecimento da história. Muito pelo contrário, pois em certos momentos não sabemos de que lado estão os religiosos (são espiões do cardeal, mas ajudam a condessa em diversas ocasiões chave). Fora o irritante fato do noviço ter a mania de "uivar" toda vez que vê um seio nu, em cenas que me lembraram muito uma pornochanchada, o que conta muito contra a seriedade deste projeto.

Pecando por um ritmo um pouco episódico demais, vemos personagens que deveriam ter um peso maior na história tendo papéis de "figurantes com nomes", como nos casos de Fizcko (um mero capataz mudo até o terceiro ato, quando de repente ele se torna um "cúmplice" importante) e Dorota Sentes. Quando testemunhamos eles sendo torturados, pouco nos importamos com seus destinos, visto que até aquele momento simplesmente não conhecíamos os personagens, o que é uma pena.

Outra inclusão completamente fictícia é a do pintor milanês Michaelangelo Merisi Caravaggio como amante da condessa. Mas esta inclusão se mostrou acertada, ao menos em termos narrativos, pois exemplifica de maneira bastante lírica a obsessão da condessa Bathory pela própria imagem e juventude. Mas nada na biografia do pintor ou da condessa leva a crer que esta história não seja totalmente inventada. Confesso que não compreendi a necessidade de usar um pintor famoso para este papel (qualquer retratista serviria) mas o resultado final não compromete.


De interessante na obra podemos tirar a "explicação" pelas crises assassinas da condessa (uma "doença no sangue" que me deixou bastante feliz, pois pareceu que o diretor/roteirista leu meu livro) e o respeito com que alguns personagens históricos foram retratados (especialmente Ferenc Nadasdy e o rei Mathias d'Habsburgo). Já a "vilanização" do conde Gyorgy Thurzo surge artificial e despropositada.

Não é um filmão nem uma obra de arte absoluta, mas é um filme que merece uma espiada, nem que seja apenas por curiosidade. É uma obra irregular, sim, mas que tem seu mérito. Só espero algum dia pegar uma cópia decente (a minha é um scan de uma exibição especial do filme para a STV eslovaca, dublada em eslovaco) de modo a avaliar melhor as atuações. Mas fica a dica para quem está curioso por conhecer um pouco mais da vida dessa personagem tão interessante.

4 comentários:

Anônimo disse...

PUTZ...Necrópole é muito bom...não sabia que era o mesmo autor...

Anônimo disse...

thais_vanityslave@hotmail.com...

Anônimo disse...

Visualmente é um dos mais belos filmes que eu já vi e a atuação da Anna Friel é mesmo muito boa. Só isso já vale alugar.

Bia Skov disse...

Assisti este filme ontem, realmente a fotografia é muito linda!Muitas cenas parecem pinturas, e a atriz é bela mesmo.

Depois que vi, fiquei curiosa em saber um pouco mais sobre a condessa (não sabia nada de sua história antes). Tinha ficado muito curiosa sobre o fato de colocarem a presença do pintor Caravaggio no filme e até antes de ler este post, estava em dúvida se teria existido alguma relação entre os dois.
Estava justamente pesquisando e vi seu blog.

ótimo post! Valeu!