27 março 2008

Novamente sobre o mercado literário...

O escritor e crítico literário David J. Montgomery (o figurinha aí do lado) escreveu no blog Crime Fiction Dossier dois interessantes artigos a respeito do mercado literário. Como ambos estão em inglês (aqui e aqui), traduzo alguns trechos que considerei bastante pertinentes para escritores "iniciantes" (sim, me incluo nesta categoria):
Quer conseguir um agente literário? Escreva um livro ótimo.
Quer ser publicado? Escreva um livro ótimo.
Quer ser resenhado? Escreva um livro ótimo.
Quer vender um monte de cópias? Escreva um livro ótimo.

Ok, é um tanto monótono. Mas também é verdade. A coisa mais importante que um escritor para conseguir sua melhor chance para o sucesso é escrever um livro ótimo. Isso impulsiona todo o resto.
Não é nesta tecla que venho martelado incansavelmente nas últimas semanas? Ser publicado apenas pelo fato de ser publicado é uma realização medíocre, para dizer o mínimo. Se o seu sonho é ver seu livro simplesmente impresso como livro, leve-o a uma gráfica. Se quer vê-lo na prateleira de uma livraria, é necessário escrever ao menos algo razoável. Quer receber boas críticas, virar um best-seller e ser respeitado? Escreva um livro ótimo. Quer ganhar a vida escrevendo? Mude de país. Mas divago.
Uma dica que sempre dou foi-me dada nos comentários pelo autor Phil Hawley:

"Sempre achei que você só deveria escrever um romance se você tiver uma história que está implorando para sair".

Isso é tão certo! Tem que ser algo que está queimando dentro de você, alguma história que você precisa contar; o tipo de coisa que lhe deixa acordado à noite porque você não consegue parar de pensar nela. Muitos livros, eu acho, são escritos simplesmente porque o autor desejou (ou necessitou) escrever um livro. Não há paixão. Alguns escritores conseguirão se dar bem assim, mas se o resto de nós for tentar, acho que estaremos em apuros.
Neste caso cito a resposta de Marcelino Freire quando perguntaram porque ele não estava escrevendo nada naquele momento: "Porque não tenho nada a dizer". Perfeito.

No outro artigo ele discorre sobre decisões que nós, escritores novatos, temos que tomar quando chega a hora de decidir COMO ser publicado. São dicas que se aplicam muito ao concorrido mercado norte-americano. Mas, guardadas as devidas proporções, podem ser replicadas também em nosso mercado engatinhante. É aquele velho lance que se coloca entre ser lançado por uma editora comercial ou de forma independente (perceba que nem cogito as morféticas "editoras sob demanda"). Destaco o trecho abaixo:
Como escritores não publicados, temos que pensar bastante sobre nossas carreiras e decidir o que exatamente queremos dela. Se o objetivo é simplesmente ser publicado a decisão é muito mais simples. Encontre um agente (nota: ou editora, no caso do Brasil) que esteja razoavelmente estusiasmado com seu projeto e torça para que ele possa vendê-lo. Em qualquer lugar. Então relaxe e curta seu livro sendo impresso. Você pode até vender outro, pode não querer lucrar um centavo dele, mas você será para sempre um autor publicado. E isso não é nada para se menosprezar.

Mas se você está nessa pela grande jornada; se você está procurando pelo tipo de sucesso a longo prazo que se constrói livro após livro, que o mantém nas prateleiras, que assegure que você possa viver disso... Bem, então as decisões são muito mais difíceis, e podem ser algumas vezes muito mais dolorosas de se tomar.
Já fui um autor não publicado e sei exatamente o que ele quer dizer com isso. Já tive que lidar com portas na cara, recusas sintéticas, orçamentos (brrr...) e até mesmo aprovações que poderiam muito bem se tornar fracassos retumbantes. Claro, depois de 4 livros lançados não posso dizer que eu seja um fracasso, mas tampouco posso ser considerado um sucesso absoluto de público e de crítica. Longe disso. Tomei decisões, não me arrependo delas, mas talvez se eu tivesse esperado um pouco mais eu estivesse numa situação completamente diferente hoje em dia. Quem sabe?

O lance é que muito do objetivo da literatura tem se perdido por conta do mercado. Escritores devem escrever não pelo glamour, pela fama ou pelo dinheiro. Devem escrever pelo prazer de contar uma boa história para o maior número de pessoas possível. Esse deveria ser o objetivo primordial. Mas não é o que vemos por aí. Estamos vivendo uma era que até a produção literária foi bigbrotherizada: busca-se a fama pela fama apenas. Estaríamos todos virando clones da Paris Hilton?

É assunto para se pensar com bastante carinho. Enquanto isso, siga o conselho dado e, por favor, apenas escreva quando tiver uma história que valha a pena ser contada e publicada. Subliteratura é simplesmente uma desculpa para incompetência.

E ficar famoso pela incompetência não deveria ser o objetivo de ninguém. Sério.

25 março 2008

Alcova Literária

Um casal de escritores. Uma cama. Nenhuma roupa.

Ele: - E agora?

Ela: - Não sei. Quer transar?

Ele: - Não. Transar é muito prosaico, muito mundano. Estava pensando em algo mais, não sei...

Ela: - Literário?

Ele: - Isso! Quero beber letras fluindo da tua boca. Quero ver suas metáforas, mesóclises, paródias, metonímias, parasíntetos...

Ela: - Se quiser eu posso fazer um soneto.

Ele: - Livre-me de sua métrica! De onde você tirou que poesia caberia numa cama? Esta é a suprema contradição. Não estamos nos masturbando.

Ela: - Não fale por mim. Não crie recordatórios alheios. Recordatórios são pretéritos, uma fotografia em sépia manchada.

Ele: - Bela analogia.

Ela: - Obrigado. Mas mudemos o tempo verbal. Não falemos do que faremos, mas façamos o que falamos.

Ele: - Não. Saímos do prosaico e entramos no intelectualóide. Sem escalas ou mesmo partituras.

Ela: - E daí?

Ele: - E daí que pensar muito me brocha. Boa noite.

Mini-conto #3: Surpresa

- Que MERDA é essa?! - exclamou a Madre Superiora ao entrar na sacristia.

24 março 2008

Mini-conto #2: Rebeldia

Era tão rebelde, mas tão rebelde que decidiu virar machista.

Mini-conto #1: Frustração

Tinha uma vida tão desinteressante que todos estranharam sua reação quando soube que heradara uma fortuna:

- Merda! Acabou o sossego.

11 março 2008

Água Fria

Eu sei, eu sei...

Para um blogue criado para ser voltado à literatura e tudo o mais, nas últimas semanas (ou meses, vá lá!) apenas tenho colocado gracinhas e bobagens como trocentos outros blogues por aí. Qual é a puta da diferença entre este espaço e a tonelada de disseminadores de humor rasteiro que a gente tanto gosta ler, já que não precisa pensar?

Pois é.

Nenhuma.

O lance é que simplesmente não estou escrevendo. Simples assim. Passo os dias arrumando desculpas divertidas, perdendo neurônios e idéias nos ralos de bar. Uma fuga não hedonística, mas quase dionísica. E não escrevo.

Ando lendo bastante, isso é verdade. Não tanto quanto na época que eu trabalhava na locadora de livros de minha mãe, mas com uma freqüência impensável há um ano. Quem me conhece sabe que faz este tempo que certas mudanças drásticas aconteceram em minha vida. Eu poderia usar isso como desculpa, mas não seria verdade. Não totalmente. Tanto que cheguei a terminar um livro nos meses subseqüentes. Poderia também culpar o novo estilo de vida que escolhi (não, mãe, não virei gay, fica sossegada), mas isso seria completamente injusto. Poderia passar a noite inteira aqui caçando culpados.

Mas culpados de quê?

Certa vez li (não lembro onde) que o escritor entra em bloqueio quando não sabe como continuar a história, porque não fez a lição de casa completa. Não sabe. Simples assim. Bom, ia contra-argumentar contra essa teoria, mas é bobagem. Ela está certa. Isso realmente acontece. Mas temo que não neste caso.

Posso divagar?

A literatura nasce de nosso egocentrismo. De escrever nosso nome no Mármore Eterno da História. Quando o primeiro grande egocêntrico descobriu que se ele escrevesse suas aventuras elas durariam muito mais do que se apenas as contasse, percebeu imediatamente que também igualaria uma caracterítica inerente dos deuses: a imortalidade!

(Trompetes estridentes!)

Bom, ao menos o mais próximo da imortalidade que se pode chegar...

(Oboé decrescendo)

É verdade. Todos que tentam fazer qualquer coisa excepcional tem esse desejo. Não apenas na literatura, mas em toda e qualquer expressão dita "artística". Sério. Foda-se dinheiro, fama, poder. O que realmente queremos é que nosso nome e nossa história continue após nossa morte (se bem que acho que ninguém se importaria com o resto enquanto a hora não chega, não é?).

Mas hoje vemos cada vez mais pessoas tendo acesso a este tipo de sonho.

(Sim, é hora de reminiscências amargas de um escritor azedo. Lide com isso. Engole o choro!)

Cada vez mais pessoas decobrem que é possível completar o Trinômio Essencial da Vida (você sabe: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro...). E pior, de uma maneira acessível. Tirando as conseqüências explosiva na taxa de natalidade do caminho, além de, claro, evitar de tentar manter uma relação coerente à recente explosão ecológica e a tal "reposição de carbono" (tá, eu volto), o lance é simples: TODO MUNDO SE ACHA ESCRITOR.

Não estou realmente reclamando. Ei, eu sou um deles, dos pobres iludidos incapazes de compor uma música ou pintar um quadro ou mesmo esculpir uma bola com massa de modelar que de repente perceberam que há uma maneira de se expressar artisticamente acessível.

A explosão de blogues contribuiu, é claro. Agora não podemos apenas escrever. Podemos realmente SER LIDOS fora de nosso círculo familiar e de amigos. Isso é importante. Isso é uma revolução!

(Ximbau explode)

Mas é uma revolução bem chata.

(Bumbo!)

E é por essa chatice que andei bodeando de escrever. Sei lá, mas gosto demais da literatura para ficar vendo-a ser massacrada por uma enchurrada de Caçadores de Imortalidade Fácil. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo: Fácil é o meu cacete!

Alguns pôstes atrás eu disse que para escrever um escritor põe a bunda na cadeira e ESCREVE. Simples assim, certo?

Claro que não, pô! Não estava lendo o que escrevi até agora? Se precisar ler de novo sinta-se à vontade. Eu espero.

Pronto?

Não digo isso levando em conta técnicas, estilos, gramática, essas coisas. Claro, pois esse conhecimento é essencial, por mais que os "novos autores" não aceitem. Mas não é só por isso. Não mesmo.

Cada vez que alguém senta a bunda na cadeira e começa a escrever, deve escrever como se aquela obra fosse mudar a história do mundo, a maneira de pensar de uma pessoa ou de uma sociedade. Deve almejar sempre que seja uma obra-prima. Não se contentar com a mediocridade. Não ser mesquinho com sua criatividade. Sair do rasteiro, do descartável. Entrar realmente na tal imortalidade que nosso ego tanto deseja.

E acho que é por isso realmente que não estou escrevendo.

Não encontro minha obra prima. Não encontro uma história que eu queira não só contar, mas moldar, criar, desenvolver, analisar, me surpreender. Ultimamente tenho vivido mais do que narrado. É bom. Não me arrependo, mesmo sentindo uma falta monstruosa de escrever, de passar horas na frente de um computador queimando a retina numa história que flua de maneira deliciosa e que, com sorte, será admirada. Não me arrependo realmente. Mas sinto uma falta danada.

Aos meus leitores (eu sei que vocês estão aí) um alento: meus próximos dois livros já estão prontos. Espero vê-los em breve publicados para que vocês os leiam. Além do mais andei participando de algumas coleções que em breve estarão estourando nas livrarias. Pode deixar que aviso aqui (e, quem sabe, acolá). Desse modo tenho alguma folga para continuar em busca de minha obra-prima.

Aos que vieram aqui atrás de qualquer outra coisa e se decepcionaram: bom, dane-se.

Ah, fim da divagação.

Vou dormir.

Da série "Idéias que eu gostaria de ter tido"