Não, este pôste não é sobre o mundo féxion ou mesmo uma crítica aos hábitos alimentares das somalis desfilantes. Não, nada disso. É outra coisa. Mas, pra variar, me adianto.
Sabe aquele tipo de encontro que vez por outra aparece nos seriados e shows de "realidade" chamado speed dating? Claro que sabe. Mas vou aceitar seu fingimento e vou explicar. Speed dating é uma estratégia cretina que alguns bares estadunidenses inventaram para atrair solteiros involuntariamente inveterados. O esquema é o seguinte: pega-se um determinado número de encalh... solteiras e um igual número de punhet... solteiros. Digamos 15 potenciais casais. Daí colocamos as desesper... solteiras sentadas e distribuímos fichinhas de avaliação a todos. Cada perded... solteiro terá então três minutos per capita para pavonear seus minguados dotes às mocré... solteiras. Ao final de um circuito completo as fichas são recolhidas e comparadas. Caso alguma afinidade seja detectada um novo encontro é agendado (que, eu espero, tenha mais do que 3 minutos). É isso. Eu sei, é imbecil demais para ser levado a sério. Não culpe o mensageiro.
Agora alguém por favor me explique esta notícia que saiu no Yahoo! News (acesso livre, em inglês) que dá conta que por lá a nova onda é utilizar esse formato "inovador" não apenas para desencalhar sociopatas crônicos, mas também como forma de apresentar idéias de romances para editoras! Sim, você leu certo. Troque "solteiras" por "editoras" e "solteiros" por "escritores" no parágrafo acima e você terá um Speed Dating Literário!
Agora, convenhamos! Se já é muito difícil (para não dizer impossível) conhecer uma pessoa em apenas três minutos de exposição, o que se dirá de uma obra! Isso sem contar a clara desvantagem da modalidade literária em termos de comprometimento. Pois seria mais algo como um speed engaging ("noivado relâmpago", em tradução livre), já que no caso dos pretensos namorados nada impede que já no segundo encontro ambos percebam que aqueles três minutos foram na verdade uma propaganda enganosa e nunca mais se encontrem. Já em sua contraparte "literária" é como se já se firmasse um pré-contrato. E com certeza uma recusa posterior sairá bem mais cara do que o custo de um cinema e (quiçá!) um motelzinho.
O problema é que o negócio literário não anda bom para ninguém (com exceção das livrarias, claro). Editores e escritores ainda não encontraram uma solução para suprir a demanda exorbitante de lançamentos. Há milhares de escritores inéditos tentando ver seus trabalhos publicados. Os editores reclamam da falta de qualidade dos originais. Os escritores reclamam do corporativismo das editoras. Estas se defendem dizendo que o custo de produção é muito alto e o retorno arriscado. Os escritores esperneiam, choram, fazem bico. As livrarias dão risadas obesas. E com isso nós, as vacas literárias, morremos de inanição (viu como consegui chegar na analogia pretendida?).
Que algo precisa ser feito para melhorar esta situação isso é claro. Mas, da mesma maneira que tenho dúvidas da eficácia dos tais speed datings na construção de relacionamentos, duvido que a versão literária algum dia nos proporcione a ascensão de um novo clássico da literatura. Pode parecer um comentário cínico, mas...
Bom, é cínico mesmo.
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