29 junho 2007

Nota de falecimento


Mais uma excelente iniciativa morre na praia da internet brasileira, vítima de inanição. O aglutinador de blogues NoMinimo fechou hoje definitivamente suas portas, para tristeza não só de seus colaboradores e leitores, mas também de todos aqueles que valorizam um conteúdo inteligente e de qualidade.

Durante os últimos anos o NoMinimo foi um porto seguro quando eu queria ler algo descompromissado, mas com algo a acrescentar, nem que fosse apenas um pequeno sorriso de canto de boca. Escritores e leitores encontravam nos excelentes textos de Sérgio Rodrigues motivos para enaltecer a literatura, dentro de seu espaço Todoprosa (citado por aqui diversas vezes). Cinéfilos que buscavam fontes pouco ortodoxas de informações sabiam que sempre podiam contar com a irreverência de Ricardo Calil no seu delicioso Olha Só. Malandros e boêmios se encontravam nas divertidas crônicas de Xico Sá dentro do Ponte Aérea/SP. Isso sem contar o passeio pelas bizarrices desencavadas por Luiz Antonio Ryff no Nonsense ou a relevância improvável de Daniel Galera dentro do Jogatina. Tinha outros, mas me alongo desnecessariamente.

É triste ver um espaço com tanto a oferecer ao faminto internauta brasileiro desaparecer por conta de um motivo tão fútil. Quero dizer, fútil para nós, leitores abandonados, pois todos sabemos que sem dinheiro não se vive, e mesmo o mais intelectual dos intelectuais sabe que suas idéias só valerão alguma coisa caso coloquem comida na mesa. Não me julgue mesquinho. É difícil ser inteligente e sagaz com o estômago interrompendo cada raciocínio.

Ainda é uma grande barreira a ser quebrada esse lance da capitalização do conteúdo. Não há uma saída óbvia. Até mesmo os maiores especialistas divergem a respeito. Produzir conteúdo de qualidade é caro e trabalhoso. Quem vai pagar essa conta? Com certeza não serão anúncios do Google. Isso é dinheiro de pinga. A gente não quer só comida, como diria Arnaldo Antunes. Se um portal com mais de 3 milhões de leitores mensais (números deles) não consegue, qual o horizonte para blogueiros independentes como nós?

É difícil ter esperanças com uma notícia destas. Mas ao mesmo tempo que enxugamos as lágrimas pelo falecido vemos uma outra notícia que reacende a chama que pensávamos ter sido há muito apagada. Há esperança sim, caros leitores. Só temos que procurar com mais afinco.

Infelizmente, não será mais dentro do NoMinimo.

Descansa em paz, véio!

P.S.: Alguns dos blogueiros decidiram continuar seus textos por conta própria em blogues pessoais (e não-remunerados). A maioria ainda não está no ar, mas vale a pena se informar quando estiverem.

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