22 setembro 2010

Entrevista no Perfil Literário da Rádio UNESP FM

Ontem cedi uma entrevista a Oscar D'Ambrosio, do programa Perfil Literário da Rádio UNESP FM (105,7MHz), onde discorri um pouco sobre minha formação, carreira e, claro, sobre meus livros. O áudio na íntegra pode ser ouvido abaixo:



Agradeço ao Oscar pela oportunidade.

16 setembro 2010

A Verdade sobre Namorar um Escritor


(Recebi este link pelo Twitter do amigo Jorge Candeias, onde o autor pega uma lista de 20 motivos para namorar um escritor e faz uma crítica em cima. Achei tão genial que decidi traduzir e colocar aqui. Já peço desculpas antecipadamente ao mesmo Jorge Candeias (que é tradutor de verdade) pela tradução porca)

  1. Escritores irão seduzi-la com palavras. Provavelmente não. Nós escrevemos para nós mesmo ou por dinheiro. E quando terminamos estamos com o saco cheio disso. Se tivermos que escrever alguma coisa para você existe uma grande chance que levará dois dias e ficaremos realmente emburrados durante todo o processo.
  2. Escritores vão escrever sobre você. Você não quer isso. Confie em mim.
  3. Escritores te levam a eventos interessantes. Não. Não fazemos isso. Estamos ocupados demais escrevendo. Não nos perturbe com esse lance de “eventos interessantes.” Conheço uma pessoa que namora uma excelente escritora. Ele sai sozinho. Ela está ocupada escrevendo.
  4. Escritores vão lembrá-la que dinheiro não importa tanto assim. Sim. Faremos isso pegando seu dinheiro emprestado. Constantemente.
  5. Escritores irão dedicar coisas a você. Uma maneira mais fácil de conseguir isso seria se tornar uma agente literária. Desta maneira você vai realmente fazer dinheiro lidando com as neuroses das pessoas.
  6. Escritores irão oferecer a você uma perspectiva interessante das coisas. Sim. Constantemente. Enquanto você estiver tentando assistir TV ou tomando banho. Você terá que ouvir observações o dia todo, somado ao fato que pediremos que você leia as observações que fizemos quando você estava inacessível no trabalho. É quase tão irritante quanto namorar um comediante de stand-up, exceto que se você não considerar nossas observações geniais nós vamos achar você uma idiota ao invés de muito crítica.
  7. Escritores são espertos. No momento que você descobrir que isso não é verdade seu relacionamento com um escritor vai desenvolver um problema sério.
  8. Escritores são passionais. Sobre literatura. Não necessariamente sobre você. Você está escrevendo?
  9. Escritores conseguem pensar além dos sentimentos. Então não comece uma discussão a menos que você esteja pronta para uma muito, mas muito longa explicação a respeito de nosso ponto de vista, nossos sentimentos a respeito de seu ponto de vista e quais cenas de nosso mais recente livro isso tudo nos lembra.
  10. Escritores curtem a solidão. Então cai fora, ok?
  11. Escritores são criativos. É por esta razão que temos motivos tão bons para você nos emprestar $300 e/ou nos deixar em paz, pois estamos escrevendo.
  12. Escritores fazem das tripas coração. Um conselho sério: se você encontrar um escritor que demonstra seus sentimentos, tome cuidado.
  13. Escritores vão ensiná-la novas palavras legais. Isso é provavelmente verdade! Nós também esperaremos que você as lembre, corrigiremos sua gramática e sofreremos depois de ler os bilhetes mundanos que você nos deixou.
  14. Escritores são capazes de ajustar seus horários para você. Escritores são capazes de ajustar seus horários de modo a escrever. Você está escrevendo? Então entre na fila.
  15. Escritores conseguem encontrar 1000 maneiras de dizer porque gostam de você. Lá pela 108ª você terá certeza que estamos inventando-as só por curtição.
  16. Escritores se comunicam em diferentes formas. Mas na maioria escrevendo. Espero que você não goste de falar ao telefone – essa merda é foda!
  17. Escritores podem trabalhar em qualquer lugar. Então é melhor você esquecer aquela bicicleta de dois lugares que queria alugar em suas férias.
  18. Escritores são cercados de pessoas interessantes. Todas elas imaginárias.
  19. Escritores são fáceis de presentear. Isso é verdade. Lembre-se disso quando esquecermos seu aniversário, ok?
  20. Escritores são sexy. Não discuto. Algumas pessoas pensam isso de viciados em heroína também.
Solução alternativa: vai ser mais ou menos como namorar qualquer outra pessoa que gosta de alguma coisa em particular, sabia?

02 setembro 2010

O Problema da Exposição Exagerada de Personagens


– Oi, posso me sentar aqui?
– Fique à vontade. Mas antes que faça qualquer coisa vou logo avisando: fui molestada sexualmente pelo meu tio quando tinha 12 anos, e este evento me traumatizou por toda minha vida, diminuindo minha capacidade de me relacionar afetivamente com alguém.
– Já tinha percebido. Sou PhD em psicologia. Já ganhei diversos prêmios internacionais e escrevi diversos livros sobre o assunto. Eu entendo você e sei como fazer você superar esse trauma. Posso lhe pagar uma bebida?
Você acreditou nessa cena? Forçada, não é? Quem fala assim? Ninguém com um mínimo de bom senso. Pessoas normais são fortalezas cheias de barreiras a ser transpostas antes que consigamos realmente revelar os tesouros escondidos nas catacumbas de suas psiques. Ninguém fala de traumas, expectativas, sentimentos ou outra coisa que considere íntima para qualquer um. Mesmo com conhecidos temos ressalvas, freios morais e outras barreiras. E, quando criamos personagens e os colocamos em uma trama não podemos esquecer de uma coisa: mesmo que os personagens sejam pessoas excepcionais, eles são humanos antes de qualquer coisa.

No desenrolar de uma trama o desenvolvimento dos personagens deve correr paralelo. Sim, a maioria dos personagens já “existia” antes da história a ser contada. Sim, um personagem para ser tridimensional, verossímil, deve carregar uma bagagem, um passado que justifique determinadas ações durante a trama. Mas o grande problema não é esse. O problema é que no afã de mostrar aos leitores o quão tridimensionais são nossos personagens acabamos exagerando em diálogos e recordatórios expositivos, jogando mais informações que o necessário naquele momento da trama e, com isso, sacrificando o ritmo.

Sim, temos a tendência a ser prolixos. Abusamos de descritivos, detalhes irrelevantes e outras bobagens que simplesmente não agregam absolutamente nada ao desenrolar da trama. E com isso torramos a paciência dos leitores, mesmo os mais experientes.

A máxima do “menos é mais” sempre se aplica. Se uma cena pode ser descrita inteiramente em uma frase, não estenda-a a doze parágrafos apenas para mostrar que você sabe escrever. Sentimentos e vidas pregressas à trama devem ser tratadas apenas nos momentos certos, e se for o caso. No exemplo que abre o texto atitudes contariam muito mais que palavras. Um gesto, um olhar, a linguagem corporal, subtextos nas falas, essas coisas, tudo ajuda no desenvolvimento. Às vezes o silêncio pode ser mais eloquente que mil palavras.

Claro, o próximo pecado que cometemos logo que percebemos a falha anterior é partirmos para o total oposto. Exemplificando:
“Ele chegou suavemente e parou a dois metros dela. Vestia uma saia comprida e fora de moda e uma blusa de cetim com gola redonda. Nos cabelos penteados com esmero não sobrava um fio fora do lugar, como se fosse uma peruca de boneca de plástico de camelô. O rosto mostrava uma tristeza maior que a vida, junto com uma raiva que, sua experiência profissional como psiquiatra sabia, só podia ter uma origem: abuso sexual. Decidiu sentar-se ao seu lado. A noite estava ruim mesmo. Sorriu simpaticamente.”
Pronto. Não houve uma linha de diálogo, mas de novo expus demais o que deveria estar diluído. De novo, é o afã de mostrar mais do que o necessário. Sim, nós saberemos que ela foi abusada sexualmente. Sim, descobriremos que ele é PhD em psiquiatria. Sim, sabemos que uma hora ou outra haverá uma tensão sexual entre os dois. O problema é despejar tudo de uma vez no colo do leitor. Deixe-o descobrir aos poucos quem são aqueles personagens. Não abuse de adjetivos e advérbios e metáforas sem propósito. Quem “chega suavemente”? E, caso o contexto esteja correto, o sorriso só pode ser de simpatia.

O segredo é espalhar. Diluir. Crie cenas onde os panos de fundos dos personagens sejam relevantes. Pessoas não saem falando sobre traumas e muitas vezes as primeiras impressões que temos de pessoas estão erradas. Não pule nas conclusões. Teça sua teia, envolva o leitor no mistério de quem é aquela garota e porque ela parece tão triste. Jogue pistas falsas, deixe o leitor investigar junto com o protagonista.

Vamos aplicar isto à cena?
– Oi. Posso me sentar aqui?
– O bar é público.
Era só o que me faltava, pensou. Olhou em volta e não encontrou mais ninguém. Tentou um sorriso. Ela fechou o já pequeno decote com as mãos. Ele conhecia aquele gesto de incontáveis sessões em seu consultório.
– Posso lhe pagar uma bebida? O que você está bebendo?
– Coca com gelo e limão.
Pediu ao garçom uma coca e uma dose de uísque. Ele ia precisar. Ela também.
Pronto. Sem exageros, levando a história com calma, sem ultra exposição desnecessária. Apenas o suficiente para a trama andar. Com calma, no tempo certo, sem atropelamentos. Exagero cria ruído, excesso de informação e uma trama confusa. Se sua intenção não é deixar seus leitores doidos, preste atenção a esses detalhes.

É preciso dizer também que essa não é uma regra. Às vezes um diálogo mais expositivo, devidamente justificado, vem ao caso. Há momentos em que uma pausa para uma reflexão de um personagem pode enriquecer a história. Cada caso é um caso. Mas, nesse caso, é melhor pecar pela falta do que pelo exagero. Guarde cenas grandiosas para momentos grandiosos. Você não irá se arrepender.