31 dezembro 2010

Kit Ressaca


- Pois não?

- Boa noite. Vou querer um Kit Ressaca.

- Claro. Engov, aqui está. Sal de frutas. Tem preferência de sabor?

- Sem sabor.

- Caubói então. Alguma preferência de analgésico? Temos Aspirina, Cafiaspirina, Advil, Melhoral, Tylenol, Neosaldina, Cibalena...

- Nossa, ainda existe Cibalena?

- Clássicos nunca morrem.

- Tem Cefaliv?

- Ah, agora estamos conversando. Mais alguma coisa?

- Tem Luftal?

- Está com medo de peidar na farofa?

- Ahahah! Não. A mulher pediu.

- Aqui. E leva um Atroveran também. Só pra garantir.

- Boa! Valeu.

- Feliz Ano Novo.

- Pra você também.

(Baseado em fatos reais e recentes. Adoro a Vila Madalena. Feliz 2011 pra todos)

23 dezembro 2010

Anônimo e a mediocridade argumentativa

Quem me acompanha no Twitter deve ter visto que citei um comentário colocado aqui no blog no texto "Tarantino e a mediocridade narrativa", onde discorro sobre minha opinião a respeito do último filme do diretor estadunidense, Bastardos Inglórios. Diferente de uma crítica ou resenha, utilizei o filme como exemplo a não ser seguido, e concluí com uma nota onde faço alusão ao cenário literário brasileiro. Se não leu o texto recomendo que leia antes de continuar. Eu espero.

Muito bem, o comentário postado pelo leitor anônimo foi o seguinte:
Pelo visto vc não entendeu absolutamente NADA do filme. E ainda acha que o Tarantino "errou" do ponto de vista histórico. Amigo, vai pesquisar antes de falar besteira, você como escritor deveria saber disso.
Confrontado desta maneira e sem ter um contato para responder, coloquei no Twitter o seguinte:
Acho engraçado como as pessoas adoram cagar regras e desmerecer uma opinião fundamentada apenas com agressões e grosserias. Todo mundo tem o direito de expressar uma opinião contrária à minha. Mas, por favor, seja educado e use argumentos, não ataques gratuitos. E outra coisa: quando escrevo um texto opinativo eu ASSINO minha opinião. Nunca me escondi em comentários covardes anônimos. E eu continuo achando Bastardos Inglórios uma pilha fétida e fumegante de massa fecal.
Sim, confesso que não foi uma resposta das mais elegantes. Talvez por esse motivo (ou pelo fato de eu ter "alimentado o troll") recebi um novo comentário igualmente anônimo no mesmo post (o que demonstra que, além de me ler, ele me acompanha no Twitter). O resultado foi melhor que eu esperava. Desta vez realmente HÁ argumentos. Ruins, mas há. Fiquei tão feliz com o feedback que faço questão de responder cada argumento à altura. Vamos lá:
Engraçado você me acusando de "grosseiro" e "agressor", você chama o filme de "porcaria", "bomba" e "imbecil", convenhamos que isso não são os adjetivos mais elegantes para se fazer a alguma coisa.
Pessoas se ofendem. Obras não. Se eu escrevo um texto ruim não me ofendo quando me dizem isso. Chamar um filme de ruim não é ofender seu criador.
E você ainda acha que o diretor/roteirista não conseguiu te enganar. Estranho, ele enganou a maioria das premiações que concorreu e os 88% dos críticos do Rotten Tomatoes. Parabéns, você realmente tem uma percepção única.
Se o filme foi ovacionado por 88% significa que 22% o desaprovaram. E mesmo que fossem 100%, nenhuma maioria influencia minha opinião.
Quer argumentos do pq o seu texto é pedante e sua opinião é arrogante e estúpida? Eu te dou argumentos.
Pode chamar meu texto de pedante. Não ligo. Mas atacar minha liberdade de opinião é uma ofensa. Aliás, mais uma. Está anotando? Ou quer que eu desenhe para você?
O primeiro ponto que merece destaque é o fato do Tarantino não fazer um filme cheio de lugares-comuns sobre guerra. Com certeza, amigo, você já viu muitos filmes de guerra e sabe que eles são todos muito parecidos. Tarantino, como um enorme apaixonado e entendido de cinema, filtra a história por uma lente mítica (algo que o cinema pode oferecer muito bem), mostrando uma "vingança de fantasia".
Em momento algum coloquei em xeque a originalidade da ideia ou ignoro a existência de um fator fantástico. E não é porque o filme se passa durante uma guerra que ele precise ser rotulado de "filme de guerra" e seguir uma fórmula. Se fosse assim A noviça rebelde ou A queda deveriam ser considerados filme de guerra. E usar licenças históricas em nome da narrativa é perfeitamente válido caso elas se justifiquem organicamente ao universo diegético da trama. Não foi o que aconteceu. Há uma grande diferença entre o conceito de "realidade alternativa" (como, por exemplo, no bom filme A nação do medo) e desrespeitar fatos históricos apenas "porque sim" (como no pavoroso Gladiador do Ridley Scott).
A discussão é: são óbvios os crimes que os Nazistas cometeram, porém, numa situação inversa, como agiríamos? Metralhando todos, desarmados, num cinema fechado? Julgamos a violência, com violência?
Você enxergou isso em Bastardos Inglórios? Mesmo? Acho que você está dando mais mérito ao Tarantino que deveria.
Algo que Michael Haneke discute bastante em seus filmes (assista Funny Games, se não tiver visto).
Sim, assisti. As duas versões. É até covardia comparar uma análise profunda da crueldade e da violência humana como Funny Games com os delírios bipolares prolixos de Tarantino. Só essa comparação me faz gostar ainda menos de Bastardos Inglórios.
O próprio Tarantino discute muito a violência em seus roteiros, como em Amor à Queima Roupa e Assassinos por Natureza. Só que desta vez, o cenário foi diferentes. Ele simplesmente não cometeu "atrocidades históricas", foi uma "alegoria" como vc mesmo definiu.
Existe uma diferença imensa entre discutir violência e abusar da violência gratuita. Usando o seu argumento até mesmo o medíocre O Albergue (de Eli Roth, que, conspicuosamente, está no elenco de Bastardos) é uma "discussão da violência", e não um torture porn fuleiro com o objetivo de arrancar sustos baratos abusando de cenas sanguinolentas e acordes histéricos na trilha sonora. Prefiro o exemplo anterior, Funny Games, onde a única cena de violência explícita ocorre quando as vítimas dos garotos se vingam. Percebe a diferença? A finesse?
O Jô Soares faz isso em seus livros (sem o teor humorístico, óbvio), mas subverte os acontecimentos históricos da mesma forma.
O único livro que li de Jô Soares foi o "Xangô de Baker Street", que sinceramente odiei. Não pela alteração de fatos históricos ou o desrespeito com um dos personagens que mais gosto na literatura, mas pela história boba e que falha em seu único objetivo: ser engraçado. Péssima comparação.
Merece comparar também com Dr. Strangelove, do Kubrick. Ele também adotou as mesma liberdades históricas e fez um filme excelente. Ou o Kubrick também é canastrão, enganador?
Comparar um libelo anti Guerra Fria como Dr. Strangelove com o western-spaguetti-wannabe do Tarantino somente mostra que você não entendeu o filme. Sugiro que assista de novo (Dr. Strangelove, não Bastados Inglórios).
Eu concordo quando você diz sobre escrever histórias de gêneros, e essa babaquisse que está sendo feito hoje em dia (e, como vc falou também, não vale generalizar).
Fico feliz que você concorde, mesmo detectando uma tentativa de ser paternalista.
Bastardos é exatamente isso. Não é um filme sobre Guerra (ele está todo "errado", não? - não estou ironizando aqui) é um filme sobre violência. O que não é um gênero.
"Um filme sobre violência". Ok, vamos presumir que Tarantino realmente quis passar uma mensagem, fazer com que o espectador se questionasse sobre violência e vingança (não quis). Qual o questionamento podemos tirar do filme? Que em situações extremas nos tornamos o mesmo que nossos algozes? Que a violência contra a violência se justifica? Aldo Raine é um caipira transtornado, beirando o sociopata, que matava por ódio (não muito diferente de Hitler). Há algum momento que o personagem questiona seus atos? Há algum momento que o espectador questione seus métodos? Há empatia pela luta que os personagens travam (além de "matar nazistas é legal"). O retrato estereotipado que Tarantino faz de seus personagens é único, raso. Não há motivação, não há mudança, não há questionamento. E nem foi este seu objetivo, mas isso não é desculpa nenhuma.
Sem falar que o filme conta com um personagem muito interessante e que merece todo o destaque. O vilão Hans é uma figura única. O final do filme mostra isso.
De tão inteligente, percebendo da iminente derrota dos Nazistas, tenta se sair bem da situação. Se propõe a entregar todos os oficiais em troca de prisão política (caso contrários seria morto). Isso é de gênio. Acontece que os "crimes" que ele cometeu são eternos, e é isso que o Aldo (Bard Pitt) faz quando marca os rostos dos que captura. E os personagens do filme são "rasos"? (palavra sua)
Na maioria dos filme de guerra os personagens são arquétipos, aqui, definitivamente eles não são.
Hans Landa só se transformou em um personagem marcante graças à atuação primorosa de Christoph Waltz (aliás, a única atuação decente de todo o elenco). Landa é um cínico, um sádico e um oportunista, sim, mas não um gênio. Sua "jogada" ao final do filme é tudo, menos genial. "Ingênua" talvez seria um adjetivo melhor. Sua derrocada é patética e anticlimática (perdendo apenas para a morte de Bill, em Kill Bill). E sim, até Hans Landa é um arquétipo. Ou você nunca assistiu Indiana Jones?
Sem falar que para nenhuma das enumeração que vc fez, vc não argumentou nenhuma. E depois eu que não tenho argumentos?
Sugiro que você releia o texto. Levante do colo de Tarantino quando o fizer. Vai ajudar.
Meu comentário anterior não foi grosseiro, nem "caguei" regra nenhuma. Apenas seu comentário do filme foi ignorante e sem fundamento. Levantar a bandeira do intelectualismo e meter o pau na cultura mainstream é muito fácil, mas cuidado para não ser piegas.
Não sei seu conceito de grosseria, mas no meu seu comentário se encaixa perfeitamente. Você desmerece minha opinião, ignora meus argumentos e ainda ofende meu ofício. Dizer que eu "como escritor deveria saber disso" não é nada mais que cagar regra. O que um escritor deve saber? Tenho três romances publicados e participei de outras sete coletâneas. Sou pós graduado em criação literária. Mesmo assim não sei o que um escritor deveria saber. Sei o que eu sei e o que eu escrevo. Escrever é uma arte. E toda arte é subjetiva. Se todos os escritores soubessem a mesma coisa não precisaríamos de mais livros. Ou escritores. Ou de opiniões divergentes.
Não quero trolagem, não quero baixarias. Aqui é uma discussão saudável, entre pessoas civilizadas.
Neste ponto você simplesmente contradiz tudo o que escreveu anteriormente, numa patética tentativa de botar panos quentes e fazer parecer que você é a parte ofendida na discussão. Desculpe, mas se você quer me ofender faça isso olhando em meus olhos. Não venha querer amenizar seus ataques com uma falsa educação.
Toda ação tem sua reação. A minha ação é reação do seu texto arrogante e unilateral.
Desculpe, sou imune a clichês. Se quer reagir reaja como homem. Se esconder atrás de uma máscara de anonimato apenas escancara sua covardia. Você tem todo o direito de desgostar de meu texto e de minha opinião. Só peço que o faça com um mínimo de educação. E quanto ao "unilateral" o fato de eu ter publicado o texto em um blog e deixado aberto a comentários (mesmo os grosseiros como o seu) mostra que isso não é verdade.
Abraço, amigo, e boa sorte pra vc.
Não somos amigos e dispenso falsas cortesias. Apenas respondi sua mal redigida argumentação pois percebi que você se deu ao trabalho de ao menos tentar. Minha consideração termina aí. Caso queira discutir mais a este respeito mostre sua cara e diga o seu nome. Caso contrário o tratarei como trato qualquer troll que queira me importunar: com um sorriso de total e completo desprezo.

Sem mais,
Alexandre Heredia