03 fevereiro 2014

RESENHA: A Última Expedição - Olivia Maia

Título: A Última Expedição
Autora: Olivia Maia
Páginas: 224
Editora: Draco
Ano: 2013

Sinopse:
Após uma expedição fracassada ao Polo Sul, Estevão Tavares, neto por parte de mãe de um renomado aventureiro, vê sua carreira e vida pessoal desabarem. Atolado em dívidas e autopiedade, é contratado para uma expedição de busca de um médico irlandês desaparecido por motivos misteriosos no altiplano boliviano. Junto com seu pai, com quem não falava desde o fracasso da expedição antártica, e outros três aventureiros desacreditados, Estevão parte em busca não apenas de respostas para uma missão cheia de perguntas, mas também da própria vida perdida.

Narrada de maneira truncada e em um português propositalmente inconsistente, “A Última Expedição” se mostra uma história policial pouco ortodoxa, desde a escolha do protagonista (um aventureiro com nenhum conhecimento sobre investigações) até a maneira como é narrada, utilizando um estranho “fluxo de consciência em terceira pessoa” que, apesar de bastante interessante como experiência narrativa, pode tornar a história confusa em alguns trechos. Em certos momentos chave o evento realmente importante é misturado à profusão de pensamentos entrecortados e erros gramaticais, o que pode obrigar o leitor a retornar alguns parágrafos para melhor compreender o que acabou de acontecer. Depois que se acostuma a isso, porém, essa opção não interfere tanto no ritmo de leitura, visto que os momentos de monólogo interior do narrador ajudam bastante na construção dos personagens, especialmente do protagonista e de sua relação conturbada com o pai. O mesmo não ocorre com o resto dos personagens, que apenas cumprem suas funções acessórias, sem que compreendamos perfeitamente suas motivações ou mesmo nos importemos com seus destinos.

A trama se inicia em São Paulo e segue em um ritmo arrastado até a Bolívia, sem que o protagonista saiba direito onde está se metendo. Diversas pistas importantes são desperdiçadas pelo grupo desunido, que parece se importar mais com o dinheiro envolvido e com os cenários bolivianos do que realmente em resolver o caso. Neste ponto fica óbvia a experiência da autora nas localidades visitadas e, sobretudo, com a sensação desagradável causada pela altitude (os locais visitados pelo grupo ficam entre 3.600 e 4 mil metros acima do nível do mar). As descrições dos locais são colocadas de maneira orgânica à narrativa, e é possível visualizá-los sem que isso prejudique a fluidez do texto (apesar da insistência em mostrar o desconforto dos personagens com o ar rarefeito às vezes se tornar ironicamente... incômoda).

A trama é complexa, mas a forma escolhida para a narrativa faz com que os personagens sempre retomem as pistas e os envolvidos, o que facilita a compreensão. É uma pena que a história realmente engate apenas no terceiro ato, com os personagens saindo da zona de indefinição e percebendo que o que está em jogo não é apenas o sucesso ou o fracasso da expedição, mas também suas vidas. Se esta epifania acontecesse um pouco antes talvez a impressão de “lerdeza” na leitura dos dois primeiros atos desaparecesse. Mas quando a revelação finalmente chega, ela não decepciona, fazendo sentido em todo o contexto, mesmo com a sensação de anticlímax que fica quando as respostas aparecem. Há algumas pontas soltas não resolvidas (Como Renato se envolveu com Heitor? Qual a motivação de Helena?), mas nada que atrapalhe a conclusão satisfatória. A explicação para a narrativa truncada, com erros de tempos verbais e construções de frases que remetem ao inglês e ao espanhol, fica para o último parágrafo, como uma “surpresa final” que, em retrocesso, enriquece a história.

Em suma, “A Última Expedição” é um livro para quem gosta de histórias policiais, mas que não aguenta mais o formato batido das histórias de detetive clássicas (apesar da estrutura original ainda estar bastante presente, bem como suas técnicas). Olivia Maia constrói uma narrativa que traz frescor a um gênero ainda desacreditado, realizando experimentações linguísticas e temáticas interessantes, tornando a fronteira entre a “subliteratura” e a “alta literatura” (seja lá o que estes rótulos signifiquem) um pouco mais tênue, o que por si só já justifica a sua leitura. O fato de a história fugir do lugar comum das obras do gênero, mas sem perder de vista o fator que as atrai em um primeiro momento (um mistério a ser solucionado), mesmo com alguns tropeços aqui e ali, torna o livro um pacote de entretenimento bastante interessante, que não decepcionará nem os leitores mais ávidos do gênero policial nem os pouco habituados com essas histórias.

Nota: