03 abril 2010

Uma Ideia Hipotética (Parte Final)


Seu nome era Metafórico. Ele era um cidadão hipotético vindo da classe trabalhadora, estereotipado como todo o resto. Mas quando chegou na idade madura, percebeu que algo estava errado, que havia algo ruim na verdade proferida pelos seguidores do Novo Estereótipo. Começou a juntar pessoas que pensavam como ele e caminhou pelas vilas espalhando sua palavra de revolta. Infelizmente, foi preso pelos Ortodoxos, graças a uma traição de Expiatório, um de seus seguidores mais fervorosos. Após um curto julgamento, foi torturado e morto.

Usurpador, outro dos seguidores, percebeu que poderia transformar a figura de seu antigo líder em um autêntico mártir hipotético. Juntou-se a outros antigos seguidores e começou sua pregação, fugindo para terras onde o poder dos Estereótipos ainda não havia chegado. Lá, Usurpador e os outros escreveram a hipotética história de seu mestre. Assim surgiram os Evangelhos Metafóricos, que seriam a base para a nova Instituição que se seguiria.

Com o passar dos anos Estereotipados e Metafóricos iam se espalharam pelo mundo conhecido. Tiveram contato com outros povos, que imediatamente consideraram novos Heterodoxos, cada um à sua maneira. Guerras se seguiram, com milhares de mortos. Os Estereotipados acabaram expulsos do Vale da Hipótese pelos Beligerantes, antigos proprietários daquelas terras, e sua guerra se estende por séculos.

Alheios a isso, os Metafóricos continuaram a crescer. Eventualmente seus seguidores acabaram por cometer os mesmos crimes que vitimaram seu mártir, mas poucos se importaram com isso. Descendentes do Usurpador original perceberam que haviam grandes falhas nos Evangelhos Metafóricos, e histórias que não deviam ser ditas, pois contradiziam seus interesses mais diretos. Por essa razão re-escreveram os textos, criando o Novo Evangelho Metafórico, revisado e com diversos cortes (o maior dele foi o capítulo escrito por uma discípula ferrenha, Apócrifa, que alegava ter tido um caso tórrido com Metafórico). E, graças a um período onde apenas os líderes metafóricos sabiam ler e escrever chamado Idade Excessivamente Romantizada, a ideia funcionou. Os Metafóricos enriqueceram e devido a isso diversos grupos dissidentes surgiram (primeiro os Reclamantes, que queriam uma parte dos lucros para eles, depois os Fantasmagóricos e finalmente os barulhentos Hipócritas), graças aos cada vez menos claros Evangelhos Metafóricos. Os Estereotipados, por sua vez, mesmo sofrendo uma perseguição ou outra, também prosperaram, especialmente graças a uma forte campanha publicitária.

Essa história não termina. E poucos se recordam dos tempos antes das ideias hipotéticas, estereotipadas ou metafóricas, onde todos eram felizes, mesmo apesar dos problemas, pois ninguém precisava usar mentiras e invenções para responder às pertinentes questões de Metafísica.

2 comentários:

la fiesta siniestra disse...

Oi Alexandre, cara o seus textos são loucos, adorei
tinham ideias os Hipotéticos? è possivel voltar nesse tempo dos hipotéticos se alguma vez existiu como tal?
Gostei demais de Uma Idea Hipotética.
Mas na minha, Breve, não so Cético e a sua familia questionavam aos Estereotipos. Ainda mais, os Hermeneúticos da Vila dos Hipoteticos, ainda que a imoralidade pululava por toda a parte, nós deixaram a sua Metafísica verdadera.
Obrigado e Saudações

Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto.