Quando eu estava no colégio meus colegas de classe sempre me pediam para desenhar caricaturas. De quem quer que fosse. E eu fazia, talvez na vã esperança de que aquele dom ajudasse de alguma forma em minha escalada social pré-adolescente. Claro que não deu certo. Baixinho, fracote, asmático, míope e meio corcunda, que preferia ler a jogar futebol? É de me admirar que algum dia eu tenha perdido a virgindade.
Mas as caricaturas fizeram sucesso. Todo ano eu era o responsável por fazer um desenho com a caricatura de todos os alunos e professores. Esse hábito sobreviveu até o cursinho, mas daquela vez eu fiz a caricatura da Turma do Sala 26. E "Sala 26" não era uma sala de aula, pode acreditar.
Onde estávamos mesmo? Ah, sim: um escritor meio chapado despejando reminiscências inúteis numa sexta feira à noite. Um brinde!
Esse meu dom em caricaturas me fez a escolha óbvia para ilustrar uma camiseta que seria usada pela equipe de uma gincana no colegial. O tema imposto? AIDS. Releve o fato que naquela época testemunhávamos o princípio da "terceira onda", quando ainda chamávamos o pessoal do Greenpeace de heróis, não eco-terroristas. E também era a era do pânico da AIDS.
Tarefa dura. Um autêntico desafio.
E eu adoro ser desafiado.
Desenhei a camiseta. Bolei uma série de espermatozóides engraçadinhos e os coloquei perseguindo um óvulo de cinta-liga com o vírus da AIDS sorrindo malevolamente em seu ombro. O desenho e a camiseta se perderam no tempo, mas recordo-me bem de cada um, que representavam cada um de meus colegas. Tinha o Apressadinho. O Perdido. O Cabeludo (eu). O Retardado. O Negro (perdido naquela "porra branca", que na época era de algum modo uma piada). E tinha o Desencanado. Era um desenho bem simples, de um espermatozóide com óculos escuros. Só isso. Era o menos aparente do grupo, mas de longe o mais icônico. Fizemos várias camisetas e distribuímos. Não lembro quantas. Mas muitas. E ganhamos a prova.
E em seguida esquecemos.
Um ano depois meu pai foi à Espanha fazer o Caminho de Santiago (é, eu sei...). Quando voltou, além de um entorse no tornozelo e uma réplica de uma espada medieval, ele trouxe uma foto. Havia encontrado um rapaz usando uma camiseta com o Desencanado estampado, mas renomeado como "Sperminator" (ele perdeu o ar desencanado...). Sério. Na Espanha. Isso mesmo. Eu havia sofrido meu primeiro plágio.
Momento de Definição: Por plágio eu considero alguém usar algo que eu criei para obter lucro e não dividir comigo. Usar um texto meu no seu perfil do Orkut e não colocar os devidos créditos não é plágio. É patético.
Voltando. Logo depois de ter criado o Sper... Desencanado um colega meu me disse que havia um concurso de desenho que uma empresa estava promovendo com o intuito de criar o novo logotipo. Legal. Rascunhei um esboço simples, mostrei pro cara, ele curtiu, pediu pra que eu fizesse um layout. Me inscrevi no concurso, fiz o layout, mandei e esperei o resultado. E ele veio. Não havia vencedores. O concurso foi cancelado. Rasguei a ficha de inscrição e segui em frente.
Já dá pra prever o resultado? Desculpem. Já fui melhor nisso. E eu REALMENTE estou um tanto chapado demais pra escrever. Mas vamos ver no que isso vai dar.
Dessa vez demorou um pouco mais para eu descobrir o plágio. Alguns anos, na verdade. Mas pulou na minha cara durante um passeio num shopping. É, eu também faço isso de vez em quando. Mas o fato é que estava lá, estampado num daqueles stands de vendas no corredor. E não era apenas o logo da empresa que havia me plagiado. Era o logo da MATRIZ INTERNACIONAL da empresa. Ou seja, esta empresa (que não, não vou citar o nome por absoluta ausência de provas) usou uma arte ROUBADA como símbolo dela NO MUNDO INTEIRO? Péssima propaganda, não?
Segundo plágio. Será que essa história tem algum objetivo? Espero que sim.
Há algumas semanas tive mais um caso. Vou ser rápido pois não quero ser mal compreendido. Prontos?
Fui plagiado por Stephen King.
Ainda aqui? Então vamos lá...
Não sei até que ponto um escritor e sucesso lá da Gringolândia presta atenção à criação literária terceiro mundista, nem se ele sabe ler em português, mas independente de qualquer coisa as coincidências são muitas para serem assim consideradas. Não vou me alongar. Desta vez eu tenho evidências para vocês. Comparem este meu conto com o episódio "Autopsy number four", da série "Nightmares&Dreamscapes" (passa no Warner Channel, mas eu sei que você vai procurar em outro lugar) e tirem suas próprias conclusões.
Não eu não vou processar o Stephen King. Sério. Que chances eu tenho? Vamos seguir em frente.
Engraçado que a mesma Warner Channel agora decidiu me aprontar mais uma. A chamada da nova série era forte demais para eu resistir. Eu conhecia aquela história. Ah, se conhecia. O nome da série? Californication. Com David Duchovni. É, o Fox Mulder. Não enche.
Fui atrás e baixei o episódio piloto. Eu PRECISAVA ver aquilo antes da estréia aqui no Brasil. Assisti. Duas vezes. Levei aproximadamente trinta minutos para voltar a pensar. Aquela série era tão parecida com minha vida misturada à do Zebedeu que me deu pânico! Como é que podia? Plagiar meus textos era uma coisa, mas plagiar minha vida era algo insólito demais para ser verdade. Especialmente para um escritor ateu e cético como eu. Não era possível.
Mas sabe o pior? A série é boa. Ótima. Seria algo que eu gostaria de ter escrito, dirigido da maneira que eu queria ver dirigido. Era como se eu realmente a TIVESSE escrito, tamanha a semelhança em tema e enredo. Já baixei mais 5 episódios e vou baixar o resto. É boa pra cacete. Juro. Pode assistir sem medo.
Não, a Warner não me subornou para que eu dissesse isso. Mas aceito, caso seja necessário. Sim, eu sou uma puta fulambenta. Me deixa!
Vejam o trailer:
Onde quero chegar com tudo isso? A lugar nenhum. Mas achei que era uma coisa interessante para compartilhar, qualquer significado isso tenha.
Boa noite.
E boa sorte.
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