05 abril 2007

Suicídio corporativo

Em janeiro último Cian Kelliher, empregado demissionário da Ernst&Young, redigiu a mensagem de despedida abaixo (para ler no original, em inglês, aperte o rato aqui), que distribuiu a todos na empresa. O teor é azedo, meio raivoso até, mas de algum modo todos nós podemos nos relacionar ao seu conteúdo. Leiam (os grifos e a tradução são meus):

Minha Carta de Despedida:

Caros colegas,

Como muitos devem saber, amanhã é meu último dia. Mas antes de partir eu gostaria de usar esta oportunidade para dizer o quão prazeroso foi para mim digitar "amanhã é meu último dia".

Por quase todo o tempo em que trabalhei aqui alimentei a esperança de que eu um dia eu sairia desta empresa. E agora que este sonho se tornou realidade, por favor saibam que eu nunca alcançaria este objetivo sem a completa ausência de apoio de vocês. Palavras não conseguiriam expressar minha gratidão pelas palavras de gratidão que vocês nunca expressaram.

Eu gostaria de agradecer especialmente todos os meus gerentes: numa época onde a falta de comunicação se tornou algo comum, vocês consistentemente me impressionaram e inspiraram com a magnitude de sua falta de informação. É preciso de força para admitir um erro, e muito mais força para atribuir este erro a mim.

Neste ano e meio vocês me ensinaram mais do que eu poderia pedir e, na maioria dos casos, alguma vez pedi. Tive a sorte de trabalhar com alguns supervisores absolutamente intercambiáveis em uma imensa variedade de projetos aparentemente idênticos - uma lição inestimável de superar o tédio diário e superar o tédio diário e superar o tédio diário...

Suas demandas eram sempre altas e a paciência curta, mas eu me consolava ao saber que meu trabalho era, como declarado em minha avaliação anual, "na maioria das vezes satisfatório". Este é o tipo de agrado que nos manda para casa felizes após uma jornada de 10 horas de trabalho, sorrindo enquanto bebemos meia garrafa de um uísque na maioria das vezes satisfatório.

E a grande parte de meus pares: mesmo que mal nos conhecêssemos dentro do escritório, eu espero que, no futuro, caso nos esbarremos na rua, vocês me tratem da mesma maneira que eu trato vocês: sem contato visual.

Mas para aqueles poucos aos quais eu realmente interagi, seguem minhas notas personalizadas de despedida:

Para Caulfield: Eu sempre me lembrarei de dividir meus lanches com você, mesmo ignorando o fato de eu tê-los claramente etiquetado com meu nome.

Para Mairead: Sentirei falta de detectar sua flatulência tanto quanto eu sei que você sentirá falta de passar perto de meu cubículo para entregá-la.

Para Linda: Boa sorte em sua campanha para popularizar as correntes de email. Eu espero sinceramente que você tenha um final de semana repleto de boa sorte, ganhe um abraço de um velho amigo, e um bebê para preencher este seu útero empoeirado.

E, finalmente, para Kat: você estava certa - deu positivo. Conversamos depois.

Então, nesta despedida, se eu pudesse passar algum conselho ao indivíduo que irá em breve preencher o meu cargo, este seria para que aproveitasse a experiência como uma esponja e que sugasse tudo como uma boa mulher, porque uma oportunidade de trabalho como esta só aparece uma vez na vida.

Traduzindo: Se eu tiver que trabalhar aqui novamente eu prefiro me matar.

Atenciosamente,

Cian Kelliher

PS: Vou fazer um happy hour no Oden amanhã a partir das 17:30, caso alguém esteja interessado em encher a cara!

Claro que esta mensagem dificilmente ficaria confinada aos corredores da empresa, caindo na internet quase que instantaneamente e causando grande rebuliço na diretoria da Ernst&Young. Infelizmente o Sr. Kelliher traiu a si próprio redigindo logo em seguida uma vergonhosa mensagem de desculpas, justificando sua atitude como uma "piada mal compreendida".

Uma pena, ele quase se tornou meu herói.

Nenhum comentário: