Mesma cena: pai sentado assistindo TV num domingo a tarde. Chega a filha.
REALIDADE 1:
- Pai, queria te apresentar meu namorado...
- Namorado? E desde quando você namora?
- Pai, esse aqui é o Arlindo. Arlindo, esse é meu pai.
- Arlindo, é? Arlindo de quê? Bom, não interessa. Pelo menos não é uma garota. Você não é uma garota, é?
- Pai!
- Não senhor. Sou homem. Desde que nasci.
- Não dê uma de engraçadinho comigo, rapaz. Não sei quem você pensa que é, mas aquela lá é minha princesa, está me entendendo? Criada nos bons valores morais, vai à missa todo domingo e é virgem como um querubim. E é assim que ela vai permanecer até o dia do casamento, tá compreendido?
- Pai!
- Claro, senhor. Perfeitamente. Minhas intenções com sua filha são as mais...
- E eu lá estou interessado em suas intenções? Suas intenções são as minhas intenções, tá entendido? Se você pensar em mijar fora do balde eu pessoalmente vou garantir que você nunca mais mije de pé, compreendeu?
- Pai!
- Sim, senhor. Claro senhor. Quero assegurar que...
- Quem vai assegurar aqui sou eu. Você parece ser um bom rapaz. Já foi preso, se meteu em alguma encrenca? Onde foi que vocês se conheceram?
- No grupo dominical.
- Você não vai no grupo dominical. Que história é essa?
- É online, pai.
- Tanto faz. Me diga uma coisa, rapaz: em sua casa tem água?
- Três dias por semana, senhor.
- Pra mim é o suficiente. Vocês têm minha bênção. Agora me deixem em paz que vai começar o jogo.
REALIDADE 2
- Oi pai.
- Oi filha. Quem é sua amiga?
- É a Eleanor. E ela é mais que amiga.
- Outra namorada? Foram quantas essa semana? Três? Quatro?
- Pai!
- Estou brincando. Seja bem vinda, Eleanor. Você bebe?
- Um pouco.
- Maravilha. Senta aí que eu já trago uma cerveja e a gente conversa. Vai começar o jogo. Quer uma também, filha?
- Só um copo d'água, pai, por favor.
- Saindo um copo d'água e duas cervejas. No capricho!
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