Primeiro, assistam essa cena de Donnie Darko, onde o protagonista (vivido por Jake Gyllenhaal) e sua professora (Drew Barrymore) analisam, na aula de literatura inglesa, o conto The Destructors, de Graham Greene:
No final do diálogo Donnie dá seu parecer sobre a obra analisada:
"Destruição é uma forma de criação. Dessa forma o fato deles queimarem o dinheiro é irônico. Eles só querem saber o que acontece quando destroem o mundo. Eles querem mudar as coisas."
Como não li tal conto, não sei até que ponto esta análise é precisa, mas reparem como, quase 10 anos depois que o filme foi feito, outro personagem usa a mesma metáfora, de uma forma que é impossível acreditar que seja coincidência:
Sim, ele queima uma pilha de dinheiro, com a intenção clara de mudar as coisas.
Vemos aqui o exemplo claro de uma referência literária sendo usada de duas maneiras, ambas com o intuito de aprofundar o personagem. Donnie Darko, após aquela cena, entra num ciclo destrutivo, impulsionado por uma visão ("Frank"). A cena da análise do livro explica suas motivações. No caso do Coringa, ele possui as mesmas motivações dos personagens de Graham Greene, sem tirar nem por.
Essa sopa de referências cruzadas no ensina muito sobre o processo de criação de um personagem através de reuso de materiais previamente escritos. No caso de Donnie Darko a referência é explícita. Já no caso do Coringa, ela é implícita. Mas em ambos os casos extremamente relevantes.
Isso é dar dimensão a um personagem. Um brinde à Graham Greene, Richard Kelly e Christopher Nolan.
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