Autores: Andrei Simões (texto) e Lupe Vasconcelos (ilustrações)
Páginas: 239
Editora: Empíreo
Ano: 2013
Quem nunca se olhou em um espelho e, subitamente consciente de sua incapacidade de tomar as rédeas de sua própria realidade, questionou sua existência no universo? É isso que Zon faz aos quarenta e um anos de uma vida maçante e comum. A diferença é que ele chega a uma conclusão surpreendente: ele é um personagem de um livro, fazendo assim parte de uma tríade, junto com Aquele que Escreve e Aquele que Lê. Assim, sua realidade é uma não-realidade e sua existência é uma não-existência. Ele é na verdade um Paradoxo, ou seja, ele não sabe o que é; apenas que não é.
É este paradoxo que irá permear todas as histórias que compõe o intrigante romance fix-up de Andrei Simões e Lupe Vasconcelos. A epifania de Zon o liberta, e ele “sai” da mente d’Aquele que Escreve e torna-se um parasita, uma não-criatura que invade as mentes d’Aqueles que Leem, desta maneira alcançando uma suposta imortalidade existencial. Durante sua jornada pela psique alheia ele navegará entre gêneros literários (fantasia, pulp, terror, realismo, ultrarrealismo), encontrará outras não-criaturas, deuses e dragões, conversará com seu criador e até mesmo testemunhará a própria morte (que não o mata, pois algo que não é não pode morrer).
O texto de Andrei Simões não faz concessões ao leitor, ora nos jogando a paisagens complexas e oníricas, ora nos esbofeteando com uma realidade fria e cinza, mas sempre tendo como fio condutor a busca existencial do protagonista. Seus questionamentos não são de fácil digestão, e nenhuma resposta pronta é oferecida como alento. São dúvidas psicológicas, teológicas e existencialistas, por vezes um tanto óbvias, mas muitas vezes perturbadoras. Em certo momento a sequência de eventos é tão confusa que parece que o autor perdeu a mão, mas ele mesmo surge metalinguisticamente e retoma as rédeas da história.
Introduzindo cada conto há sempre uma bela ilustração em nanquim de Lupe Vasconcelos, que, diferente do que se possa imaginar, apenas enriquece a leitura, dando o tom correto à narrativa que se seguirá. Em algumas ilustrações é possível ver que ela utilizou elementos do texto, mas em outras há mais um reconhecimento do sentimento emanado pela história. A sinergia texto/ilustração é orgânica, o que torna a decisão de fazer um livro ilustrado corretíssima.
“Zon, o Rei do Nada” não é um livro fácil. E nem deveria ser, dado os temas que aborda. Mesmo assim sua estrutura episódica e não linear facilita a leitura, e os contos são curtos o suficiente para que se possa apreciar cada pílula existencial na dose correta. É possível ver ali influências clássicas (Dante, Goethe e Milton são as que me vem à mente) e mais recentes (a mais óbvia é Sonho, de Neil Gaiman), mas nada que tire a originalidade da obra. Muito pelo contrário. É um livro interessantíssimo e que deve ser apreciado com a calma que suas questões merecem.
Nota:
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