11 março 2009

It's only roquenrou, beibe

Sempre fui um músico frustrado. Assumo. Toda vez que vejo alguém tirando uma música de ouvido ou mesmo simplesmente TOCANDO um instrumento de maneira competente me remoo de inveja. Sempre adorei música. E quem nunca fantasiou em se tornar um autêntico rock star?

Minha empreitada neste mundo já começou com um balde de água fria. Impelido pelo fato de meu pai possuir um violão (que era de meu avô, um Giannini velhão) decidi tentar aprender. Entrei numa aula e, depois de alguns meses, o próprio professor desistiu. "Cara, violão não é tua praia", lembro dele me dizendo.

Oh, a frustração! Eu não seria um autêntico Guitar Hero (não, nada a ver com aquele videogame chato pra cacete) que seduziria multidões com seus acordes distorcidos e sua pose de "foda-se o mundo!". Porcaria, porcaria! Nem ao menos seduzir menininhas em luaus e saraus eu conseguiria.

Decidido a não desistir depois do primeiro tapa na cara entrei numa aula de piano. Eu era beeeem moleque, aula particular, na casa de uma vizinha, uma velhinha japonesa super dócil, bem clichê mesmo. Com ela aprendi a ler partituras e até mesmo a tocar músicas simples em seu velho piano-armário ("Meu limão, meu limoeiro", "Oh, Suzana", "Ode to Joy", essas coisas). Não lembro bem por que parei com as aulas. Talvez por minha incapacidade de evoluir. Ou porque a velha morreu. Eu REALMENTE não lembro.

Quando a adolescência chegou aquele antigo desejo ressurgiu. Decidi me tornar um tecladista de uma banda. Tá, não é tão glamuroso quanto um guitarrista, mas dava pro gasto. E eu já sabia o básico. Decidi entrar numa aula de teclado popular. E eu consegui uma professora que era simplesmente DELICIOSA. Eu tinha 16 ou 17 anos, não me recordo bem, e ela estudava medicina na USP e dava aulas para complementar o orçamento. Era maravilhoso encontrá-la todas as tardes de sábado, nem que fosse para levar broncas por minha incapacidade de ensaiar durante a semana ou mesmo para ser humilhado vendo-a tocar magnificamente com seus dedinhos que deviam ser da metade do tamanho dos meus. Eu ficava fascinado como suas mãos passeavam agilmente pelas teclas, quase se tornando um borrão indistinto, arrancando músicas complexas de seu instrumento.

Talvez o incentivo hormonal me fez me esforçar mais que o habitual e eventualmente eu acabei pegando o jeito da coisa. As músicas começaram a sair, em arranjos cada vez mais complicados e interessantes. A recompensa vinha no sorriso e nos abraços de aprovação de minha querida professorinha. Depois de alguns meses ela me colocou como destaque na audição de final do ano de seus alunos. Eu tocaria três músicas, sendo o ponto culminante uma versão com DOIS teclados de uma das músicas mais clássicas do rock-farofa: The Final Countdown, do Europe.

Cara, como eu ensaiei aquela porra. Eram horas e horas todos os dias (saudades dos tempos que meus dias tinham "horas e horas" livres...). Aperfeiçoei os arranjos, trocava mãos, vozes, ritmos. Tudo para arrebentar na apresentação final. Não só para agradar a deliciosa professora, mas também para provar de uma vez por todas que eu podia fazer aquilo.

E eu fiz.

Mesmo contando com uma intervenção ciumenta do namorado da professorinha, que sabotou o equipamento bem na hora de minha apresentação (não tiro sua razão, mas questiono seus métodos), eu detonei. Fui aplaudido de pé pela pequena platéia. E eu sei que realmente mereci cada um daqueles aplausos, tamanho o esforço ao qual me dediquei nos meses anteriores. Há um registro em VHS feito por meu pai do momento. Assim que eu lembrar de digitalizar a fita prometo que coloco por aqui para provar (Pai, tem jeito?).

Tá, essa historinha longa na verdade está aqui apenas para que vocês compreendam a minha revolta com o vídeo abaixo, que encontrei no blog do Bugz. Eu... não tenho palavras para descrever isso. Sério. Assistam e compreendam:



O que dizer disso?

Bom, após aquela minha apresentação eu toquei ainda um pouco com uma banda de amigos e em seguida a vida veio e colocou a música em décimo quinto plano em minha lista de prioridades. Apenas recentemente ando ensaiando uma volta, tocando com outros amigos em uma jam session semanal onde tiramos essencialmente blues. Está bastante difícil desenferrujar (apesar de eu saber "The Final Countdown" de cor até hoje, para tristeza de todos) mas ao menos sei que nunca tocarei tão terrivelmente quanto esses moleques aqui:



Tristeza, né? Mas respeito quem tem o culhão de subir num palco e destruir uma música desta maneira (mesmo uma música originalmente destruída como essa). Na verdade compreendo. O amor à música as vezes é muito maior que nossa capacidade de tocá-las.

E esse é o espírito do verdadeiro Rock'n'Roll.

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