18 março 2014

Caçadores do Sinal Perdido


- Bom dia! Em que posso ajudá-lo?

- Bom dia. Eu precisava de uma conexão para mandar um e-mail.

- Entendo. Qual é o seu plano?

- 4G.

- Olha, o 4G é meio difícil de encontrar. A gente nunca sabe onde ele está. Ele até aparece de vez em quando, mas vai embora rapidinho... Olha ele lá do outro lado da rua!

- Onde?

- Já foi embora. Eu não disse?

- Tudo bem, pode ser o 3.5G mesmo. É só pra mandar um e-mail...

- O que o senhor disse?

- 3.5G.

- Nunca ouvi falar. Ah, claro! Me desculpe. Esqueci completamente que o 3G de vez em quando exagera no RedBull e se acha mais rápido do que realmente é.

- Tudo bem, pode ser o 3G mesmo.

- Estou verificando por aqui, mas não sei o 3G se encontra neste momento. Ele assinou a folha de ponto, está dentro da área de cobertura, mas por algum motivo não consigo localizá-lo. Provavelmente está no banheiro. Sabe como é, né? Muito RedBull...

- Será que ele demora? Eu estou com um pouco de pressa.

- Não sei. Mas olha, se o senhor quiser posso chamar o EDGE.

- EDGE? Eu nem sabia que isso existia ainda.

- Pois é, ele já devia ter se aposentado. Aliás, acho que até já se aposentou. Mas ele não vai embora. A gente fica com dó e deixa ele ficar. Pra mandar um tuíte ou coisa assim. Ele é um pouco devagar, mas se o senhor tiver um tempinho tenho certeza que ele cumpre a tarefa. Eventualmente. Se não cair.

- Cair?

- É. Ele está meio velhinho, sabe? Anda mal das pernas. Cai o tempo todo. Tecnologia defasada, essas coisas. Mas se for só pra mandar um e-mail pode ser que ele dê conta do recado. Quer que eu o chame?

- Tem certeza que não dá pra encontrar o 4G ou o 3G por aí?

- Vou fazer o seguinte: vou chamar o EDGE e, enquanto a gente espera tenta encontrar o 3G ou o 4G. Tá bom assim?

- Pode ser.

- Tá bom. Então só aguar...

- Alô? Alô?

- Sua bateria está fraca. Conecte a um carregador.

- Não tem tomada aqui, mas é só pra mandar um e-mail. É urgente!

- ...

- Você está aí ainda?

- Bom dia! Em que posso ajudá-lo?

- Uma conexão! Pra mandar um e-mail!

- Desculpe, mas entramos no modo de economia de bateria. Todas as conexões foram desabilitadas.

- É só um e-mail! Pelamordedeus, é importante!

- Desculpe, não posso fazer nada. Conecte a um carregador.

- Não tem tomada aqui perto!

- Desculpe. Não posso fazer nada.

- Eu te odeio.

- Você quis dizer "Eu te amo"?

- Não.

- Ok. Vou desligar agora.

- Não, espera!

- Tchau.




14 março 2014

FAQ - Envio de livros para resenha


Como vocês já devem ter notado pelas últimas postagens, estou empenhado em fazer resenhas de livros. Isso desencadeou uma pequena avalanche de pedidos, de autores e editoras, o que me obrigou a estabelecer algumas regras para o envio dos livros e publicação de suas resenhas.

Mas não encare como mandamentos talhados em mármore. São recomendações e justificativas que, apesar de precisar serem levadas a sério, podem ser alteradas sem aviso prévio de acordo com a necessidade.

- Quem é você e o que te qualifica a resenhar meu livro?
Meu nome é Alexandre Heredia. Sou escritor com mais de 10 anos de experiência no meio literário. Já lancei 3 romances e participei de uma série de coletâneas (a lista está aí do lado direito). Sou pós-graduado em Criação Literária pela UNICSUL. Já trabalhei diretamente com diversas editoras, analisando originais, fazendo copidesque e leituras críticas. E sou chato. Bastante chato. Especialmente no que diz respeito a literatura.

- Que gêneros literários você resenha?
Ficção. Prosa. Romances e contos. Infantis, infanto-juvenis, YA, adultos, eróticos, "alta literatura", pulp, terror, thriller, aventura, fantasia, ficção científica, especulativa, distopias, etc. Livros físicos ou e-books. Dependendo do caso posso analisar um livro de não-ficção, mas me reservo o direito de recusar se o assunto não for de meu interesse. Não resenho auto-ajuda ou livros religiosos nem sob ameaça. Também não analiso livros técnicos e didáticos. Poesia também não. Não insista.

- Você faz leitura crítica de originais?
Faço, mas não neste espaço. Leitura crítica, copidesque, script doctoring e outros serviços editoriais para originais e autores são feitos sob encomenda, e cobrados de acordo. Aqui só faço resenhas de livros já publicados. Caso seja esse seu interesse, entre em contato por e-mail.

- O que será analisado na resenha?
Em minhas leituras os seguintes elementos são analisados:

  1. Técnicos: Estrutura, linguagem, ritmo, coerência, etc.
  2. Narrativos: trama, ideia, desenvolvimento, etc.
  3. Editoriais: Capa, contra-capa, acabamento, tipografia, etc.

Estes fatores poderão ou não entrar na resenha, dependendo de sua relevância. Todos estes elementos serão analisados de forma isenta e, sobretudo, sincera. Assim serão expostos os pontos positivos e negativos da obra.

- O que significam aquelas pílulas no final da resenha?
É uma nota de avaliação final do livro, levando em conta todos os fatores analisados na resenha. É mais uma referência visual rápida do que outra coisa. Elas significam:

Excelente
Muito Bom
Bom
Medíocre
Ruim
Abandonado

- Pera aí! Você vai publicar resenhas até dos livros que abandonou a leitura?
Vou. Todos os livros que forem enviados terão sua chance e serão avaliados. Até mesmo aqueles que eu abandonar a leitura, por qualquer motivo que seja (desde que a culpa seja da obra, não minha, bem entendido). Nestes casos a resenha justificará o abandono, utilizando os fatores de análise já citados e outros fatores que possam aparecer. Por exemplo: caso eu descubra que o livro que estou analisando é uma releitura de Mein Kampf, ou um tratado racista e/ou homofóbico permeado de discurso de ódio. Ou por uso insuportavelmente ruim da gramática e ortografia. Ou mesmo por ser apenas entediante. A vida é muito curta pra perder tempo com um livro que não merece.

- Quanto custa para ter meu livro resenhado?
Nada. Quero dizer, você não precisará pagar nada para mim. O único custo será o do envio do livro para resenha.

- Quanto tempo levará para você publicar a resenha?
Depende. O tempo entre início da leitura e finalização da resenha será, em média, de um a dois meses, mas vários fatores podem influenciar neste prazo. Como disse na pergunta anterior, não ganho nada pra fazer as resenhas, então elas irão sair quando forem sair. A fila de leitura será por ordem de chegada. Assim que eu começar a leitura de seu livro irei avisá-lo por e-mail. Meu próximo contato será apenas para avisar sobre a publicação da resenha. Não adianta cobrar, ligar, pressionar, fazer chantagem emocional, subornar, ameaçar de morte, etc. Aliás, cada vez que você cobrar pela resenha de seu livro ela irá automaticamente para o fim da fila. Sério, não me encham o saco. Faço isso por (e com) prazer. Caso vire uma dor de cabeça paro de fazer. Simples assim. Tenha paciência.

- Te dei um livro de graça pra ler e você só falou mal dele. Você não vai com a minha cara?
Como eu disse antes, seu livro será analisado por fatores técnicos, narrativos e editoriais. E as análises serão SEMPRE isentas e sinceras. Lembre-se: não estou analisando o autor, mas sim sua obra. Se seu livro for ruim ele receberá uma resenha ruim, mas sempre argumentada nos fatores citados (e outros que possam ser relevantes). Seja maduro e aprenda a aceitar uma crítica negativa. Não é o fim do mundo. Caso você discorde da resenha (é um direito seu) estou aberto a discuti-la, seja na caixa de comentários, seja por e-mail. Mas vamos manter o foco do debate na obra e na resenha. Ataques pessoais a mim ou qualquer outra pessoa serão sumariamente excluídos.

- Posso copiar a resenha e colocar em meu blog/página pessoal/perfil do Facebook?
Não. Isso é plágio, mesmo citando a fonte. Pode colocar um link para a resenha, e utilizar um pequeno trecho dela para atrair seu público. Mas não copie e cole. As resenhas poderão ajudar na divulgação de seu livro, mas são o meu trabalho. E são protegidas por direito autoral.

- O que você vai fazer com o livro após a leitura?
No momento vou colocá-lo em minha estante. Livros enviados não serão devolvidos. Tenha isso em mente antes de enviá-lo.

- Ok, concordo com as regras. Como eu faço para enviar meu livro pra você?
Entre em contato comigo por e-mail, DM do Twitter ou pelo Facebook, solicitando o endereço de envio. Envie também uma breve sinopse da obra (pode ser o texto de quarta capa ou orelha). NÃO ENVIE O ARQUIVO POR E-MAIL! Como já disse, apenas faço resenha de livros já publicados, e fatores editoriais também contam na avaliação. No caso de e-books, apenas envie o gift (ou coisa semelhante) após eu aceitar fazer a resenha. É sério. Não quero problemas com editoras me acusando de roubo, pirataria ou coisa parecida.

[Atualização 17/03/2014] 

A Amazon BR, diferente das filiais de outros países, não possui a opção de envio dos livros como gifts (presentes). Sendo assim, caso seu livro tenha sido editado APENAS em formato digital, e você quiser que eu o resenhe, vou adquirir seu livro. Para contos avulsos e novelas não haverá a necessidade de reembolso (a tarifa do DOC é maior que o valor individual do e-book). No caso de livros, será feito um estudo caso a caso.

Aliás, fica aqui o puxão de orelha na Amazon BR. A possibilidade de dar e-books de presente é algo que já existe dentro da própria empresa. Por que não implantar essa alternativa por aqui?

[Fim da atualização]

- Não gostei dessas regras! O que eu faço?
Não mande seu livro. Olha que fácil!

É isso. Nada muito complicado. Ao enviar um livro para que eu faça a resenha você estará automaticamente concordando com esses termos, e não pode alegar ignorância. Depois não adianta reclamar.

Um grande abraço,
Alexandre Heredia

11 março 2014

RESENHA: Zon, o Rei do Nada, de Andrei Simões e Lupe Vasconcelos

Título: Zon, o Rei do Nada
Autores: Andrei Simões (texto) e Lupe Vasconcelos (ilustrações)
Páginas: 239
Editora: Empíreo
Ano: 2013

Quem nunca se olhou em um espelho e, subitamente consciente de sua incapacidade de tomar as rédeas de sua própria realidade, questionou sua existência no universo? É isso que Zon faz aos quarenta e um anos de uma vida maçante e comum. A diferença é que ele chega a uma conclusão surpreendente: ele é um personagem de um livro, fazendo assim parte de uma tríade, junto com Aquele que Escreve e Aquele que Lê. Assim, sua realidade é uma não-realidade e sua existência é uma não-existência. Ele é na verdade um Paradoxo, ou seja, ele não sabe o que é; apenas que não é.

É este paradoxo que irá permear todas as histórias que compõe o intrigante romance fix-up de Andrei Simões e Lupe Vasconcelos. A epifania de Zon o liberta, e ele “sai” da mente d’Aquele que Escreve e torna-se um parasita, uma não-criatura que invade as mentes d’Aqueles que Leem, desta maneira alcançando uma suposta imortalidade existencial. Durante sua jornada pela psique alheia ele navegará entre gêneros literários (fantasia, pulp, terror, realismo, ultrarrealismo), encontrará outras não-criaturas, deuses e dragões, conversará com seu criador e até mesmo testemunhará a própria morte (que não o mata, pois algo que não é não pode morrer).

O texto de Andrei Simões não faz concessões ao leitor, ora nos jogando a paisagens complexas e oníricas, ora nos esbofeteando com uma realidade fria e cinza, mas sempre tendo como fio condutor a busca existencial do protagonista. Seus questionamentos não são de fácil digestão, e nenhuma resposta pronta é oferecida como alento. São dúvidas psicológicas, teológicas e existencialistas, por vezes um tanto óbvias, mas muitas vezes perturbadoras. Em certo momento a sequência de eventos é tão confusa que parece que o autor perdeu a mão, mas ele mesmo surge metalinguisticamente e retoma as rédeas da história.

Introduzindo cada conto há sempre uma bela ilustração em nanquim de Lupe Vasconcelos, que, diferente do que se possa imaginar, apenas enriquece a leitura, dando o tom correto à narrativa que se seguirá. Em algumas ilustrações é possível ver que ela utilizou elementos do texto, mas em outras há mais um reconhecimento do sentimento emanado pela história. A sinergia texto/ilustração é orgânica, o que torna a decisão de fazer um livro ilustrado corretíssima.

“Zon, o Rei do Nada” não é um livro fácil. E nem deveria ser, dado os temas que aborda. Mesmo assim sua estrutura episódica e não linear facilita a leitura, e os contos são curtos o suficiente para que se possa apreciar cada pílula existencial na dose correta. É possível ver ali influências clássicas (Dante, Goethe e Milton são as que me vem à mente) e mais recentes (a mais óbvia é Sonho, de Neil Gaiman), mas nada que tire a originalidade da obra. Muito pelo contrário. É um livro interessantíssimo e que deve ser apreciado com a calma que suas questões merecem.

Nota: