12 fevereiro 2010

(Banho de) Chuva de Verão


Escurece.
(Aí vem ela)
Faísca
e ronca.
Pinga.
Pinga.
Pinga, pinga, pinga.
E brilha
E geme
E treme
E cai.
Bate, molha, respinga.
(Onde você vai?)
E aumenta. E sopra. E uiva. E assovia.
E brilha!
E quebra!
(Esse caiu perto)
E encharca. E alaga. E retumba.
E derruba. E balança. E sacode.
E assusta.
E carrega.
E lava.
Enxágua.
Diminui.
Escorre.
Esvai.
E acaba.
(Tem uma toalha?)

02 fevereiro 2010

Tarantino e a mediocridade narrativa

Finalmente assisti a tão alardeada "obra prima" de Quentin Tarantino, Inglourious Basterds (ou, como foi traduzido por aqui, Bastardos Inglórios).

E qual foi o meu veredito?

Decepção completa.

O filme é uma porcaria. Não em termos técnicos. A direção de arte é primorosa. A edição espetacular. A fotografia belíssima. Mas tudo isso em cima de um roteiro rasteiro, pedante, auto indulgente, com personagens rasos como uma pizza e um "arco dramático" pra lá de imbecil. Fora as atrocidades históricas que deveriam levar qualquer pessoa que estudou o MÍNIMO da Segunda Guerra Mundial no colégio a arrancar os cabelos em desespero. Não, não estou exagerando.

O que levou Tarantino a produzir uma bomba como essa? Nunca o considerei um grande expoente cinematográfico, mas seus filmes anteriores tinham seus méritos. Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) era interessante. Pulp Fiction (1994) trazia finalmente para o cinema pop a narrativa não linear (e um pouco da irreverência de Cães de Aluguel). Até mesmo a "bilogia" Kill Bill (2003) acertava no quesito divertimento, justificando seus exageros pelo tom farsesco da trama. Nada genial, nada revolucionário, mas no fim das contas funcionava.

Daí veio essa porcaria que é Inglourious Basterds. Nele vemos um Tarantino descontrolado, abusando de longos e maçantes diálogos (que, dizem, é seu ponto forte), cenas absurdas injustificadas e toneladas de referências jogadas sem a menor necessidade. Tarantino acreditou piamente que qualquer bobagem que ele escrevesse seria tratada como um produto de uma mente genial. Pelo burburinho da mídia percebemos que ele tem razão. Mas a mim o senhor não engana, Tarantino.

Sua obra pode ser comparada a um Ovo Fabergé: uma casca linda de se ver, mas vazia de significado, sentido ou qualquer sombra de relevância. É um filme que se sustenta num "estilo" pretensioso e oco. Um exercício de estilo pelo estilo, pura e simplesmente. Uma obra que nada se tira e nada se leva. Completamente descartável. Após tantos anos ouvindo de todos os lados exaltações a sua "genialidade" posso dizer a plenos pulmões: Tarantino, você é uma fraude. Sua máscara finalmente caiu.

Quando terminei de assistir ao filme, em meio a raiva e a frustração por ter desperdiçado duas horas de minha vida nessa porcaria, pensei em todas as críticas positivas que ouvi antes de assistir o filme. Pensei comigo mesmo: "Será que só eu vejo o quão ruim é esse filme?".

Aparentemente sim.

Daí fiz uma analogia que sempre faço. Cada vez mais vejo escritores iniciantes "vestindo a camisa" de um estilo x ou y. "Ah, eu escrevo sobre vampiros". "Ah, eu escrevo ficção científica¨. "Ah, eu escrevo fantasia". E blá, blá, blá, etecétera e tal. Não estou criticando os (poucos) bons escritores de gênero dessa nova geração que estamos vendo despontar. Escritores que optaram escrever em determinado gênero, mas não se limitam a ele. Falo sim dos autores que praticamente xerocam seu livro predileto. Esquecem que toda boa história tem um TEMA.

Não basta me dizer que você escreve "histórias de vampiros". Vampiros não são tema. São alegoria. Nem que você escreve "histórias de FC". Ficção científica é muito mais que naves espaciais, armas laser e alienígenas exóticos. É um estudo que pode ser sociológico, futurólogo e até mesmo psicológico, utilizando cenários futuristas apenas para ilustrar esses temas.

E o que é um tema? De acordo com Milan Kundera em seu "A Arte do Romance" (1986, Companhia de Bolso), um tema é "uma interrogação existencial". É algo que mira para além da superfície, que lida com temas profundos da existência humana. São os sentimentos, as emoções. Eu não escrevo terror. Eu escrevo histórias de amor, de coragem, de sacrifício, lido com o medo, as fobias, a consciência, as frustrações do leitor. Todo o resto são decisões de estilo para que o leitor receba aquele tema de maneira eficiente quando terminar de ler. Que o faça pensar. Toda boa história deve ser epifânica. Tendo vampiros, lobisomens ou caçadores de nazistas nela ou não. Escrever bem vai muito além de acertos ortográficos ou gramaticais (estes são valores essenciais). Escrever é uma arte. E toda arte deve transmitir alguma coisa a seu receptor. Ou então sua história será como o filme de Tarantino: uma casca de ovo belamente decorada, mas recheada apenas de mediocridade.

E fadada ao esquecimento