05 janeiro 2010

Boceta - Ensaio Étimo-Ginecológico

boceta (ê)
s. f.
1. Pequena caixa de fantasia.
2. Cal. Vulva.

boceta de Pandora: origem de todos os males.



Quando somos crianças é simples. Menino é diferente de menina pois menino tem pipi. Fácil assim. Você é menina? Então você não tem pipi. Moleza. Nem cogitávamos nomear o que era aquele não-pipi que elas tinham. E também pouco interessava o tipo da torneira que elas usavam para urinar. Filosofia infantil é tão etérea quanto brigadeiro de festa.

Crescemos e começam as crises de identidade. Já ouvi dezenas de nomes diferentes. Alguns tentando debilmente imitar a sublime simplicidade de sua contra parte (“pipinha”, “xaninha”), alguns fazendo obscuras alusões a animais (“periquita”, “perereca”), outros bizarros e fadados à galhofa que nem merecem citação. Até que finalmente elas encontram uma que todas adotam até o princípio da puberdade.

Xoxota.

De minha parte acho um nome feio para algo tão bonito. Felizmente com o passar do tempo este termo também cai em desuso, sendo usado apenas em legendas malfeitas de filmes pornôs idem (“Oh, baby, lambe minha xoxota...”). Depois começa a fase ginecológica. É vagina mesmo. Parece nome de doença. Talvez resquício de uma sociedade patriarcal, mas analisar isso foge do objetivo deste texto. Vagina é uma denominação genérica. Até minha avó tem vagina. Definitivamente é um nome que não diz nada.

Mas nós, meninos, sabemos como chamá-la antes mesmo de saber o que fazer com ela. O nome sempre surge, murmurado por um tio, engasgado por um colega que ouviu de outro colega que tampouco sabe o que é. Mas sabemos que é ali que devemos nos concentrar. É ali que devemos entrar com nosso ex-pipi (agora já denominado “pau”, “pinto”, “cacete” e, glória das glórias, “caralho”). Mesmo que no começo confundamos o chumacinho de pelos que a recobrem com a propriamente dita.

Quem?

A Boceta.

Acabamos descobrindo-a aos poucos. Um sentido de cada vez. Primeiro é o tato. Dedos trêmulos invadindo uma calcinha. Roçando pelinhos pubentes. Tocando as bordas exteriores. Sentindo o calor. Depois a visão, quando finalmente fugimos dos cantos furtivos e as despimos na intimidade. O olfato é aproveitado apenas segundos antes do paladar. A audição é atiçada quando ouvimos o delicioso chec-chec úmido de nossas carícias. Todos os sentidos em um único ponto.

E quando descobrimos que aquele único ponto tem diversos outros pontos? Lábios externos, lábios internos, clitóris... Cada ponto, cada reintrância deve ser tocado, acariciado, aproveitado. Nada como uma boceta bem tratada para arrancar gemidos de suas profundezas. Penetre-a com carinho na primeira vez. Em todas as primeiras vezes. Depois apenas siga seu ritmo. Ela que manda. Ela que guia. Sinta-a. Ouça-a. Ela sabe o que faz.

E quando ela sabe, você sabe.

E quando você sabe, elas voltam.